Em Pinheiros, um dos bairros de São Paulo que reúne grande variedade de opções gastronômicas e onde novidades surgem com frequência, a Nunes Parrilha acaba de adicionar um capítulo inédito: um omakase dedicado exclusivamente às carnes. A experiência – batizada de Omakase El Asador – traduz o formato japonês de menu degustação para um universo profundamente sul-americano, guiado pelo parrilheiro Pedro Nunes, que fez do fogo sua linguagem e da carne um relato de origem.

“O Nunes Parrilha surgiu para oferecer um pouquinho de felicidade, um pouquinho do que eu sempre fiz em casa”, conta Pedro, ao relembrar as raízes do restaurante inaugurado há pouco mais de três anos e meio. A proposta nasceu da vontade de transformar a experiência do churrasco em família em um espaço de encontro – um lugar onde o visitante pudesse viver “um momento especial que levasse para casa com carinho no coração”, como descreve o parrilheiro.

Mais do que cozinheiro ou restaurateur, Pedro se define como um intérprete do fogo. Sua relação com a carne vem de memórias de campo e de rituais familiares que ultrapassam a técnica. “O fogo tem uma energia capaz de unir as pessoas. Não só aquece o corpo, mas o coração e a alma”, costuma dizer, explicando por que a parrilla é, para ele, uma filosofia de vida.

Pedro nasceu no interior de São Paulo, mas foi em Curitiba que esse vínculo se consolidou: ali aprendeu a ver o churrasco como ocasião de encontro e começou a aprofundar sua relação com a carne. Em seguida, explorou as raízes do Sul (do Brasil à Argentina e Uruguai), especializando-se nas técnicas da parrilla e nas diferentes expressões do terroir.

Esse percurso o trouxe a São Paulo, onde fundou a Nunes Parrilha com a ideia de reproduzir a mesma felicidade dos churrascos de casa: comida bem feita, calor humano e conversa em volta da brasa.

No salão, a parrilla aberta é o centro gravitacional. No piso superior, porém, nasce a nova fase da casa.

O espaço do El Asador, inaugurado recentemente, surgiu a pedido dos clientes – tanto para eventos mais reservados quanto para uma experiência mais próxima do parrilheiro. É ali que Pedro assume integralmente a condução: acende o fogo, grelha, serve e narra cada etapa. “Aqui em cima, sou sempre eu que fico na parrilla. Para contar as histórias, explicar de onde vem cada carne e traduzir todos os sabores que trazemos de forma única aqui”, diz.

O menu degustação reúne dez etapas e se diferencia da operação do salão principal. Se lá o foco é o Angus argentino certificado, no El Asador a proposta é viajar por raças, origens e modos de criação distintos. Pedro traz cortes de Argentina, Uruguai e Brasil, sempre ressaltando como pasto, clima e solo moldam o terroir da carne – um conceito reforçado em suas visitas constantes a criadores e frigoríficos dessas regiões.

“Tenho muito prazer em saber de onde cada carne veio. Conheço a fazenda, o produtor, o frigorífico. Sei a história dela toda”, afirma.

A composição do omakase varia conforme a ocasião. Na visita do Bom Gourmet à casa em novembro, alguns cortes chamaram atenção. Entre eles, a maminha de vaca velha wet aged – uma Montana de oito anos, maturada a vácuo por 40 dias, servida com vellutata de beterraba e farofa de bacon.

Outro ponto alto foi o Prime Rib MUGE, corte argentino de marmoreio elevado, assado com osso e considerado por Pedro o melhor exemplo de sua parrilla. O corte é um dos grandes símbolos da parceria da Nunes com a MUGE, frigorífico argentino com quem a casa mantém exclusividade.

O vínculo afetivo com a arte da parrilla também aparece na ambientação do espaço. Em uma das paredes, um quadro mostra Pedro a cavalo, ao lado de sua cachorra, em uma fazenda que frequentava. “É realmente uma extensão minha aqui dentro”, admite.

O El Asador nasce como uma experiência única e intimista, que aproxima os amantes da carne não apenas de um belo corte, mas de toda a cultura que envolve a parrilla – a arte de conduzir o fogo, de ler o tempo da carne e de transformar a brasa em convivência. É um espaço pensado para reunir pessoas em torno do calor da churrasqueira, onde a conversa se mistura ao aroma e cada corte ganha sentido quando explicado por quem conhece sua história desde a origem.

A experiência se torna ainda mais completa com o serviço opcional de harmonização de vinhos, pensado exclusivamente para esse formato. Predominam rótulos argentinos – muitos deles selecionados por especialistas ligados às grandes vinícolas do país – que dialogam naturalmente com a intensidade da carne e acentuam nuances de sabor a cada etapa. É um detalhe que não compete com o protagonismo do fogo; ao contrário, o enobrece, elevando a experiência a um patamar mais sensorial.

E, se o futuro vier a reservar a Pedro uma nova etapa, talvez ela passe por dominar também a criação – ampliando a autenticidade e a transparência que já são marcas da Nunes Parrilha. Enquanto esse horizonte não se desenha, o omakase confere à Nunes Parrilha um novo status e propõe um ritual da carne em Pinheiros: um lugar onde técnica e conhecimento sobre a origem se transformam em parte essencial do prazer de comer, tudo em um ambiente que preserva a intimidade da experiência – seguindo o propósito do parrilheiro desde sempre: criar momentos que permanecem na memória em torno da parrilla.