Mercado e Setor
Restaurantes voltam a ser alvo de golpistas que clonam perfis no Instagram
Exatamente um ano após o Bom Gourmet Negócios denunciar perfis falsos de restaurantes no Instagram para dar o golpe do WhatsApp, empresários voltam a relatar novos plágios de contas oficiais – e em uma quantidade ainda maior.
Todos eles operam no mesmo formato: copiam imagens e logomarcas de restaurantes estabelecidos e corretos, e criam um perfil com apenas alguma variação no endereço. Para enganar os usuários, os golpistas adicionam um ponto, uma linha sublinhada ou uma letra a mais que acaba despercebida em um primeiro olhar.
É o que vem acontecendo há dois anos com Sérgio Ricardo Wahrhaftig, sócio do restaurante Bobardí, em Curitiba. Ele já contou pelo menos 20 perfis falsos do estabelecimento agindo da mesma forma.
Os golpistas entram em contato com potenciais
clientes dizendo que ganhou um jantar e que precisa confirmar o número de
telefone e um código de verificação – o mesmo usado pelo WhatsApp para ativar o
aplicativo em um novo smartphone.
clientes dizendo que ganhou um jantar e que precisa confirmar o número de
telefone e um código de verificação – o mesmo usado pelo WhatsApp para ativar o
aplicativo em um novo smartphone.
“Pelo menos um por semana, é algo que se intensificou durante a pandemia. Vários clientes já ligaram reclamando que caíram no golpe, mas não temos o que fazer a não ser explicar”, conta.
Ao Bom Gourmet Negócios, ele disse que já registrou vários boletins de ocorrência (BO) no Núcleo de Combate aos Cibercrimes (Nuciber) da Polícia Civil do Paraná, mas que parou de fazer por não ver uma solução exceto por apenas entrar nas estatísticas.
Disparada de casos
A percepção de Sérgio Ricardo Wahrhaftig é comprovada pelos números. Só no primeiro ano de pandemia, o Nuciber registrou 6 mil ocorrências deste tipo de crime no Paraná. A reportagem pediu uma atualização sobre a quantidade de registros no segundo ano da emergência sanitária, mas, segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SESP), não há um recorte separado de casos envolvendo apenas as redes sociais.
De acordo com a secretaria, foram registradas 114.902 ocorrências de estelionato em geral ao longo de 2021. Nos três primeiros meses de 2022, foram registradas 33.130 ocorrências de estelionato, enquanto, nos três primeiros meses de 2021, foram registradas 26.206 ocorrências do mesmo crime.
Especificamente no Nuciber, foram registrados 12,8 mil boletins de ocorrência de estelionato entre julho de 2021 a abril de 2022, mas sem especificar exatamente quais plataformas. No entanto, a Polícia Civil informa que este número vem caindo mês a mês neste ano: 812 em janeiro, 747 em fevereiro, 811 em março e 639 em abril (até o dia 27).
Outro estabelecimento que também viu a
quantidade de perfis falsos disparar foi o Wit Bar, também em Curitiba. Foram
mais de dez registros, sendo o mais recente a partir de uma conta do Instagram
que era de uma pessoa física – ao que tudo indica, o celular de uma jovem de
Curitiba foi invadido e a conta pessoal transformada num clone do bar, com a
publicação de fotos da casa e a troca do nome. A gerência da casa chegou a esta
conclusão ao notar que fotos pessoais da jovem, publicadas anteriormente, não
haviam sido apagadas.
quantidade de perfis falsos disparar foi o Wit Bar, também em Curitiba. Foram
mais de dez registros, sendo o mais recente a partir de uma conta do Instagram
que era de uma pessoa física – ao que tudo indica, o celular de uma jovem de
Curitiba foi invadido e a conta pessoal transformada num clone do bar, com a
publicação de fotos da casa e a troca do nome. A gerência da casa chegou a esta
conclusão ao notar que fotos pessoais da jovem, publicadas anteriormente, não
haviam sido apagadas.
Entraram em contato com a reportagem, ainda, os
restaurantes Santa Marta Bar, Aizu, Passaúna, Malaui e Vino.
restaurantes Santa Marta Bar, Aizu, Passaúna, Malaui e Vino.
