Mercado e Setor
Promotores de eventos de Curitiba protestam contra decretos e inauguração feita pela prefeitura
Um grupo de promotores de eventos e empresários de restaurantes de Curitiba fez um protesto na tarde desta quarta (19), em frente à prefeitura, contra os decretos que proíbem a realização das celebrações e que foi descumprido na semana passada pelo prefeito Rafael Greca.
Com cartazes, os manifestantes mostraram a insatisfação por estarem há 14 meses sem trabalhar enquanto que a prefeitura promoveu um evento com convidados e música ao vivo em ambiente fechado na última sexta (14), para a inauguração do Memorial Paranista, no parque São Lourenço.
Nas imagens gravadas e divulgadas pelas redes sociais por pessoas presentes no evento, é possível ver medidas restritivas dos decretos sanitários sendo descumpridas pelo prefeito e demais convidados e autoridades, como a própria realização da celebração e a falta de distanciamento social. No começo desta semana, a seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) levou o caso ao Ministério Público pedindo esclarecimentos.
Para a líder da manifestação desta tarde, a promotora de eventos infantis Rozandela Mazur, a prefeitura descumpriu normas que ela própria elaborou para todo o setor. Os eventos com aglomeração de pessoas estão proibidos em Curitiba desde março do ano passado.
“Foi para mostrar o nosso repúdio por não podermos trabalhar há mais de um ano e o prefeito fazendo eventos sem o mínimo de segurança ou os protocolos de higiene que são tão exigidos para o nosso setor voltar a funcionar, ele mesmo colocou a lei e passou por cima dela. Pra que colocar tanto dinheiro num museu que vai ficar fechado e não poder destinar verba para o setor de eventos?”, diz.
Ela conta que os promotores de eventos chegaram a elaborar protocolos seguros e mesmo assim seguem impedidos de trabalhar. Rozangela conta que não existe uma política pública de ajuda ao setor, e que medidas de ajuda como o Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), do governo federal, e o auxílio emergencial do Paraná são insuficientes e não chegam a todos os profissionais parados.
“O nosso setor é invisível, precisamos que alguém olhe por nós. Eles só falam, mas até a gente conseguir alguma coisa e o que eles oferecem para quem tem empresa é lamentável. Para quem está há um ano só acumulando dívidas, dá para imaginar a situação em que estamos”, completa.
O protesto teve a participação de cerca de 50 pessoas segundo os organizadores, com distanciamento social e uso de máscaras de proteção, além de postagens nas redes sociais com a #euvivodeeventos. A manifestação foi realizada sem ligação com entidades representativas de classe.
Gabriela Carvalho, chef do Quintana Gastronomia, acompanhou a manifestação remotamente e diz que apoia o movimento por acreditar que proibir a realização de eventos afeta não apenas este setor, mas também os próprios restaurantes – muitas vezes usados como locação.
“Quando as soluções não acontecem e as ações continuam as mesmas e, para piorar, os líderes fazem exatamente o que não permitem outros fazerem, é desrespeito direto aos cidadãos. Queremos isonomia e respeito”, conclui.
A prefeitura de Curitiba foi procurada pelo Bom Gourmet Negócios sobre a manifestação e o procedimento da Abrasel-PR no Ministério Público, mas preferiu não se manifestar.
Prejuízos
Dados da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape) mostram que, só em 2020, o setor teve perdas de R$ 4,65 bilhões, dentro de um universo de R$ 90 bilhões em faturamento que deixou de ser gerado direta e indiretamente. Foram mais de 450 mil postos de trabalho encerrados em todo o país.
Rozangela é um destes afetados pelos decretos
restritivos que proíbem a realização de eventos. Ela conta que tem sobrevivido
com os auxílios emergenciais, e só consegue trabalhar quando a bandeira dá uma
aliviada.
restritivos que proíbem a realização de eventos. Ela conta que tem sobrevivido
com os auxílios emergenciais, e só consegue trabalhar quando a bandeira dá uma
aliviada.
“Tive que readequar o sistema de festas, reduzir valores e trabalhar com uma margem muito menor e trabalhar para que as festas fossem feitas apenas para familiares, tanto que os eventos que eu produzo são sempre seguindo os protocolos e deixando muito claro para os clientes”, esclarece.
Para ela, a queda de faturamento foi de 80% desde o começo da pandemia, com paralisação completa nas bandeiras vermelha e laranja, por causa da proibição.
Segundo ato
A manifestação teve um motivo semelhante à promovida em fevereiro, quando cerca de 250 empresários dos setores de alimentação fora do lar e eventos, segundo a Guarda Municipal, se reuniram na Praça 29 de Dezembro para mostrar os impactos sofridos pelo segmento desde que a pandemia começou no Brasil.
Na ocasião, empresários ouvidos pelo Bom Gourmet Negócios relataram perdas e dívidas milionárias, além da falta de uma ajuda mais efetiva do poder público.