Mercado e Setor
“Precisamos rachar a conta”, dispara a Abrasel sobre perdas causadas pela pandemia
Os mais de 300 mil restaurantes fechados definitivamente no Brasil ao longo do ano passado somados aos 35 mil encerrados apenas no primeiro trimestre deste ano trazem a discussão sobre como a condução da pandemia foi falha e danosa para o segmento que mais emprega no país.
Essa é a conclusão de um artigo divulgado nesta semana pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) que mais soa como um desabafo sobre como as decisões tomadas pelas três esferas de poder sem a devida contrapartida financeira estão acabando com micros e pequenos – principalmente familiares.
O Bom Gourmet Negócios reproduz o artigo, de autoria de Max Fonseca, diretor nacional da entidade, e Nelson Goulart Junior, presidente da seccional paranaense:
Mais uma vez a corda estoura do nosso lado: nós, que trabalhamos sério e dentro da Lei e das regras.
Saímos, tão logo começou a onda da Covid-19 em outros países, a conversar com todos, empresas parceiras, Sebrae, etc, para ver o que podíamos fazer em busca das melhores soluções.
Desde o primeiro momento, nosso senso de responsabilidade para com a comunidade se manifestou em palavras e, principalmente, ações.
Avaliamos, buscamos especialistas, conversamos com quem poderia ajudar e nos preparamos. Elaboramos cartilhas, editamos cursos e treinamentos, disponibilizamos tudo isso para todo o setor.
Fizemos investimentos, treinamos nossas equipes e nos preparamos para continuar trabalhando de forma segura, sempre com o propósito de contribuir.
Mesmo assim, enfrentamos de cabeça erguida restrições que duraram mais de um ano.
Fizemos das tripas coração, evitamos ao máximo penalizar nossas equipes, investimos o que restava para trabalharmos em novos formatos, aprendemos — muitos — a sobreviver.
Exatamente isto: sobreviver somente com o delivery e retirada nas lojas. Trabalhamos com faturamentos mínimos para não fechar nossos negócios e não promover demissões em massa, pois sabemos bem qual impacto isso causa numa sociedade que tem no setor de Alimentação Fora do Lar o seu principal empregador, especialmente com nossa capacidade de absorver mão-de-obra com baixa ou nenhuma qualificação e ser grande responsável no Brasil pelo primeiro emprego.
Desesperados, fomos aos bancos: muitos de nós acabamos de pires na mão, pois as linhas apresentadas se destinavam aos grandes, quando nosso setor é composto em sua grande maioria — mais de 90% — por micro e pequenas empresas.
Pra quê?
Pra ver no país inteiro, quando a classe política precisou ir às ruas em busca de votos, as regras de isolamento e todos os protocolos serem rasgados.
Pra ver chegarem as festas de Natal e Réveillon e as pessoas "precisarem" se aglomerar porque estavam necessitando confraternizar com amigos e familiares.
Pra ver nos veraneios, praias e casas lotadas de gente que precisava espairecer, que não aguentava mais o isolamento.
Pra ver no Carnaval, que em tese foi proibido de Norte a Sul nas ruas, clubes e bares, mas sabendo que as festas familiares, de amigos e clandestinas aconteceram como sempre. Muitas delas causadas pela proibição dos bares em realizá-las.
Além disso, enfrentamos a nova concorrência de quem passou a ver no fornecimento de refeições a domicílio uma alternativa após perder a ocupação em outras áreas. Quantos novos entraram na concorrência?
Essa luta, se digna pelo lado da busca do sustento, desleal pelo outro, pois entraram sem atender o que nos é imposto: atender exigências sanitárias, obrigações trabalhistas, tributárias e fiscais.
E, agora, mais uma vez, nos apresentam a conta.
Nunca, em tempo algum, aqui ou em qualquer lugar do mundo, houve evidência de que contribuímos com o aumento das taxas de transmissão.
Não nos confundam! Há quem, como grande parte da população, ignore solenemente as regras, mas esses não somos nós.
Onde se escondeu o poder público, que não demonstrou a menor preocupação em combater festas clandestinas e outras nem tanto?
Era impopular? E agora? Punam-se os Bares e Restaurantes mais uma vez.
Sabemos que independentemente do motivo — corrupção, incompetência, má gestão —, quando os serviços de saúde colapsam, não há o que fazer, a ordem é restringir mesmo. E apoiamos a decisão.
Mas e nós? O que será dos Bares e Restaurantes?
É dever, agora, do poder público nos três níveis — municipal, estadual e federal —, acenar com ampla reparação para o setor de Alimentação Fora do Lar.
Temos locais aptos a funcionar, equipes treinadas e prontas para produzir e atender, insumos estocados para operarmos. Mas nada podemos fazer. Estamos proibidos de trabalhar.
A sociedade percebe que alguns setores foram penalizados em demasia enquanto outros lucraram com a pandemia?
Precisamos rachar a conta!