Mercado e Setor
Restaurantes voltam a recuperar participação no PIB, mas ainda frágil e com atenção
O crescimento tímido de 0,4% do setor de serviços no PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro no primeiro trimestre deste ano mostra que a crise vivida principalmente pelos bares, restaurantes e hotéis começa a perder força, mesmo que lentamente. É o que avaliam economistas ouvidos pelo Bom Gourmet Negócios e pela Gazeta do Povo sobre o balanço divulgado na última semana pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Estatística), que mostra que o indicador teve uma alta global de 1,2% na comparação com os três últimos meses de 2020.
A notícia animadora, mesmo que com números ainda baixos, representa uma lenta retomada do segmento da economia brasileira que foi mais atingido pela pandemia do coronavírus. Alimentação e hospitalidade respondem por cerca de 70% da formação do PIB, principal gerador de empregos – mesmo aqueles de menor capacitação – e de renda para as famílias.
Na comparação com o primeiro trimestre do ano passado, o saldo ainda é negativo em 0,8%, já que a economia brasileira caminhava em plena atividade até a metade de março, quando começaram as primeiras restrições para conter o avanço da Covid-19. É um cenário que os técnicos do IBGE afirmam ter sido influenciado pelo "declínio dos serviços presenciais".
Para Ulisses Ruiz de Gamboa, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), o tímido avanço do PIB dos restaurantes e hotéis significa que já há no horizonte um cenário de recuperação. No entanto, é algo a ser observado com atenção, já que a economia ainda está muito debilitada e essa retomada dos serviços ainda depende de fatores que podem mudar essa direção.
“Existe sim essa recuperação, mas você está comparando sobre uma base fraca [houve uma desaceleração no quarto trimestre do ano passado], e ainda temos riscos neste ano relativos à pandemia e a crise hidrológica”, explica.
Entre os riscos citados por Gamboa estão a
terceira onda da pandemia do coronavírus, que já começou a fechar o comércio em
algumas cidades brasileiras; o aumento das contas de luz por conta da crise hídrica,
que limita o consumo das famílias; e as incertezas com o próprio desempenho da
economia – a renda diminuiu neste meio tempo.
terceira onda da pandemia do coronavírus, que já começou a fechar o comércio em
algumas cidades brasileiras; o aumento das contas de luz por conta da crise hídrica,
que limita o consumo das famílias; e as incertezas com o próprio desempenho da
economia – a renda diminuiu neste meio tempo.
Apesar desse cenário ainda incerto, o economista da ACSP destaca que, após um ano de pandemia, o setor de serviços mostrou uma grande capacidade de adaptação e resiliência, com a adoção de novos canais de atendimento. Para ele, o delivery foi o principal, embora não tenha sido suficiente para todos os operadores.
“Houve um aprendizado do comércio, que foi se desenvolvendo em outras frentes, como o ecommerce e o delivery. Também tivemos um contingente de pessoas que fez uma espécie de ‘poupança forçada’ que, devido ao isolamento social, ficaram impedidas de comprar. Estes dois fatores [além da flexibilização dos decretos] influenciaram a recuperação do comércio e do serviço”, completa reforçando que a plena retomada também vai depender do avanço da vacinação.
Transformar para reemergir
O bom desempenho da retomada do setor de serviços, mesmo que tímido e frágil, se soma um estudo realizado recentemente pela consultoria KPMG que mostra que o setor de alimentos e bebidas também projeta uma alta promissora após mais de um ano de pandemia.
A tendência de retomada do movimento nos
estabelecimentos quando permitido, que é possível enxergar a cada
flexibilização dos decretos sanitários, já é visível e esperada pela agência.
No entanto, não será como antes segundo a KPMG.
estabelecimentos quando permitido, que é possível enxergar a cada
flexibilização dos decretos sanitários, já é visível e esperada pela agência.
No entanto, não será como antes segundo a KPMG.
É o que a consultoria intitula como “transformar para reemergir”, em que as empresas do varejo alimentar e do food service terão um longo caminho que exigirá “reservas de capital para resistir e transformar modelos operacionais e de negócio para emergir mais fortes e mais alinhados com as mudanças nas prioridades e nos padrões comportamentais dos consumidores”.
A consultoria aponta que o principal impacto da pandemia no dia a dia dos negócios foi a procura dos clientes por produtos essenciais e alimentos de indulgência, e que o consumo nos lares não foi suficiente para compensar a perda de faturamento com o fechamento dos restaurantes e bares.
Para Maurício Godinho, sócio líder do setor de Alimentos e Bebidas da KPMG Brasil, os estabelecimentos terão o desafio de contornar os novos hábitos, como a alimentação consciente e saudável, a experiência de consumo e, principalmente, a questão preço, já que os clientes terão um foco cada vez maior naquilo que é essencial.
"Neste contexto, a pesquisa apontou um cenário em que não só há mais foco no consumo de produtos essenciais, especialmente durante a quarentena, mas também na compra de produtos que tragam bem estar no lar, que passou a ser o novo centro de convivência", analisa.
Em outras palavras, os empresários obrigatoriamente terão de se reinventar para seguirem competitivos na preferência dos clientes. O serviço terá de ir além de apenas atender no salão e no delivery se possível, com a criação de novos produtos que tragam o cliente para cada vez mais perto.
Experiências criadas ao longo da pandemia, como kits de alimentos e clubes de assinatura de produtos, estão entre os canais que devem continuar no radar. Já a volta aos salões precisa criar confiança nos clientes, com a demonstração dos protocolos de segurança e uso massivo dos canais digitais para informar os cuidados – o cliente terá de estar no centro das decisões, com a coleta constante de feedbacks e tratamento adequado nas respostas aos consumidores.