Mercado e Setor
Paraná registra queda de 34,2% no valor gasto em restaurantes no mês de junho
Um levantamento sobre o movimento em estabelecimentos comerciais durante a pandemia indicou que, no mês de junho, o Paraná registrou queda de 34,2% do valor gasto em restaurantes – se comparado ao índice nacional, o estado encontra-se muito próximo à média (-33,4%). Os números foram produzidos e analisados pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) em parceria com a Alelo, bandeira especializada em serviços, incentivos e gestão de despesas corporativas, com base nas transações diárias realizadas a partir de cartões alimentação e refeição.
A redução do consumo em restaurantes e demais estabelecimentos do setor, apesar de negativa se comparada ao mesmo mês no ano passado, não surpreende devido às restrições de funcionamento por conta da pandemia do Covid-19. No entanto, de acordo com o presidente da Alelo, Cesário Nakamura, esses dados confirmam mais do que apenas o comportamento da economia frente à pandemia: realçam a necessidade de estabelecimentos e parceiros buscarem alternativas para enfrentar esse momento e também para lidar com a retomada pós-quarentena.
“Nós estamos nos ocupando de desenvolver cartilhas informativas para a divulgação desses dados aos estabelecimentos comerciais e também para a conscientização e preparação dos funcionários. Assim, poderemos, juntos, pensar em alternativas para o setor”, afirma Nakamura.
Em contrapartida à queda do valor gasto em restaurantes, está o aumento do valor do ticket médio. Segundo o presidente da Abrasel-PR, Nelson Goulart Junior, o número de clientes diminuiu, mas as pessoas que se permitem sair de casa para ter uma experiência gastronômica estão gastando mais. “As pessoas estão sentindo falta de sair, por isso, quando o fazem, querem uma experiência mais completa e se permitem mais ao escolher um vinho mais caro ou até mesmo um prato de valor agregado maior”, diz.
Ele também afirma que, apesar de aumentar o ticket médio ser uma estratégia perene nos estabelecimentos, a prioridade em qualquer restaurante, neste momento, deve ser garantir a segurança dos clientes. “Precisamos transmitir confiança para as pessoas para que elas comentem que, mesmo na pandemia, foram capazes de ter uma experiência gastronômica boa. Além disso, devemos agradecer a esses clientes por nos ajudarem a manter o mínimo funcionamento”.
Paraná após medidas restritivas
O índice de consumo em restaurantes no Paraná referente ao mês de julho, no qual foram estipuladas as medidas restritivas de acordo com o decreto estadual 4.942/2020, ainda não foi completamente contabilizado. Contudo, baseando-se nos exemplos de outros estados que aplicaram as restrições em momentos anteriores, o presidente da Alelo prevê uma queda ainda maior no valor gasto com restaurantes no Paraná.
Essa previsão é confirmada por Nelson Goulart Junior, presidente da Abrasel-PR. “Nos meses anteriores estávamos faturando em torno de 30% do que faturávamos antes da pandemia; em julho, com os restaurantes completamente fechados na primeira quinzena, o faturamento foi ainda menor”, afirma. De acordo com ele, estabelecimentos com propósitos diferentes serão afetados de maneira diferente também, tanto agora, quanto mais tarde, no período de reabertura total.
“É importante fazer uma diferenciação entre os restaurantes de experiência e os restaurantes de comida: restaurantes de comida são aqueles frequentados por trabalhadores no período de almoço e aqueles com serviços de retirada no balcão ou delivery mais desenvolvidos. Já os restaurantes de experiência são aqueles frequentados durante o fim de semana, com familiares e amigos”, afirma Goulart Junior.
Até o momento, segundo ele, os estabelecimentos que promovem a experiência foram os mais afetados. “Por outro lado, durante a retomada no pós pandemia, serão os que terão mais clientes justamente porque as pessoas estarão com saudades”, diz. Enquanto isso, os restaurantes de comida, que tiveram a oportunidade de expandir o canal de vendas por meio dos aplicativos de delivery, irão encarar menos demanda no início da retomada.
Contudo, de maneira geral, a sobrevivência dos restaurantes vai depender de um fator principal: as condições financeiras e organizacionais em que estavam antes da pandemia.
“Se antes o estabelecimento estava em uma situação melhor, ele vai conseguir ultrapassar esse momento porque a administração já tinha começado antes. Quem estava com mais dificuldades ou não tinha um capital de giro próprio mínimo logo ali no começo, vai ter muita dificuldade mesmo”, afirma o presidente da Abrasel-PR.
Contexto nacional
No âmbito nacional, o Índice de Consumo em Restaurantes segue negativo desde o início da pandemia no Brasil, em comparação com os mesmos meses nos últimos anos. Os dados apontam que a média do país no mês de junho foi de -33,4%, número preocupante ainda que represente uma melhora em relação aos meses de abril e maio, nos quais a queda no valor gasto foi de 49,6% e 39,1%, respectivamente.
Apesar das estatísticas paranaenses não serem positivas, Cesário Nakamura explica que o fato do Paraná estar próximo na média nacional o coloca em uma situação muito mais favorável do que outros estados brasileiros. O Piauí, por exemplo, registrou em junho a maior queda no valor gasto em restaurantes, equivalente a -63%. “Chegar em junho com um valor negativo tão alto assim é preocupante e nos faz questionar quanto tempo será necessário para que o setor se estabilize em valores positivos novamente”, afirma Nakamura.
Ele ainda diz que a análise dos resultados em termos regionais revela que “os efeitos da pandemia se distribuíram de forma desigual”. As regiões mais impactadas em junho foram a Nordeste (-41,9%) e Norte (-38,8%), enquanto Sul e Centro-Oeste apresentaram os melhores valores – queda de 28,9% e 29,4%, respectivamente. Por fim, a região Sudeste se encontra em um meio termo de -33,6%.
Índice de Consumo em Supermercados
Ao mesmo passo em que o valor gasto em restaurantes diminuiu, o Índice de Consumo em Supermercados, também analisado na pesquisa da Fipe com a Alelo, aumentou 6% no Paraná, no mês de junho. Não surpreendentemente, foi percebida uma redução de 14,4% no volume das transações, o que significa que as pessoas estão indo menos vezes nos supermercados e demais estabelecimentos do setor, mas gastam mais a cada vez que o fazem.
“É natural que as pessoas tenham repensado seus hábitos de consumo em supermercados”, afirma Nakamura, “elas querem sair o mínimo possível de casa, por isso, compram mais com menos frequência. É um comportamento que, inclusive, pode ser mantido mesmo após a pandemia, considerando que haverá certo receio em retomar as atividades normais logo de cara”.
Seguindo esse raciocínio, o presidente da Alelo diz acreditar que vai demorar muito até que o Índice de Consumo em Restaurantes volte a se equilibrar com o de consumo em supermercados. “Ainda que a perspectiva seja a de que o valor gasto em restaurantes comece a aumentar nos próximos meses, teremos um longo período de desigualdade entre esses dois setores. Faremos o possível, então, para que os impactos negativos sejam os menores possíveis”, afirma.