O Nuciber foi procurado pela reportagem do Bom Gourmet Negócios para comentar as novas denúncias dos empresários. No entanto, a Polícia Civil informou que o delegado José Barreto não teria disponibilidade para dar entrevista.
Há um ano, José Barreto afirmou à reportagem que
realmente esperava uma disparada nos casos por conta da migração da população
para o home office, causada pela pandemia. E também dos próprios criminosos
para o ambiente virtual.
realmente esperava uma disparada nos casos por conta da migração da população
para o home office, causada pela pandemia. E também dos próprios criminosos
para o ambiente virtual.
“São pessoas isoladas e quadrilhas que viram neste tipo de crime uma forma mais fácil de aplicar golpes, inclusive contratando pessoas que trabalharam em centrais de telemarketing por terem bons argumentos de convencimento das vítimas. Os bandidos estão migrando das ruas para a internet, e mesmo de dentro das prisões este tipo de crime está aumentando”, disse na época.
Apuração do Bom Gourmet Negócios com empresários de Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia comprovou que esta modalidade criminosa atinge todos os tipos de estabelecimentos, sejam eles independentes ou de grandes redes.
Falta tecnologia?
Nelso Goulart Junior, proprietário dos restaurantes Pescara e Ibérico, também em Curitiba, afirma que a situação está cada vez mais complicada e em um nível que é difícil não questionar se não há nenhuma tecnologia capaz de barrar a criação destes perfis falsos tão semelhantes aos oficiais.
“Por que eles [Instagram e Meta] aceitam qualquer página com o nome muito parecido com o de outro, com fotos iguais, como que deixam isso? Em pleno 2022, com toda tecnologia que eles tem, isso está virando um problema cada vez mais sério”, afirma.
O Instagram foi procurado pela reportagem para responder ao questionamento, e afirmou que “fingir ser outra pessoa, marca ou negócio viola as Diretrizes da Comunidade do Instagram”.
“Temos uma equipe dedicada para detectar e impedir esses tipos de golpes e encorajamos as pessoas a denunciarem quaisquer contas ou atividades suspeitas no Instagram por meio das nossas ferramentas de denúncia”, disse um porta-voz da Meta, empresa detentora do Instagram.
Veja, mais abaixo, outras recomendações da Meta
para evitar que o perfil do restaurante seja clonado.
para evitar que o perfil do restaurante seja clonado.
Solidariedade
Com tantas reclamações, os próprios empresários
começaram a ajudar uns aos outros a derrubarem as contas falsas de seus
restaurantes, seja denunciando ou mesmo explicando o passo a passo para
acelerar a solução.
começaram a ajudar uns aos outros a derrubarem as contas falsas de seus
restaurantes, seja denunciando ou mesmo explicando o passo a passo para
acelerar a solução.
Um deles é Délio Canabrava, chef e proprietário
dos restaurantes Cantina do Délio e Bella Banoffi, em Curitiba, que aprendeu a
duras penas o caminho para ser certeiro na denúncia.
dos restaurantes Cantina do Délio e Bella Banoffi, em Curitiba, que aprendeu a
duras penas o caminho para ser certeiro na denúncia.
“Dessa forma que eu explico para eles, o Instagram derruba de um dia para o outro. Mas, tem que ter tudo o que for possível para comprovar que a outra conta é falsa”, conta.
Segundo o chef, a vítima precisa denunciar
dentro da plataforma como “violação de marca”, mas é preciso ter o registro
dela no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Ele também
recomenda enviar capturas de tela do próprio perfil e da conta plagiada, para
comprovar que o golpista copiou as imagens utilizadas, e uma justificativa que
comprove a fraude.
dentro da plataforma como “violação de marca”, mas é preciso ter o registro
dela no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Ele também
recomenda enviar capturas de tela do próprio perfil e da conta plagiada, para
comprovar que o golpista copiou as imagens utilizadas, e uma justificativa que
comprove a fraude.
Délio Canabrava também recomenda pedir aos
seguidores que enviem capturas de tela dos supostos pedidos de dinheiro feitos
pelos golpistas, para comprovar ao Instagram que a plataforma foi usada para
fins criminais.
seguidores que enviem capturas de tela dos supostos pedidos de dinheiro feitos
pelos golpistas, para comprovar ao Instagram que a plataforma foi usada para
fins criminais.
