Negócios e Franquias
Produtora de alimentos plant based NotCo prevê forte expansão no Brasil após reforma tributária
A discussão da reforma tributária brasileira, que só deve sair do papel no ano que vem, está movimentando não apenas a cena política do país. O setor de food service está de olho no que deve mudar no emaranhado sistema de impostos do país, carregando bandeiras próprias que podem ajudar no aumento do consumo principalmente de alimentos substitutos a proteínas animais.
Pelo menos é nisso que aposta a foodtech chilena NotCo, presente no Brasil desde o começo de 2019 com seus produtos desenvolvidos em laboratório que substituem alimentos como leite e carne bovina. A marca está engajada em abrir a discussão sobre a diferença de tributação que suas criações têm com produtos tradicionais que já existem no mercado.
É o que explicou o presidente da NotCo no Brasil, Luiz Augusto Silva, durante o Open Food Innovation Summit, na última semana, e depois em entrevista ao Bom Gourmet Negócios. De acordo com ele, não faz sentido a alimentação vegetal ser tão mais cara no Brasil do que em países da América do Norte e da Europa, por exemplo, por causa da tributação excessiva.
“Se você pegar o leite que está no estado de São Paulo, que é envasado e distribuído em São Paulo, e comparar com uma bebida alternativa vegetal, ela custar 4.7 vezes mais [por causa] de impostos, começa aí a discussão. Em países da Europa ou nos Estados Unidos, a tributação é muito parelha. Aqui ao tornar esses produtos mais caros, eles têm uma presença menor no mercado”, diz.
A tributação excessiva, inclusive, foi o motivo da NotCo entrar definitivamente no mercado nacional há quase dois anos. Antes disso, os alimentos eram importados do Chile pela rede de supermercados Pão de Açúcar, mas o preço final era tão impraticável que a marca decidiu fincar os dois pés no Brasil – além de ser um mercado promissor na América Latina.
Competição sustentável
No entanto, segundo Silva, a indústria de alimentos vegetais alternativos ainda sofre da dificuldade de manter uma produção sustentável. Para ele, já há uma competição saudável, com uma boa variedade de players -- mas nem todos eles com as contas em dia.
“Tem concorrência, mas os preços não baixam. Muitas dessas empresas operam perto do break even (ponto de equilíbrio) ou abaixo do zero, mas continuam porque veem um futuro promissor, mas tudo depende da reforma tributária”, diz.
A questão aqui é da competição de todos os
produtores de alimentos alternativos com a “grande indústria”, como ele classifica
a indústria alimentícia tradicional. Luiz Augusto Silva compara o consumo de
leite de vaca, por exemplo, com o vegetal, e como isso poderia ser aumentado
caso a tributação fosse menor.
produtores de alimentos alternativos com a “grande indústria”, como ele classifica
a indústria alimentícia tradicional. Luiz Augusto Silva compara o consumo de
leite de vaca, por exemplo, com o vegetal, e como isso poderia ser aumentado
caso a tributação fosse menor.
“A briga aqui não é pela fatia do bolo, e sim pelo tamanho do bolo, que as pessoas realmente migrem de produtos. O leite vegetal tem um consumo mil vezes menor do que o de tradicional, são sete mil litros contra sete bilhões de litros”, pondera.
Embora não revele números, a NotCo diz estar crescendo ininterruptamente desde que fincou os pés no Brasil. A expansão por mais mercados do país além dos já conquistados Sudeste e Sul se dá dentro de um aporte de US$ 85 milhões (R$ 474 milhões) que recebeu no mês passado de quatro fundos de investimento.
Amplo desenvolvimento
Parte do montante investido foi usada na recente abertura do Why Not, um restaurante em São Paulo que serve produtos da marca pelo aplicativo de delivery iFood, como o hambúrguer plant based, o frango vegano e o sorvete vegetal (Not Icecream).
O presidente da NotCo no Brasil explicou que a companhia tem, em média, 10 receitas sendo produzidas diariamente com as mais diversas combinações de alimentos que resultem em substitutos fiéis aos produtos tradicionais de proteína animal. Luiz Augusto Silva ressalta que há mais de 35 mil famílias de plantas comestíveis, mas que apenas um décimo delas é efetivamente explorado.
“Levamos 18 meses para desenvolver a maionese (Not Mayo), 10 meses para o leite (Not Milk), e assim por diante. Estamos acelerando o processo de desenvolvimento de novos produtos, eliminando completamente o uso animal na produção”, conta ressaltando que, diferente de outras foodtechs que desenvolvem carne em laboratório, por exemplo, a NotCo utiliza apenas ingredientes vegetais recombinados para criar novos alimentos.
A empresa criou o Giuseppe, um algoritmo digital que estuda molecularmente tudo o que vem das plantas e como recombiná-los para gerar uma nova experiência alimentar para os humanos. Ele lembra que o mercado mundial de produtos saudáveis tem um faturamento na casa dos US$ 450 bilhões (R$ 2,5 trilhões), mas que pode alcançar a cifra de US$ 2,7 trilhões até o ano de 2040 segundo a consultoria de pesquisa e inteligência de mercado CB Insights.