Mercado e Setor
Volta do horário de verão pode aumentar em até 30% faturamento de restaurantes
Cerca de 100 entidades representativas do setor de hospitalidade no Brasil se uniram para pedir ao governo federal que reveja o decreto que suspendeu o horário de verão em 2019. Encabeçado pela Federação das Empresas de Hospedagem, Gastronomia, Entretenimento, Lazer e Similares do Paraná (Feturismo), o movimento já tem a adesão de empresários da região Sul do país e dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.
O objetivo do grupo é sensibilizar o presidente Jair Bolsonaro da necessidade de se retomar o adiantamento de uma hora dos relógios em parte do país tal qual estava em vigor desde 1985. A ação fazia com que o período de luz solar fosse mais longo ao longo do dia, beneficiando principalmente os estabelecimentos que trabalham com happy hour.
Além de ajudar na economia do consumo de energia elétrica nas casas, diminuindo o período de uso, o horário de verão é apontado como um incentivo para que as pessoas saiam do trabalho e aproveitem o final de tarde nos bares e restaurantes.
Segundo Fábio Aguayo, vice-presidente da Feturismo e líder do movimento, os fins de tarde com horário de verão representavam um aumento de 30% no consumo dos bares e restaurantes, que se refletiam na arrecadação de tributos como IPI e ICMS e na geração de empregos.
“E hoje nós estamos trabalhando com 30% da capacidade por conta do distanciamento das mesas, mesmo com a liberação da capacidade de 50%. Ou seja, qualquer acréscimo que venha com a volta do horário de verão ou qualquer outra medida de estímulo já vai fazer diferença”, explica.
A Feturismo apurou que os decretos restritivos fizeram os estabelecimentos das maiores cidades paranaenses como Curitiba, Londrina e Foz do Iguaçu perderem mais da metade do faturamento, o que, segundo Aguayo, é o principal motivo para se pensar em medidas que estimulem a volta do consumo. Ao Bom Gourmet Negócios, ele adiantou que o levantamento da entidade apurou uma perda de 100% de receita nos dois períodos de bandeira vermelha e 65% com a bandeira laranja, que flexibilizou os horários de atendimento presencial.
Num apanhado geral ao longo dos 16 meses de pandemia, a entidade apurou uma queda média de 70% no faturamento dos empresários, muitos deles pequenos e médios negócios que ficaram pelo caminho. “É impossível se trabalhar com 30% do faturamento”, conclui.
Outra época
Quando decidiu pelo fim do horário de verão no
Brasil, Bolsonaro usou como base um estudo do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) que apontava uma queda na eficiência da economia de energia
elétrica ano após ano. No período de 2015/2016, a economia foi de R$ 162
milhões, caindo para R$ 159,5 milhões no ano seguinte.
Brasil, Bolsonaro usou como base um estudo do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (ONS) que apontava uma queda na eficiência da economia de energia
elétrica ano após ano. No período de 2015/2016, a economia foi de R$ 162
milhões, caindo para R$ 159,5 milhões no ano seguinte.
No entanto, o presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Estado de São Paulo (FHORESP), Edson Pinto, afirma que a decisão do presidente foi tomada em uma época completamente diferente do que estamos vivendo agora. Antes da pandemia, segundo ele, o país vivia um crescimento econômico relativamente bom sem crises energética, hídrica e econômica provocada pela Covid-19.
De 2019/2020 para cá, a pandemia provocou o fechamento de um em cada três estabelecimentos do setor de hospitalidade, provocou a demissão de mais de um milhão de trabalhadores, e está fazendo com que a retomada plena dos negócios demore pelo menos três anos.
“São pequenas ações que podem ajudar o setor a, em vez de esperar três anos, recuperar em um ou dois anos. Porque somos um dos setores que mais gera empregos no país e no mundo, com uma em cada 11 vagas”, diz ressaltando que, só no Brasil, eram 6 milhões de empregos antes da pandemia.
Para Edson Pinto, a volta imediata do horário de verão “o quanto antes” vai proporcionar um aumento de 15% a 30% no consumo nos estabelecimentos, tanto bares e restaurantes como no turismo em si. O retorno da mudança no relógio vai acelerar a retomada das perdas com a volta da população às ruas após a vacinação e, ainda, representar uma economia de energia elétrica neste momento de crise.
É a mesma opinião de Paulo Solmucci, presidente nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que também aderiu ao movimento. De acordo com ele, o horário de verão sempre foi benéfico para o setor, com uma alta demanda para os horários de happy hour.
“Nos dias de hoje mais ainda, porque estamos todos apertadíssimos com restrições de horários. Então quanto mais cedo pudermos começar a atender os clientes, melhor”, conta.
A entidade diz que a suspensão do horário de verão em 2019 provocou uma leve queda de 5% no movimento do happy hour, mas com um cenário diferente. Para segundo Solmucci, qualquer economia neste momento de crise é bem-vinda para os empresários.
Prontos para gastar
Edson Pinto, da FHORESP, vai além e lembra que a
população tem uma demanda reprimida de consumo por causa das limitações da
pandemia. É uma espécie de “poupança forçada” que está pronta para começar a
ser usada assim que as medidas restritivas começarem a ser suspensas com o
avanço da vacinação.
população tem uma demanda reprimida de consumo por causa das limitações da
pandemia. É uma espécie de “poupança forçada” que está pronta para começar a
ser usada assim que as medidas restritivas começarem a ser suspensas com o
avanço da vacinação.
“As pessoas quando saem do trabalho ainda com a luz do dia se sentem estimuladas a continuarem na rua seja para fazer compras, um happy hour ou até mesmo viajar, e elas vão querer fazer mais viagens domésticas”, analisa.
Na última semana, Fábio Aguayo participou de uma reunião com representantes dos ministérios de Minas e Energia e do Turismo para encaminhar ao presidente Jair Bolsonaro um ofício pedindo a volta do horário de verão. Na quinta (1), o gabinete pessoal do presidente confirmou o recebimento e encaminhou o documento para análise das duas pastas e da Casa Civil, mas não deu um prazo para a análise e resposta.
Ao mesmo tempo, Aguayo e as entidades signatárias levaram o pedido à Frente Parlamentar de Turismo e à Comissão de Turismo para análise e discussão no Congresso Nacional. Também pediram o auxílio de acadêmicos e universidades para confirmarem os benefícios econômicos da volta do horário de verão.
E, ainda, estão entrando em contato com governos estaduais para chancelarem o documento além das entidades de classe. Apesar dos pedidos das entidades de classe e da justificativa de que a retomada do horário de verão ajudaria neste momento de crise energética, o Ministério de Minas e Energia afirmou que a medida não está nos planos da pasta neste momento.