Mercado e Setor
Três a cada quatro restaurantes no Brasil operam com menos funcionários
O setor de alimentação fora do lar segue rumo a uma recuperação pós-pandemia, mas os efeitos das restrições necessárias para conter a pandemia de Covid-19 no Brasil continuam a atingir o setor,. Segundo pesquisa da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), 72% do ramo trabalha hoje com menos funcionários do que antes da pandemia. Ou seja, três a cada quatro estabelecimentos.
O levantamento aponta ainda que parte das empresas cortaram funcionários para reduzir custos; outras, com o aprimoramento de processos e a adoção de sistemas digitais para atender a necessidades específicas do período mais agudo de pandemia, acabaram diminuindo as equipes por conta da adoção de novas metodologias.
"Isso não quer dizer que as coisas estejam piores. Na verdade, o setor teve um ganho de produtividade com a revisão dos processos, com mais automação e digitalização. Durante a pandemia perdemos 1,3 milhão de postos de trabalho. Este número não vamos recuperar esse ano, mas a metade dele, 600 mil, será recuperado", ressalta o presidente da Abrasel, Paulo Solmucci. A expectativa é que setor feche o segundo semestre de 2021 com crescimento real de 2 a 3% sobre 2019.
Uma boa notícia apontada pela pesquisa da Abrasel é que 31% dos pesquisados pretende fazer novas contratações – ou recontratações – nos próximos três meses. O problema relatado pelas empresas, no entanto, é sobre recrutar mão-de-obra qualificada. O maior gargalo é na contratação de cozinheiros: 47% dos entrevistados apontam que há menos profissionais disponíveis, seguido por gerentes, chefe e especialistas como sushiman.
Dívidas e encerramento do BEM
Um aspecto do levantamento que alerta para a situação do setor é a financeira: 56% estão com pagamentos em atraso. Dos estabelecimentos que se enquadram no Simples Nacional (regime tributário direcionado para micro, pequenas e médias empresas), 51% deve ao menos uma parcela de impostos. E, apesar de 53% das empresas terem afirmado que o faturamento em agosto de 2021 foi maior do que quando comparado ao mesmo mês de 2020, 35% ainda estão trabalhando com prejuízo.
Segundo o presidente da Abrasel, a medida mais importante neste momento para auxiliar o setor seria o parcelamento de impostos. "Mais de 90% das empresas do setor são enquadradas no Simples, e quem é devedor corre o risco desse desenquadramento do sistema tributário. Com isso, pode ter de pagar um imposto muito maior em 2022, o que vai aumentar os custos de operação e agravar uma situação que já não é confortável. Então o governo precisa, junto com o Congresso, aprovar o Refis [parcelamento dos impostos]", indica Solmucci.
O encerramento do Programa Emergencial de Emprego e Renda (BEM) anunciado pela Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, é outro fator citado na pesquisa pelos donos de bares e restaurantes como um dificultador em novos investimentos nos estabelecimentos, incluindo contratações.
Instituído em 2020, o programa possibilitou a redução de salários ou suspensão dos contratos para redução de jornada de trabalho e salário nos percentuais de 25%, 50% ou 70%. Como contrapartida, o governo pagou mensalmente ao trabalhador o Benefício Emergencial, que corresponde a uma porcentagem da parcela do seguro-desemprego a que o empregado teria direito se fosse demitido (pago com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
A medida ficou válida até 25 de agosto de 2021, e pode ser reeditada em futuras situações de emergência de saúde pública ou estado de calamidade.
De acordo com o levantamento, 58% terão de fazer ajustes por conta do fim do programa: 21% deixarão para depois melhorias e investimento para crescimento, e 27% afirmaram que podem reduzir o quadro de funcionários.