Mercado e Setor
Promotores de eventos criam código de conduta para a volta ao trabalho
Após perderem mais de R$ 25 bilhões em eventos não realizados por causa da pandemia do coronavírus nos últimos 17 meses, os produtores de todo o país vêm buscando soluções para reaquecer o mercado após o início da flexibilização de decretos sanitários. Embora estejam sob a sombra da nova variante delta, diversas capitais e estados já permitem a realização de encontros e confraternizações sociais com um público que pode chegar a 50% da capacidade.
Essa possibilidade de volta ao trabalho, ainda
que com cuidados, fez com que empresários e produtores começassem a se unir
para retomar as vendas sem deixar ninguém para trás – e evitar distorções como
a cobrança de valores muito abaixo dos praticados pelo mercado.
que com cuidados, fez com que empresários e produtores começassem a se unir
para retomar as vendas sem deixar ninguém para trás – e evitar distorções como
a cobrança de valores muito abaixo dos praticados pelo mercado.
Uma dessas ações é a redação de um Código de Conduta Ética feita por quatro casas de eventos de Curitiba, lançado há cerca de uma semana e que já tem a assinatura de mais de 120 profissionais do setor, como cerimonialistas, produtores, fotógrafos, etc.
Embora o código não verse exatamente sobre
cuidados a serem tomados contra o contágio da Covid-19, em linhas gerais
determina que toda negociação por novos contratos deverá ser feita dentro da “legalidade,
ética e transparência”.
cuidados a serem tomados contra o contágio da Covid-19, em linhas gerais
determina que toda negociação por novos contratos deverá ser feita dentro da “legalidade,
ética e transparência”.
Segundo Julio Cesar Hezel, sócio-proprietário do
buffet de eventos Nuvem de Coco e um dos idealizadores do documento, o
documento é uma espécie de “compliance” dos produtores com os clientes e a
transparência do mercado.
buffet de eventos Nuvem de Coco e um dos idealizadores do documento, o
documento é uma espécie de “compliance” dos produtores com os clientes e a
transparência do mercado.
“Os clientes estão ávidos para fazer eventos, e precisam ter profissionais que estejam encaixados na ética, na transparência, para que eles se sintam seguros em quem vão contratar”, explica.
Entre outros pontos presentes no código estão a
proibição de oferecer vantagens inadequadas que influenciem na tomada de
decisão dos clientes e a transparência de preços e condutas praticados pelos fornecedores
signatários do documento.
proibição de oferecer vantagens inadequadas que influenciem na tomada de
decisão dos clientes e a transparência de preços e condutas praticados pelos fornecedores
signatários do documento.
Em entrevista ao Bom Gourmet Negócios, Hezel explica a importância de se estabelecer um código de conduta ética neste momento de retomada dos eventos e como o setor pretende recuperar as perdas provocadas pela pandemia do coronavírus. Veja os principais trechos da conversa.
Bom Gourmet Negócios: O setor de eventos ficou parado durante 17 meses e agora está voltando a trabalhar e a atender o mercado, com muitos produtores que conseguiram se manter em pé mesmo com toda a crise provocada pela Covid-19. Com isso, qual o objetivo de se redigir um documento como este?
Julio Cesar Hezel: O nosso setor é muito grande, trabalha com mais de 50 segmentos da economia dos quais 25 foram diretamente atingidos, trabalham diretamente com os eventos e dependem deles. O setor precisa recomeçar agora praticamente do zero, que estamos reabrindo as portas. E como é uma tendência mundial de toda essa parte de “compliance”, imaginamos fazer algo que envolve todo o setor, por ser uma cadeia muito grande, não só de uma parte como as casas de eventos e os buffets de gastronomia, por exemplo. Fizemos várias reuniões com todos os profissionais do setor e a ideia foi muito bem acolhida por eles, para que haja uma transparência para os clientes. Hoje estes clientes estão ávidos para fazer eventos, e precisam ter profissionais que estejam encaixados na ética, na transparência, para que eles se sintam seguros em quem vão contratar.
Ao analisar os termos do código, a intenção que dá a entender é de que pretende evitar a prática de preços e orçamentos muito abaixo da média de mercado.
