“Como se fosse a primeira vez”, restaurantes reabrem as portas ao público em Curitiba

“Estou com um ânimo que parece que estou abrindo um restaurante no primeiro dia”. A animação da chef curitibana Yasmin Zippin Nasser, do restaurante árabe Nayme, reflete o sentimento de todos os restaurateurs que estão reabrindo as portas nesta quarta (15) após duas semanas de quarentena mais restritiva em sete regiões do Paraná. Foram 14 dias em que os estabelecimentos puderam atender apenas pelo delivery, sem a presença do público que estava fazendo o movimento voltar em média a 10% por semana desde meados de junho.

O decreto de quarentena do Governo do Estado terminou nesta terça-feira (14), e logo depois a Prefeitura de Curitiba retomou o decreto municipal que permite aos restaurantes atenderem diariamente das 11h às 15h e das 19h às 22h. Já no mesmo dia, os chefs começaram a se movimentar para voltar a atender aos clientes no horário do almoço.

Yasmin conta que os próprios funcionários do Nayme se prontificaram a ficar até mais tarde preparando o que seria necessário para reabrir o restaurante.

A chef conta que atendeu seis mesas no almoço deste primeiro dia, algo bom segundo ela. Para a noite, Yasmin já tem reservas confirmadas.

No dia em que a quarentena foi decretada, a chef fez um emocionante relato ao Bom Gourmet sobre a dificuldade que vinha enfrentando para não demitir nenhum funcionário mesmo com as medidas do Governo Federal de proteção ao emprego. Foi também o sentimento da chef Gabriela Carvalho, do Quintana Gastronomia, que viralizou nas redes sociais.

Agora, com a permissão para a reabertura, ela
também preparou uma retomada especial no restaurante.

“Aproveitamos a oportunidade [da quarentena] para revisar tudo o que a gente já oferecia, e agora trazendo mais sabor, mais saúde e mais sustentabilidade. Temos ainda o horário de restrição, e mantemos todos os cuidados de praxe”, conta. Gabriela serviu 38 pessoas no almoço deste primeiro dia, 24% do movimento normal e que estava chegando a 18% apenas com delivery.

Além do Nayme e do Quintana Gastronomia, outros restaurantes de Curitiba voltaram a operar nesta quarta (15), como o La Varenne, o Vindouro, a churrascaria Devons, o restobar Bobardí (que tem apenas atendimento em mesa), as operações da rede Victor e a cafeteria La Rauxa.

Por outro lado, alguns restaurantes e cafeterias de Curitiba não vão reabrir as portas neste momento pela falta de insumos frescos ou por condições estruturais. Essa dificuldade foi relatada pelo diretor executivo da seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), Luciano Bartolomeu, durante a live Mercado Gastronômico desta terça (14).

É o caso da chef Claudia Krauspenhar, do K.sa. Ela conta que teve uma verdadeira montanha russa de funcionamento do restaurante por causa das incertezas dos decretos.

“Quando obrigaram a fechar foi do dia pra noite, estávamos com estoques cheios, produtos perecíveis comprados. Não há uma sinalização para fechar, não há uma sinalização para abrir, e com isso são dois ou três dias sempre perdidos para se organizar. Eu trabalho com produtos frescos, então não é abrir a geladeira descongelar o frango no micro-ondas e servir”, relata.

Ela conta que só vai reabrir o K.sa na sexta-feira (17) após comprar os insumos mais frescos, preparar o salão e chamar os funcionários de volta – se nada acontecer nos próximos dias.

Já a proprietária da Poá Cheesecake e Bubble Tea, Paola Ostwald Andreoli, contou ao Bom Gourmet que não terá como reabrir a loja agora por conta das restrições de infraestrutura impostas pela Prefeitura. No momento ela segue operando apenas com delivery,

“Meu espaço é grande, porém não temos janelas e apenas uma porta. A circulação de ar fica comprometida e por isso não tenho previsão para abertura e consumo no local”, afirma.

Para ela, o ideal seria a Prefeitura liberar a colocação das mesas na calçada, até por conta da circulação de ar. Esse, inclusive, é um dos pedidos que a Abrasel-PR vem trabalhando junto ao poder público.

No entanto, a liberação do atendimento presencial nos restaurantes não será possível para todos. O empresário Marcelo Soder deixou de operar o restaurante físico da The Spartans Co. em meados de junho por conta da queda de mais de 70% do movimento. Veio a dificuldade em manter o aluguel em dia e a folha de pagamento, e ainda a mudança de hábitos da população que deixou de treinar por causa do decreto que fechou as academias de atividades físicas.

“A Spartans sempre foi algo muito nichado, de um restaurante de modo de vida saudável, então aquilo que as pessoas buscavam, elas não estão mais da mesma maneira. Foi uma rasteira muito grande para quem tem um nicho muito específico de mercado”, lamenta.

Com isso, Marcelo passou a operar apenas uma dark kitchen de pizzas variadas e não tem previsão de retomar o atendimento presencial. Para ele, essa flexibilização de funcionamento é muito instável, “e a qualquer momento pode ter mais um decreto. Não dá para contratar de novo, arcar com todos os custos, sem nenhum apoio”, completa.

A liberação para o funcionamento em dois horários diários vai valer até a publicação de um novo decreto que está em estudos pela Prefeitura com entidades de classe. Para os empreendedores de alimentação fora do lar, são pedidas medidas como a liberação de atendimento o dia todo até às 22h para as operações de rua e de segunda a sexta, das 12h às 20h, para os localizados em shoppings centers e espaços comerciais.

A Abrasel-PR pede, também, uma previsão e
protocolo específico para a volta da realização de eventos na cidade.

O novo decreto será publicado ainda nesta semana, segundo a Prefeitura, e terá validade de 15 dias para uma nova avaliação.