“É como um processo que você faz e que um escritório especializado cobraria uns R$ 2 mil para fazer. Mas, em meia hora, você faz e tem uma solução rápida”, completa o empresário.
Outras recomendações
Veja como orientar os clientes e proteger o
perfil do restaurante no Instagram, segundo o Nuciber:
perfil do restaurante no Instagram, segundo o Nuciber:
Conta verificada – embora já existam perfis falsos que conseguiram a verificação da conta, este selo garante que a página na rede social tem um proprietário de verdade. É uma garantia para se precaver.
Posts com avisos – vale sempre reforçar qual é o perfil oficial do restaurante através de publicações no feed e nos Stories, e avisar aos usuários quando surgir uma página falsa.
Buscas na rede social – especialistas recomendam fazer buscas periódicas no Instagram utilizando o nome do restaurante, para saber se há perfis semelhantes criados sem o conhecimento do proprietário.
Denúncia – caso encontre um perfil falso, denuncie pelo próprio aplicativo da rede social e faça um boletim de ocorrência (BO). O delegado José Barreto ressalta a importância de se registrar um boletim de ocorrência, mesmo com as dificuldades de investigação.
As denúncias de ocorrências no Paraná devem ser feitas pela internet na página da Delegacia Eletrônica da Polícia Civil (clique aqui) como um caso de estelionato.
No Instagram
Veja mais orientações da Meta para evitar golpes
a partir de perfis no Instagram:
a partir de perfis no Instagram:
Para empresas e contas comerciais:
- Caso encontre uma conta tentando se passar pelo seu estabelecimento comercial, denuncie ao Instagram. No perfil que está se passando pelo seu estabelecimento, clique em "...", em seguida "denunciar", seguido por "está se passando por outra pessoa" e depois "um negócio ou organização".
- Denuncie ao Instagram uma conta que está se passando por você. Para denunciar, preencha um formulário na Central de Ajuda do Instagram, indicando que um perfil está fingindo ser você, sua empresa ou organização.
- Denuncie também ao Instagram casos de uso indevido de marca ou propriedade intelectual. Para denunciar, preencha um formulário na Central de Ajuda do Instagram, indicando violação de propriedade intelectual e direitos autorais.
Para usuários:
- Desconfie de ofertas de produtos, promoções e serviços com preços muito abaixo dos valores médios praticados no mercado;
- Empresas raramente possuem perfis privados, nos quais você precisa de autorização para seguir. Desconfie de negócios cujas contas não são públicas;
- Desconfie de contas que direcionam você a um site externo, fora do Instagram, ou que pedem que você compartilhe dados pessoais, bancários ou compartilhamentos para obter um prêmio ou oferecer uma promoção. Vale verificar se a URL (endereço do site) externa parece ou não suspeita;
- No caso de grandes companhias, procure o selo de verificação azul - perfis que representam grandes empresas, organizações ou figuras públicas normalmente são verificados e contam com o selo azul ao lado do nome;
- Nunca compartilhe senhas com terceiros;
- Na Central de Ajuda do Instagram você pode encontrar mais informações sobre como evitar fraudes no Instagram.
- Além disso, encorajamos os usuários a denunciarem conteúdos que acreditem que não devam estar no Instagram.
Abaixo, um passo a passo de como fazer denúncias:
Como denunciar contas falsas no Instagram
- Se você encontrar uma conta que acredite estar se passando por uma pessoa, marca ou organização, denuncie através do passo a passo abaixo:
- Toque em "..." na parte superior direita do perfil;
- Toque em Denunciar;
- Selecione “O conteúdo é inadequado” e, depois, “Denunciar conta”;
- Selecione a opção “Está fingindo ser outra pessoa”;
- Indique se a conta falsa está fingindo ser você, uma pessoa conhecida ou uma celebridade/figura pública. No caso de perfis verificados, você pode indicar qual o perfil legítimo que a conta falsa está fingindo ser.
Ao denunciar uma conta, suas informações não serão compartilhadas com a conta cuja publicação ou perfil você está denunciando.