É para a gente corrigir as distorções que podem
ocorrer e que vão ocorrer numa retomada, como a pessoa que está em uma situação
financeira crítica e cobra um valor muito inferior ao que vale o serviço naquele
setor – e isso pode incorrer em prejuízo para o cliente. Mas não é apenas sobre
isso que estamos querendo colocar o “compliance”. É sobre transparência, sobre
ética, o que você cobra, quanto você cobra, se você indica algum fornecedor e
cobra por ela (comissão), isso tem que estar claro para o cliente.
ocorrer e que vão ocorrer numa retomada, como a pessoa que está em uma situação
financeira crítica e cobra um valor muito inferior ao que vale o serviço naquele
setor – e isso pode incorrer em prejuízo para o cliente. Mas não é apenas sobre
isso que estamos querendo colocar o “compliance”. É sobre transparência, sobre
ética, o que você cobra, quanto você cobra, se você indica algum fornecedor e
cobra por ela (comissão), isso tem que estar claro para o cliente.
Haverá algum tipo de fiscalização, ou como se vai garantir que os profissionais signatários do documento não pratiquem isso?
O comprometimento foi público, criamos um grande grupo do setor e as pessoas tinham que se comprometer publicamente com a maneira com que vão trabalhar daqui para a frente. Então todo o setor está sabendo como aquelas empresas e profissionais se posicionaram. Se a partir do momento que ele apenas se posicionou e vai agir de forma contrária, o próprio setor vai saber disso, e isso vai ser ruim para este profissional ou empresa, pois foi assumido um compromisso público deles. Acredito que numa retomada do setor como a gente vai ter que refazer, quem agir dessa maneira estará agindo contra a própria empresa.
No item 5 do código, você afirma que “os preços e condutas praticadas por qualquer profissional ou fornecedor deverão ser dotados de total transparência perante os clientes”. Há uma tabela ou algum instrumento balizador para os clientes entenderem se uma empresa ou profissional está oferecendo um orçamento fora da realidade do mercado?
Não [existe]. Como a pessoa tem seus orçamentos
de várias empresas, se tiver algum que está destoando muito, ela tem que
entender o porquê está muito barato ou muito caro. Ninguém vai dizer quanto vai
cobrar e de que maneira vai cobrar, inclusive de comissões. Tem empresas que
não tem o seu próprio departamento comercial e os serviços são vendidos por
terceiros, que trabalham cobrando ou não comissão em cima de cada venda de
produto ou serviço. E isso tem que estar transparente para o cliente, onde não
existia essa transparência antes da pandemia.
de várias empresas, se tiver algum que está destoando muito, ela tem que
entender o porquê está muito barato ou muito caro. Ninguém vai dizer quanto vai
cobrar e de que maneira vai cobrar, inclusive de comissões. Tem empresas que
não tem o seu próprio departamento comercial e os serviços são vendidos por
terceiros, que trabalham cobrando ou não comissão em cima de cada venda de
produto ou serviço. E isso tem que estar transparente para o cliente, onde não
existia essa transparência antes da pandemia.
Como você mesmo comentou, o setor de eventos está retomando o trabalho após 17 meses de pandemia, mesmo que ainda sob decretos restritivos como distanciamento de 1,5m entre convidados, capacidade máxima de 300 pessoas ou 50% da capacidade, uso de máscaras, proibição à pista de dança, etc. Mas, este código de conduta ética não versa nada sobre a obrigação dos promotores seguirem os protocolos sanitários locais. Não faltou algo neste sentido mais explícito para dar ainda mais certeza aos clientes?
Não, a gente não pode colocar isso para a sociedade. Quem tem poder para isso é o poder público. Se ele está colocando restrições para nós, que a gente acha exageradas, é ele que irá nos fiscalizar e nos multar caso alguém esteja descumprindo os decretos. Nós somos responsáveis tanto quanto restaurantes, cinemas, bares, supermercados, que estão abertos há muito mais tempo e nós estamos sofrendo há 17 meses. Os nossos espaços têm capacidades físicas muito melhores do que outros setores que trabalham também com aglomeração, o nosso setor é o único que tem rastreabilidade, então sabemos da nossa responsabilidade de como devemos trabalhar. Agora, colocar isso num código de ética do setor não, porque o poder público muda a toda hora, inclusive para nós nunca mudou para a melhor. Foi sempre para a pior sem a gente sequer estar trabalhando.
