Negócios e Franquias
Delivery de comida caseira une cozinheiras autônomas a clientes dos grandes centros
Uma ideia na cabeça e uma demanda a olhos vistos. Foi vendo a dificuldade que trabalhadores de grandes centros empresariais têm na hora de se alimentar, principalmente de pratos caseiros, que o publicitário Nelson Andreatta fundou a startup Eats for You, em 2018. A empresa faz a intermediação destes potenciais clientes com cozinheiras (os) autônomas (os) dispostos a cozinhar para fora e ainda faturar um troco a mais.
A plataforma funciona como aqueles aplicativos de caronas e, desde que foi criada, já vendeu mais de 120 mil refeições nos estados de São Paulo, Paraná, Mato Grosso e Minas Gerais. Isso representou faturamento na ordem de R$ 1,5 milhão para os cozinheiros.
A expectativa de Andreatta é expandir a base de produção, divulgando a alternativa com mais veemência fora da capital paulista, onde a startup surgiu.
“Além de revolucionar o sistema de produção artesanal, dando a ele uma escala industrial, a intenção da Eats é tirar muitos trabalhadores da condição informal, oferecendo a eles a chance de terem seu trabalho reconhecido e prestigiado”, conta.
Tia (o) da marmita
Por meio de um aplicativo, os “tios” e “tias”, como são chamados os cozinheiros da empresa, disponibilizam os cardápios do dia como em um marketplace. Os pratos são desenvolvidos e precificados pelos próprios cozinheiros.
As marmitas podem ser entregues pelo canal de delivery da empresa ou retiradas pelos próprios consumidores em um dos oito pontos de distribuição, estrategicamente posicionados perto de grandes empresas e condomínios.
Para os
cozinheiros, o processo de integração à plataforma é simples: basta entrar em
contato com a equipe da Eats e agendar uma visita, na qual um dos agentes irá
inspecionar o ambiente de produção e a qualidade da comida.
cozinheiros, o processo de integração à plataforma é simples: basta entrar em
contato com a equipe da Eats e agendar uma visita, na qual um dos agentes irá
inspecionar o ambiente de produção e a qualidade da comida.
“Temos três mil atualmente. No início eles ficaram apreensivos com a ideia de serem avaliados, mas os resultados geralmente são positivos, já que eles cozinham com maestria há tempos. Só que dificilmente levavam seus talentos para fora de suas casas e famílias”, afirma o fundador da Eats for You.
Ao final,
caso o produtor atenda as especificidades sanitárias e a demanda por “comida
caseira”, estará pronto para integrar a base da startup.
caso o produtor atenda as especificidades sanitárias e a demanda por “comida
caseira”, estará pronto para integrar a base da startup.
Efeito pandemia
Até o início
deste ano, o principal canal de vendas das marmitas Eats eram os pontos de
retirada. Contudo, a partir de março, com a migração de várias empresas para o
formato home office, alguns desses pontos ficaram inativos e a empresa
redirecionou seus esforços para o canal delivery, que também já era bem
consolidado.
deste ano, o principal canal de vendas das marmitas Eats eram os pontos de
retirada. Contudo, a partir de março, com a migração de várias empresas para o
formato home office, alguns desses pontos ficaram inativos e a empresa
redirecionou seus esforços para o canal delivery, que também já era bem
consolidado.
Para tios e tias que forneciam principalmente ou exclusivamente para os pontos desativados, o impacto na produção e na renda foi grande. Foi o caso de Maura de Oliveira, conhecida como tia Maura no aplicativo, que trabalhava como fornecedora dos pontos da Avenida Paulista e da Nubank.
Ela conta que foi selecionada para fornecer ali especificamente por morar perto, e porque suas marmitas eram as favoritas entre os clientes da região. “Eu sempre apostei em opções de cardápio leves e nutritivas. A comida saudável é uma tendência cada vez mais em alta e as pessoas apreciavam minhas marmitas nesses pontos”, diz.
Antes da pandemia, tia Maura produzia exatas 25 marmitas por dia e encarava o número fixo como uma vantagem, pois sabia exatamente quanto ganharia por mês. Mas, com o fechamento temporário de ambos os pontos por algumas semanas, a produção reduziu completamente.
Após esse período turbulento de pouca produção, Maura enxergou na pandemia uma alternativa para sustentar sua casa e contribuir para uma causa social: ela passou a integrar a equipe de produção da Eats voltada para os foodbanks, pontos de distribuição de marmitas solidárias.
“Eu recebi muitos pedidos para doação, estava produzindo uma média de 300 marmitas por semana. Foi um jeito de recuperar meu sustento e também fazer parte de algo maior. O cardápio era mais simples para as doações, pré-definido pela Eats, mas eu cozinhava com o mesmo carinho e qualidade que cozinho para a minha família”, diz Maura.
Agora, novamente, a cozinheira voltou a produzir pouco. Segundo ela, como a pandemia está durando muito, as pessoas estão mais cautelosas com seus gastos e as doação diminuíram.
Temporariamente, Maura deixou de atender pelo aplicativo e está focando na venda de marmitas pelo tradicional “boca a boca”, mas torce para que o funcionamento dos pontos fixos seja retomado para ela possa seguir com a mesma motivação de antes.
Mudança de planos
Enquanto a pandemia foi empecilho para que alguns cozinheiros dessem continuidade às suas atividades na Eats for You, para outros ela foi ainda mais motivadora. Karina Dal Bem, a tia Karina da plataforma, começou a preparar marmitas justamente quando a crise se intensificou no país.
Ao ser demitida do cargo de gerente de marketing, na empresa onde trabalhava, Karina se viu diante da necessidade de inovar na maneira de ganhar dinheiro. “Por que não inovar com algo que já estou acostumada a fazer?”, ela se perguntou.
“Cozinhar sempre foi algo que eu gostei e fiz bem, aprendi com minha mãe que também trabalhou com a produção de marmitas. Como gerente de marketing, eu trabalhava muito com a cabeça, agora o cansaço é mais físico, mas estou amando”, explica.
Além da mudança na rotina, Karina conta que teve que se adaptar às quantidades, pois estava acostumada a cozinhar apenas para si mesma e o marido, mas que isso não foi difícil.
Para ela, o reconhecimento que tem recebido da Eats e dos clientes através da plataforma é o que a motiva todos os dias a se aperfeiçoar na produção. “Tenho clientes que ficam a semana toda ansiosos pela minha feijoada de quarta-feira, é muito prazeroso ter meu trabalho valorizado”.
A expectativa da cozinheira é aumentar a produção cada vez mais e, segundo ela, não tem intenção de abandonar a profissão mesmo depois que o setor do marketing volte a se estabilizar.