Negócios e Franquias
Franqueador x franqueados: como essa relação mudou com a pandemia
Não existe padrão quando o assunto é falar da relação entre franquias e seus franqueados. Cada negócio se estrutura e se organiza de forma a obter mais resultados positivos e isso pode variar muito. No entanto, independentemente de como se estruturavam ou organizavam, marcas ao redor do mundo tiveram que rever suas atividades para enfrentar os desafios que a pandemia do coronavírus desencadeou.
No Brasil, no que diz respeito às relações entre as duas pontas de uma franquia, a situação mudou bastante e, segundo franqueadores e seus franqueados, a mudança foi para a melhor. É o caso, por exemplo, da Duckbill Cookies & Coffee, rede de cafeterias que tem mais de 70 unidades em funcionamento em 17 estados brasileiros. De acordo com o gerente nacional de operações da empresa, Marcos Cazella, antes da pandemia, a relação com os franqueados era muito automática, o que acabava mitigando as relações humanas.
“Nós entendemos que precisávamos nos abrir um pouco mais para que pudéssemos construir um caminho de melhora. No início, estávamos tentando entender o que ia acontecer e vimos a necessidade de conversar com os nossos franqueados para entender os receios deles e também suas perspectivas. Precisávamos, acima de tudo, compreender as diferenças de cada região do país e foi durante essa conversa que começamos a ter várias ideias sobre como proceder”, afirma Cazella.
Essa abertura, como explica o gerente, foi “essencial para que todas as lojas caminhassem no mesmo sentido”. A franqueadora optou pela redução dos royalties e recorreu a seus parceiros para negociar acordos referentes aos pagamentos de estoque. As negociações, para Gustavo Miyake, sócio-proprietário da unidade Juvevê, em Curitiba, foram de extrema importância para os franqueados.
“Como loja independente, não teríamos muita força de barganha para negociar com os fornecedores”, admite, “a redução do royalties também nos deu tranquilidade pois, ao fazermos o planejamento de fluxo de caixa, percebemos que não precisaríamos entrar em linha de crédito e nem demitir funcionários”.
Miyake ainda adiciona que a maior comunicação com a franquia reflete diretamente no cliente. “Nós estamos em contato direto com o consumidor final e, por isso, sabemos o que ele quer, mas é a franquia que tem o potencial de providenciar isso. Com uma relação mais estreita entre nós, conseguimos defender as vontades dos clientes com mais facilidade e eles ficam mais satisfeitos”.
Adaptação de produtos e delivery
Questões financeiras não foram as únicas alteradas na relação entre franquias e franqueados; várias estratégias para a comercialização de produtos tiveram que ser revistas, respeitando os diferentes decretos estipulados para cada região do país.
O sócio proprietário do Mr. Hoppy, Porks e Bar Quermesse, José Araújo Neto, afirma que, após estancar a situação financeira das marcas por meio da isenção de royalties às franqueadas e estipulação de outros acordos, precisou trabalhar na readaptação dos produtos de forma intensa.
“Nós flexibilizamos tudo o que podíamos para que os franqueados pudessem aumentar a receita. Mudamos nossa estratégia de marketing para poder vender mais no delivery e passamos a permitir que as lojas fizessem uso de aplicativos locais para realizar as entregas. Entendemos que precisávamos expandir esse canal de vendas com urgência e respeitar as demandas específicas de cada loja”, diz Neto.
Principalmente para as marcas Mr.
Hoppy e Porks, o sócio proprietário explica que precisou repensar produtos. “Nossas
marcas trabalham no formato de bar de rua e, por isso, nossos produtos não eram
adeptos do delivery. Então, montamos combos e adaptamos nossos preços para
atender esse canal”.
Hoppy e Porks, o sócio proprietário explica que precisou repensar produtos. “Nossas
marcas trabalham no formato de bar de rua e, por isso, nossos produtos não eram
adeptos do delivery. Então, montamos combos e adaptamos nossos preços para
atender esse canal”.
Os franqueados das marcas ficaram satisfeitos com as mudanças. Everton Nishii, franqueado do Mr. Hoppy, por exemplo, afirma que a flexibilização facilitou a venda para os clientes que, mesmo em momentos mais rígidos da quarentena, tiveram várias opções de produtos disponíveis em diferentes plataformas.
No entanto, apesar de perceberem
a força do delivery nesse momento, tanto os franqueados quanto o sócio proprietário
das marcas admitem estar ansiosos pela retomada pois ela significará o resgate
da cultura dos bares de rua, que oferece mais do que o produto; oferece a
experiência.
a força do delivery nesse momento, tanto os franqueados quanto o sócio proprietário
das marcas admitem estar ansiosos pela retomada pois ela significará o resgate
da cultura dos bares de rua, que oferece mais do que o produto; oferece a
experiência.
Retomada e a relação no pós pandemia
Tanto a franquia da Duckbill Cookies & Coffees quanto as das marcas administradas por José Neto irão manter alguns hábitos adquiridos durante a pandemia, principalmente no que diz respeito às relações com suas franqueadas. Ambos os proprietários afirmam que a retomada da cobrança integral dos royalties será feita de forma gradual, para que nenhum dos franqueados seja prejudicado.
“Nossos franqueados continuam sendo um dos nossos principais canais de venda porque é através deles que novas pessoas se interessam em abrir sedes das marcas. Num momento posterior à pandemia, espero que nossa relação de confiança se mantenha e possa se expandir ainda mais”, diz José Neto.
Seguindo essa linha de raciocínio, Marcos Cazella, da Duckbill Cookies & Coffees, diz que está arquitetando a formação de um Comitê de Franqueados, que funcionará por tempo indeterminado justamente para manter a aproximação da franquia com as lojas. “A ideia é que o Comitê unifique as demandas dos franqueados e repasse para nós. Assim, poderemos atender as necessidades com mais eficiência”.