Mercado e Setor
Movimento independente quer levantar 25 mil assinaturas por pacote de auxílio a restaurantes
Cerca de 250 chefs e cozinheiros de todo o Brasil organizaram uma petição on-line para que o governo federal amplie as medidas de auxílio aos restaurantes enquanto durar o período mais crítico da pandemia do coronavírus. Até a tarde desta sexta-feira (8) a petição já somava quase 19 mil assinaturas em pouco mais de um dia de publicação.
Liderado pela chef paulistana Janaína Rueda (Bar da Dona Onça) com o marido Jefferson Rueda (A Casa do Porco), o movimento quer coletar 25 mil assinaturas para levar a petição ao ministro da Economia, Paulo Guedes - e também aos governos municipais e estaduais.
Os profissionais afirmam que as medidas anunciadas até agora não são suficientes para salvar o setor de alimentação fora do lar do colapso, colocando em risco mais de seis milhões de empregos em um milhão de estabelecimentos.
Ao Bom Gourmet Negócios, Janaína disse que o movimento é independente de entidades de classe e busca conseguir um canal direto de negociação, com o prolongamento da MP-936, de redução da jornada de trabalho proporcional ao salário, e um acesso mais fácil à linhas de crédito para financiar o capital de giro.
De acordo com ela, os bancos não estão repassando aos empresários os recursos liberados pelo governo federal para sustentar a economia neste momento de pandemia.
"A gente tinha dois meses da MP-936 e precisamos de mais dois meses. E também de crédito a juros baixos, com carência, a prazos longos lastreados por fundo garantidor do governo porque muitos empresários não tem imóveis para dar como garantia", afirma a chef.
Janaína explica que há também o agravante dos informais, com uma parcela considerável de donos de bares que sequer tem CNPJ e ficaram sem renda para manter os negócios. E ainda os proprietários de restaurantes a quilo que já estão negativados e não conseguem ter acesso a empréstimos nos bancos.
"Alguns empresários pequenos ainda conseguiram colocar todos os funcionários na MP-936 com valor integral de salário. Já outros maiores tiveram de arcar com 30% dos salários dos colaboradores, e o dinheiro do fluxo de caixa não é suficiente e, como aqui na Casa do Porco, acabou e temos de ir aos bancos", diz.

Janaína afirma que os chefs e cozinheiros querem manter os estabelecimentos fechados para proteger os colaboradores e os próprios clientes, mas que as contas continuam chegando e os títulos de fornecedores vencendo com pouca margem de negociação. "Mais de 70% dos restaurantes realmente podem deixar de existir, e esses 30% que ficarem voltarão completamente endividados. Ou seja, todo o trabalho feito em tantos anos pela gastronomia brasileira irá por água abaixo", diz.
Na manhã desta sexta (8), o governador de São Paulo, João Doria, prorrogou a quarentena até o dia 31 de maio. Responsável por 30% do mercado brasileiro de foodservice, o estado postergou três vezes a reabertura do comércio, sendo que restaurantes e bares só podem funcionar com serviços de delivery e balcão.
Após conseguir a quantidade necessária de assinaturas, prevista para este final de semana, o movimento encaminhará a pauta de reivindicações ao poder público. Além do casal Rueda, também participam ativamente no grupo os chefs Rafa Costa e Silva (Lasai), Thomas Troisgros (TT Burger), Roberta Sudbrack (SUD) e Danielle Dahoui (Ruella Bistrô).
Pedidos de ajuda
A medida provisória que suspende contratos de trabalho e reduz a jornada proporcional ao salário começou a valer no dia 1º de abril, mas com duração de dois a três meses para cada modalidade. No entanto, com o prolongamento da quarentena em São Paulo e o aperto das regras de isolamento social em outras partes do país, os chefs e cozinheiros já preveem que vão precisar de mais tempo para não demitir os colaboradores.
Entidades laborais afirmam que meio milhão de empregos devem ser perdidos no Brasil até junho se as medidas de contenção ao avanço do coronavírus não surtirem efeito. As demissões desde o começo das restrições de isolamento social são 70% maiores do que acontecia normalmente.