Mercado e Setor
Quatro em cada dez bares e restaurantes brasileiros já fecharam as portas por causa da pandemia
Embora o comércio esteja reabrindo as portas em quase todo o país com a estabilização dos números de contágio do novo coronavírus, o setor de alimentação fora do lar vê o cenário se agravar com o passar dos meses. Desde o início da pandemia até o mês de julho, quatro em cada dez bares e restaurantes com mais de uma unidade já fecharam as portas definitivamente de acordo com a quinta pesquisa da série Covid-19, divulgada nesta semana pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR) em parceria com a consultoria Galunion.
O levantamento mostra um agravamento da crise, já que até o final de junho o número de estabelecimentos impactados era de três em cada dez em todo o país. O pessimismo dos empresários que temem não conseguir se manter em pé até o final do ano também aumentou de um mês para o outro, e passou de 15% para 22% principalmente daqueles que têm apenas uma unidade. Segundo a ANR, isso significa o fechamento de 200 mil bares e restaurantes.
Para Cristiano Melles, presidente da associação,
esse agravamento se dá pelo retorno ainda muito gradual do movimento nas
grandes cidades. Além da reabertura com restrições de horários de
funcionamento, a questão do distanciamento e da capacidade limitada de atendimento
também está afetando as operações.
esse agravamento se dá pelo retorno ainda muito gradual do movimento nas
grandes cidades. Além da reabertura com restrições de horários de
funcionamento, a questão do distanciamento e da capacidade limitada de atendimento
também está afetando as operações.
“Já imaginávamos que seria difícil o faturamento com o distanciamento das mesas e capacidade de no máximo 50%, e a isso se soma a dificuldade de conseguir crédito”, diz.
O resultado do levantamento da ANR com a Galunion encontra reflexo na pesquisa Pulso Empresa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE), divulgada também nesta semana, que aponta que 44,8% das empresas foram afetadas pela pandemia do coronavírus na primeira quinzena de julho. O setor de serviços prestados às famílias, que engloba a alimentação fora do lar, respondeu por mais da metade dos impactados (55,5%) nas regiões Sudeste e Sul do Brasil.
Causa e efeito
O fechamento de 42% dos bares e restaurantes do país, segundo a pesquisa, provocou a demissão de mais de um milhão de trabalhadores do setor de acordo com a Associação Nacional de Restaurantes. Até o início da pandemia, em março, eram seis milhões de colaboradores empregados.
Mais da metade dos estabelecimentos que
continuam abertos precisaram fazer demissões ou colocar os funcionários no Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, do Governo Federal. No
entanto, dois em cada dez estabelecimentos já manifestaram a intenção de não renovar
os acordos pelos prazos permitidos pela lei.
continuam abertos precisaram fazer demissões ou colocar os funcionários no Programa
Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda, do Governo Federal. No
entanto, dois em cada dez estabelecimentos já manifestaram a intenção de não renovar
os acordos pelos prazos permitidos pela lei.
“O nosso setor tem pouca alavancagem, o pequeno empresário está desassistido. Os bares, lanchonetes e restaurantes são os que mais geram aquele primeiro emprego dos jovens, e o que estamos vendo é um desmonte de tudo isso impactando desde quem está entrando no mercado de trabalho como quem já está empregado”, ressalta Melles.
A nova pesquisa da ANR com a Galunion apurou que seis em cada dez estabelecimentos não conseguiram sequer chegar a 30% de faturamento com a reabertura da economia. Muito disso se dá por conta do receio que os consumidores ainda têm de sentar em um bar ou restaurante.
“As pessoas que reabriram o salão tem um faturamento muito baixo que não está se sustentando, e mesmo quem tem mais de uma unidade está sentindo o reflexo das renegociações, em que os proprietários dos imóveis não estão cedendo de cobrar o aluguel mínimo. E aí o empresário repensa e vê que é necessário fechar aquela unidade ou mudar de local”, explica Simone Galante, CEO da consultoria.
Parte do pessimismo dos empresários está na
dificuldade de conseguir os empréstimos prometidos pelo Governo Federal. O Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que
destinou R$ 18,7 bilhões ao comércio como um todo, só chegou efetivamente a
12,8% dos empresários. No setor de alimentação fora do lar, apenas duas em cada
dez empresas conseguiram recursos para financiar o capital de giro e a folha de
pagamento até o mês de junho.
dificuldade de conseguir os empréstimos prometidos pelo Governo Federal. O Programa
Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), que
destinou R$ 18,7 bilhões ao comércio como um todo, só chegou efetivamente a
12,8% dos empresários. No setor de alimentação fora do lar, apenas duas em cada
dez empresas conseguiram recursos para financiar o capital de giro e a folha de
pagamento até o mês de junho.
A expectativa dos empreendedores é de que a nova fase do Pronampe, prorrogada nesta quarta (19) com mais R$ 12 bilhões, e o crédito através das maquininhas de pagamento cheguem efetivamente na ponta e dê um alívio nas contas.
Novos caminhos
Para o presidente da Associação Nacional de Restaurantes, os próximos seis a sete meses serão de prejuízos para o setor como um todo. Cristiano Melles diz que o fechamento dos estabelecimentos vai se agravar ainda mais se o apoio estatal não chegar aos empresários.
Já Simone Galante crê que, mesmo com alguma ajuda
do governo, os empresários terão de encontrar novos caminhos para driblar a
falta de confiança dos clientes.
do governo, os empresários terão de encontrar novos caminhos para driblar a
falta de confiança dos clientes.
“As pessoas têm que se mover internamente para construir esse novo faturamento e recompor as vendas do restaurante, que passa por identificar novos canais de venda e fazer alterações na oferta do seu menu”, diz.
Melles completa afirmando que o Brasil deveria seguir o exemplo de países que criaram pacotes de ajuda específicos para o setor de alimentação fora do lar, como a Inglaterra. Lá, o governo cedeu bônus de ajuda aos empresários e vouchers que custeiam parte das refeições dos clientes.