Bom Gourmet

Michelin Tailândia 2026 revela novo três-estrelas e amplia lista de premiados

Dani Machado
28/11/2025 15:19
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Aconteceu ontem, em Bangkok, o lançamento do Guia Michelin Tailândia 2026 — justamente no ano em que o Michelin celebra 125 anos.
A nova edição trouxe dez restaurantes a mais no grupo dos estrelados, consagrou um novo três-estrelas, ampliou o grupo dos dois-estrelas e consolidou algo que quem está comendo na Tailândia já sabe: o país vive um dos momentos mais vibrantes da gastronomia mundial.
Do topo da pirâmide: agora são dois três-estrelas.
Até o ano passado, a Tailândia tinha apenas um restaurante três-estrelas, o Sorn — pioneiro em colocar a cozinha tailandesa contemporânea no ápice da avaliação Michelin.
Na edição 2026, esse topo ganhou companhia.
O Sühring, restaurante de cozinha alemã contemporânea comandado pelos irmãos Thomas e Mathias Sühring, subiu de 2 para 3 estrelas, tornando-se o segundo três-estrelas do país.
Eu almocei no Sühring nesta semana.
Quando anunciaram a terceira estrela no palco, foi impossível não conectar a premiação ao que eu tinha acabado de experimentar: uma cozinha precisa, sensível, madura — daquelas que não precisam se explicar. Era questão de tempo.

Os novos dois-estrelas — e a força da diversidade

O Michelin também premiou dois novos restaurantes com duas estrelas, ambos subindo de 1★ para 2★:
• Anne-Sophie Pic at Le Normandie — cozinha francesa contemporânea de altíssima precisão, apresentada por uma dupla afinadíssima: Anne-Sophie Pic e o chef japonês Tamaki Kobayashi.
• Inddee — restaurante indiano moderno que faz um passeio sensorial pelas regiões da Índia com narrativa forte, execução impecável e pratos marcantes, como o carabinero preparado na hora em homenagem a Goa.
É uma dupla que mostra o quanto a Tailândia abraçou cozinhas do mundo, sem perder a própria identidade.

Sete novos restaurantes com uma estrela

Foram sete novos 1★, divididos entre estreantes no guia e casas que subiram de “Selected”:
Estrearam já com 1 estrela:
• Bo.lan — que volta ao cenário com força, mantendo a filosofia tailandesa ancestral e sustentável.
• Cannubi by Umberto Bombana — Itália contemporânea com técnica e elegância.
• Etch/Etcha — cozinha “borderless”, autoral, que mistura técnicas europeias e ingredientes tailandeses.
Subiram de Selected para 1 estrela:
• Gaggan — agora estrelado novamente, com aquele espetáculo performático de 20 atos que só ele sabe fazer.
• Juksunchae — coreano contemporâneo, impecável em equilíbrio e técnica.
• Nusara — do chef Ton, um dos meus jantares desta viagem, com vista para o Wat Pho e uma cozinha tailandesa elegante, potente e afetiva.
• Sushi Saito — o mais rigoroso dos sushis no estilo Edo.
Ver o Nusara subir logo na semana em que jantei lá tornou tudo ainda mais especial — a cozinha do chef Ton tem a habilidade rara de equilibrar delicadeza, potência e identidade.

Sustentabilidade também tem estrela

A Green Star, que reconhece restaurantes com forte compromisso ambiental, ganhou um novo membro: o Goht.
Ele se junta aos já consagrados PRU, Haoma, Jampa e Baan Tepa, formando um grupo cada vez mais representativo da cozinha tailandesa sustentável.

Prêmios especiais: um olhar sobre a maturidade da cena

Pela primeira vez, a Tailândia ganhou o Michelin Mentor Chef Award, entregue ao chef David Thompson — figura essencial na formação da nova geração de chefs tailandeses, e dono do Aksorn (1★). Um reconhecimento simbólico, mas enorme, da influência dele.

Outros destaques:

• Young Chef Award: chef Mond, do Royd (Phuket).
• Opening of the Year Award: chef Wilfrid Hocquet, do Marco.
• Service Award: Arsen Brahaj, do Aulis.
São prêmios que mostram que o Michelin não está apenas olhando para o prato, mas para a construção de um ecossistema gastronômico sólido.

O que os números dizem

O guia deste ano traz 468 endereços selecionados, entre eles:
• 2 restaurantes três-estrelas
• 8 duas-estrelas
• 33 uma-estrela
• 137 Bib Gourmand
• 288 selecionados
É um crescimento que reflete a realidade daqui.
Ao caminhar por Bangkok, comer nos estrelados e no street food — do Potong ao Jay Fai — fica claro que a Tailândia cozinha a partir de uma identidade sólida, mas aberta ao mundo. É técnica, é afeto, é acidez, é história. E é uma cozinha que evolui sem perder a alma.
E, no fim do dia, o que fica?
Para mim, que cheguei aqui poucos dias antes da cerimônia e passei a semana comendo em lugares que subiram ou mantiveram suas estrelas, a sensação é de testemunhar um país que cozinha com coragem.
Da fine dining mais autoral ao wok incandescente da chef Jay Fai, que segue com sua estrela Michelin intacta, a Tailândia mostra que técnica, tradição e criatividade podem — e devem — caminhar juntas.
E ontem, no palco vermelho do Michelin, isso ficou mais claro do que nunca.