Mercado e Setor
Paraná prorroga quarentena e flexibiliza abertura de restaurantes apenas a partir de quarta (10)
Os restaurantes e lanchonetes do Paraná poderão voltar a atender presencialmente os clientes a partir de quarta-feira (10), mas ainda com fortes restrições de horários. É o que decidiu o governo do estado no final da tarde desta sexta (5) ao prorrogar o decreto que impôs uma quarentena de nove dias, em vigor desde o último final de semana.
As novas medidas começam a valer na segunda-feira (8) e vão até o dia 17. Para este final de semana, seguem em vigor as regras atuais estabelecidas no último dia 27.
Com isso, estará permitido receber os clientes apenas das 10h às 20h nos dias de semana, com capacidade limitada a 50% e reforço nos protocolos de higiene para evitar o contágio do coronavírus. O serviço de delivery fica permitido 24 horas.
No fim de semana dos dias 13 e 14, o consumo presencial está suspenso em todo o estado. Apenas o serviço de entrega em casa está permitido.
Já os bares e eventos seguem proibidos de ser realizados em todo o estado, assim como a circulação de pessoas e venda de bebidas alcoólicas das 20h às 5h. As atividades essenciais que necessitam da circulação de trabalhadores não se enquadram neste horário, desde que comprovado que estão em serviço.
Curitiba acata quarentena até quarta (10)
No dia 9 de março, a prefeitura atualizou as regras englobando parte do decreto estadual com as restrições da bandeira laranja, flexibilizando alguns serviços e restringindo outros.
Alento, mas longe do ideal
Segundo Nelson Goulart Junior, presidente da
seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel-PR), a medida ainda é restritiva, mas já é um alento para o setor.
seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes
(Abrasel-PR), a medida ainda é restritiva, mas já é um alento para o setor.
“Essa medida resolve parte do problema, mas continua muito sério. A maior parte do setor é de restaurantes de almoço, a quilo, buffets, que empregam muita gente e são em número muito maior dos que servem a la carte a noite. E eles tem sofrido muito inclusive com essa mudança de hábito das pessoas trabalhando em casa, como os próximos de faculdades e em áreas com mais escritórios do que residências”, diz.
Ele ressalta que restaurantes que abrem apenas para o jantar serão os mais afetados – inclusive os dele mesmo. Goulart Junior chegou a sugerir que os restaurantes pudessem escolher abrir só no almoço ou no jantar, “umas quatro horas”, diz, mas o pedido não foi acatado.
O decreto de quarentena mais restritiva foi imposto no último sábado (27) para tentar frear o avanço do coronavírus no Paraná, e foi seguido por todas as prefeituras do estado. Já Curitiba acatou as medidas e reforçou com regras da chamada bandeira laranja, que fechou os supermercados e proibiu a entrega de comida no balcão aos domingos.
Sem atender a noite
O grande problema agora, segundo as entidades representativas do setor, é quanto às perdas nos restaurantes que abrem as portas apenas a noite. É o caso do Île de France, tradicional bistrô francês de Curitiba que atende apenas no jantar e viu o movimento despencar durante a quarentena.
Marcia Oliveira, gestora do restaurante, conta
que até mesmo o delivery saiu menos do que o esperado, e que a manutenção das
restrições pode dificultar ainda mais o dia a dia da operação.
que até mesmo o delivery saiu menos do que o esperado, e que a manutenção das
restrições pode dificultar ainda mais o dia a dia da operação.
“O movimento do salão representa 70% do faturamento total, ficar sem essa entrada é muito complicado. Apesar de já ter um delivery consolidado, ainda houve uma sensível redução durante esta semana por conta da apreensão das pessoas em torno do cenário”, relata.
Já para o empresário Daniel Mocelin, proprietário da pizzaria Mathilda e da hamburgueria Whatafuck, o delivery não chega a 25% do faturamento. Ele está com R$ 250 mil em empréstimos com bancos e diz que pode começar a demitir por não ter mais como pagar as contas.
“O dinheiro está acabando, a expectativa é de dias sombrios. Não vejo mais como pegar outros financiamentos, nem que eles existam”, diz.
Rafael Fusco, sócio dos restaurantes A Ostra Bêbada e Pizza vai além, e diz que falta previsibilidade na hora de soltar os decretos. As operações noturnas das casas dele tiveram uma queda de 80% com a suspensão do atendimento.
