Negócios e Franquias
Lojas de conveniência evoluem para novos formatos operados por bares e supermercados
As lojas de conveniência dos postos de combustíveis e pequenos comércios de rua aos poucos estão ganhando uma nova cara e ficando cada vez mais parecidos com supermercados e até mesmo bares e restaurantes. Uma tendência que começou pontual há pouco mais de sete anos nas grandes capitais brasileiras está tomando um formato inovador desde o início da pandemia, com a operação de grandes marcas disputando a atenção dos consumidores.
A abertura recente de uma loja da rede paranaense de supermercados Condor em um posto de combustíveis de Curitiba é apenas um dos exemplos que vem surgindo no restante do país, como a evolução das lojas AmPm para fora dos postos com lojas de proximidade, e a mexicana Oxxo, com pequenos mercados de vizinhança. A elas se somam investidas grandes do Carrefour Express, Pão de Açúcar Minuto e Mini Extra, que expandiram as operações pelo Sudeste no ano passado – juntas somam 358 lojas.
Mas não só as grandes marcas do varejo que estão enxergando nas lojas de conveniência um novo canal de vendas. Redes de restaurantes como o Madero, que inaugurou recentemente uma parada de beira de estrada, e Água Doce Sabores do Brasil, que lançou um novo formato de operação, também estão vendo que o consumidor quer cada vez mais praticidade e agilidade nas suas necessidades do dia a dia.
Para o consultor Marco Amatti, da Mapa Negócios em Alimentação Fora do Lar e responsável pela FCSI no Brasil (Foodservice Consultants Society International), é uma tendência de concentrar em um único espaço tudo o que o consumidor precisa sem tomar muito tempo. É um formato que envolve características surgidas ao longo da pandemia, como o drive thru, o drive in (ser servido praticamente na porta do carro) e o walk up window (acessar o mínimo possível da loja).
“É um hábito que já vinha se desenvolvendo antes da pandemia e que se consolidou no ano passado, com as pessoas querendo exatamente isso, a conveniência e a praticidade. É o mínimo de contato possível com outras pessoas e ter tudo o que realmente precisa à mão”, diz.
A expectativa de especialistas em mercado é de que este formato de operação tenha uma forte expansão ao longo deste ano, com a entrada de mais operadores neste formato de loja.
Agilidade e rapidez
Maurício Bendixen, diretor de operações da rede varejista paranaense Condor, diz que esse comportamento do consumidor foi sendo estudado ao longo de todo o ano passado tanto nos supermercados como nos postos de combustíveis administrados por ela. E ele viu uma necessidade que, diferente do que se poderia imaginar, não canibaliza uma operação da outra.
A loja de conveniência “turbinada” do Condor funciona a 400 metros de um dos supermercados da marca, mas sem afetar o movimento. Para ele, são duas operações bem diferentes, com diferentes propósitos.
“O mercado no posto de combustíveis é para aquelas pessoas que precisam parar muito rapidamente, comprar apenas o necessário e já ir embora, sem perder tempo, enquanto que no mercado elas vão para as necessidades maiores da semana ou do mês. E no posto ela tem o que precisa para o dia e ainda pode aproveitar para tomar café da manhã, fazer um lanche da tarde e até mesmo jantar”, diz.
A primeira e única loja, por enquanto, custou R$ 1,5 milhão e será usada como um modelo piloto para novas aberturas – todas próprias da rede. Por outro lado, a marca deve ganhar a concorrência da mexicana OXXO até o próximo ano, que está com um plano agressivo de chegar a 190 lojas na região Sudeste e no Paraná.
À agência Reuters, o presidente-executivo do Grupo Nós, Rodrigo Patuzzo, afirmou que vê o Brasil com um enorme potencial para este tipo de operação, que ainda é muito pulverizado e conta com poucos concorrentes. A rede já tem 19 mil lojas na América Latina.
"Se tudo der certo, em outubro do próximo ano [2021] já vamos colocar um pezinho no nosso segundo Estado", disse no final de 2020 sem detalhar exatamente onde serão as próximas lojas.
Patuzzo não deu projeções de
faturamento, mas disse que cada unidade custa em torno de R$ 750 mil em
investimentos incluindo capital de giro.
faturamento, mas disse que cada unidade custa em torno de R$ 750 mil em
investimentos incluindo capital de giro.
“Essa tendência das lojas de conveniência já vem em São Paulo há uns sete anos, quando os próprios supermercados viram uma mudança de hábitos dos consumidores, de pararem de fazer as grandes compras do mês para compras mais fracionadas, e das pessoas não pegarem mais o carro para ir ás compras. E as próprias lojas vão adaptando seus mixes de acordo com a realidade socioeconômica de onde está localizada”, completa Marco Amatti.
Ele cita, por exemplo, a rede paulista Hirota Food Express, que foi uma das primeiras a abrir neste formato há quase uma década e já soma 21 unidades em São Paulo.
Restaurantes também querem
A investida recente da rede de hamburguerias e restaurantes Madero também mostra como estes operadores estão de olho neste tipo de operação. Junior Durski investiu R$ 40 milhões em uma parada de beira de estrada com um complexo que reúne as bandeiras Madero e Jerônimo e ainda um empório com pratos caseiros prontos para levar, produtos empacotados e enlatados, entre outros.
“Enxergamos um potencial neste tipo de negócio que faltava nas principais rodovias do Brasil, atendendo as necessidades de diferentes públicos e a forte demanda deste segmento de negócios”, disse.
É o mesmo potencial visto no horizonte pela rede de restaurantes Água Doce Sabores do Brasil, que abriu recentemente a primeira unidade do novo projeto de loja de conveniência aliada ao delivery de bebidas, com bar para petiscar e loja de produtos de churrasco.
Localizada na cidade de Tupã, no interior de São Paulo, a Água Doce Conveniência surgiu durante a pandemia do coronavírus por causa do fechamento de boa parte das operações da rede. A expectativa é de que este novo formato incremente o faturamento mensal na casa dos 30% quando estiver bem amadurecida.
Julio Bertolucci, diretor de
franquias da marca, afirma que pretende expandir o formato para toda a rede da
Água Doce Sabores do Brasil, que conta atualmente com 22 lojas. No entanto, o
modelo ainda não será franqueável.
franquias da marca, afirma que pretende expandir o formato para toda a rede da
Água Doce Sabores do Brasil, que conta atualmente com 22 lojas. No entanto, o
modelo ainda não será franqueável.
“Seguiremos com uma loja somente, por enquanto. Está cedo para estimativas. Vai depender do amadurecimento dos processos, mas os resultados iniciais nos direcionam para uma expansão rápida e próspera”, diz.
Bertolucci explica, ainda, que este novo formato de operação só foi possível a partir de negociações favoráveis específicas com os fornecedores da marca, numa espécie de “todos se ajudarem”.
A rede já vem investindo em novos canais de venda desde o ano passado, quando lançou um novo modelo de franquias de lojas menores com investimento mais baixo. Na época, a Água Doce colocou no mercado a operação Express, com um investimento de R$ 240 mil, que pretende chegar a 50 lojas até 2025.