Flexibilização
Em Curitiba, onde surgiu esta iniciativa do Código de Conduta Ética, os promotores de eventos tiveram novas regras publicadas na última sexta-feira (30), com a suspensão do limite de horário permitido e de período máximo de atendimento. Com isso, as confraternizações, eventos sociais e corporativos podem ser realizados a qualquer hora do dia.
Por outro lado, o estado de São Paulo já começou a realizar eventos-teste para a retomada no pós-pandemia. Nos últimos dias 21 e 22 de julho, a cidade de Santos recebeu os dois primeiros, com a entrada permitida de 750 pessoas por dia com testagem rápida obrigatória para a Covid-19 e assinatura de termo de consentimento.
Veja abaixo o que versa o Código de Conduta
Ética dos empresários e promotores de eventos de Curitiba:
Ética dos empresários e promotores de eventos de Curitiba:
1- Não compactuamos com o oferecimento,
promessa, pagamento ou autorização de pagamento, seja em dinheiro ou em outros
bens para qualquer profissional ou fornecedor envolvido no evento com o
objetivo de se beneficiar ilicitamente do cliente ou terceiros em seus
negócios.
promessa, pagamento ou autorização de pagamento, seja em dinheiro ou em outros
bens para qualquer profissional ou fornecedor envolvido no evento com o
objetivo de se beneficiar ilicitamente do cliente ou terceiros em seus
negócios.
2- Não compactuamos com qualquer autorização,
oferecimento, promessa, dação, solicitação ou benefícios destinados a
influenciar de forma inadequada qualquer decisão do cliente.
oferecimento, promessa, dação, solicitação ou benefícios destinados a
influenciar de forma inadequada qualquer decisão do cliente.
3- Não será admitido o relacionamento comercial
com qualquer profissional ou fornecedor que realize práticas comerciais que
violem os princípios éticos e morais aqui estabelecidos ou não.
com qualquer profissional ou fornecedor que realize práticas comerciais que
violem os princípios éticos e morais aqui estabelecidos ou não.
4- As empresas de eventos agirão dentro da mais
perfeita legalidade, ética e transparência no relacionamento com seus clientes,
sendo exigido dos fornecedores e parceiros a adoção das mesmas práticas.
perfeita legalidade, ética e transparência no relacionamento com seus clientes,
sendo exigido dos fornecedores e parceiros a adoção das mesmas práticas.
5- Os preços e condutas praticadas por qualquer
profissional ou fornecedor deverão ser dotados de total transparência perante
os clientes, deixando sempre clara qual a efetivamente remuneração está
sendo realizada pelos serviços e/ou
produtos contratados, não se admitindo em qualquer hipótese que a remuneração
final daqueles sejam majoradas em razão de comissões ou quaisquer outros
benefícios acordados sem o conhecimento expresso do cliente.
profissional ou fornecedor deverão ser dotados de total transparência perante
os clientes, deixando sempre clara qual a efetivamente remuneração está
sendo realizada pelos serviços e/ou
produtos contratados, não se admitindo em qualquer hipótese que a remuneração
final daqueles sejam majoradas em razão de comissões ou quaisquer outros
benefícios acordados sem o conhecimento expresso do cliente.
Empenharemos todos nossos esforços para coibir
práticas ilícitas de preços, assumindo o compromisso de desenvolvermos soluções
inovadoras a fim de garantir a todos os nossos clientes um mercado dinâmico,
transparente, ético e de livre concorrência.
práticas ilícitas de preços, assumindo o compromisso de desenvolvermos soluções
inovadoras a fim de garantir a todos os nossos clientes um mercado dinâmico,
transparente, ético e de livre concorrência.
Outras informações sobre o código estão disponíveis no site da ação.