“O momento pede cuidado, mas sabemos que nossos gestores poderiam manter um canal mais aberto e antecipar a direção dos decretos”, ressalta.
Opinião semelhante tem o Lucas Araújo, franqueado da rede Cão Véio, em Curitiba. Ele é a favor do fechamento dos restaurantes para conter o avanço do coronavírus, mas com a devida contrapartida do poder público para ajuda-los a se manterem em pé pelos dias fechados.
“Se obrigam o estabelecimento a fechar, deveriam dar condições para que ele pudesse ficar fechado período determinado. E outra coisa é que não estamos em lockdown, e sim com restrições de funcionamento, com algumas atividades funcionando e outras não, mas com algumas categorias com um poder político maior para seguir funcionando”, ressalta.
O próprio restaurante dele foi pensado para atender apenas presencialmente, e aos poucos o delivery foi tomando espaço por conta das restrições – passou de 5% para 20%. A necessidade fez o serviço ser repensado e corresponder a uma parcela importante do faturamento, embora ainda esteja operando no vermelho.
Medidas econômicas
Além das novas regras, o governo do estado anunciou medidas econômicas de apoio ao comércio, como:
- R$ 30 milhões em empréstimos com juros subsidiados para o Banco da Mulher e o Banco do Empreendedor, para os micro e pequenos empreendedores do comércio.
- R$ 10 milhões em uma linha de crédito para atender aos empreendedores informais e MEIs, também com juros subsidiados.
- dos 40 mil empreendedores que adquiriram empréstimo no início da pandemia no ano passado, a Fomento Paraná está suspendendo os pagamentos por dois meses para atender e aliviar o fluxo de caixa.
- R$ 120 milhões com juros subsidiados para o capital de giro do setor de turismo.
- parcelamento das contas de luz e água da Copel e Sanepar em 60 vezes para o comércio, serviços e famílias de baixa renda, além da proibição de cortes.
- R$ 10 milhões em uma linha de crédito para atender aos empreendedores informais e MEIs, também com juros subsidiados.
- dos 40 mil empreendedores que adquiriram empréstimo no início da pandemia no ano passado, a Fomento Paraná está suspendendo os pagamentos por dois meses para atender e aliviar o fluxo de caixa.
- R$ 120 milhões com juros subsidiados para o capital de giro do setor de turismo.
- parcelamento das contas de luz e água da Copel e Sanepar em 60 vezes para o comércio, serviços e famílias de baixa renda, além da proibição de cortes.
Seis dígitos
Os prejuízos causados pelos nove dias de quarentena serão de valores na casa dos seis dígitos para muitos empresários curitibanos que tinham no atendimento presencial o forte de seus restaurantes. A chef Gabriela Carvalho contou ao Bom Gourmet Negócios que as perdas no seu Quintana Gastronomia serão na faixa de R$ 150 mil, entre custos fixos e variáveis, como alimentos perecíveis.
“Estávamos caminhando para zerar [as contas] daqui a, talvez, quatro meses, não mais tendo que investir para trabalhar. Agora já não sei mais”, diz.
Para Délio Canabrava, dos restaurantes Cantina do Délio e Bella Banoffi, as perdas com o atendimento presencial ficaram na casa dos R$ 100 mil, e só não foram maiores porque o delivery compensou parte das perdas.
“Eu saí de uma entrega de menos de 100 por mês [antes da pandemia] para mais de mil. Estou com o delivery bem cheio”, conta mesmo com uma dívida de R$ 300 mil com bancos.
Nesta semana, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) emitiu uma nota crítica ao lockdown de São Paulo, que começa neste sábado (6), que explica o sentimento dos empreendedores do setor como um todo.
“É cruel deixar que bares e restaurantes amarguem sozinhos os prejuízos de mais um fechamento”, conta Paulo Solmucci, presidente da entidade.
Um levantamento divulgado em fevereiro pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR) mostra que mais de 180 mil trabalhadores formais do setor perderam o emprego ao longo de 2020, mas a entidade estima que o desemprego pode ter passado de 1 milhão se contar os informais que trabalham por taxa em estabelecimentos que fecharam as portas ou precisaram reduzir custos.