Mercado e Setor
Movimento despenca 20% em janeiro e preocupa restaurantes brasileiros
Passada a primeira semana do ano, que tradicionalmente já tem um movimento bastante fraco de clientes, os restaurantes brasileiros viram as vendas despencarem 20% do esperado nos sete dias seguintes. É o que relatam empresários de várias regiões do país ao Bom Gourmet Negócios até a última sexta-feira (14), com salões praticamente vazios em alguns dias úteis que seriam mais movimentados.
Questões como a preocupação com o avanço da Covid-19 e da gripe H3N2, além do vencimento das contas obrigatórias de começo de ano, são alguns dos motivos apontados por eles. Mas, também a queda na renda dos trabalhadores e a inflação podem ter influência na decisão dos clientes de segurar os gastos.
É algo que já foi apontado ao longo de 2021 pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) como um ponto de preocupação para os empresários. Em entrevista ao podcast do Mercado Gastronômico no final do ano, Paulo Solmucci, presidente da entidade, afirmou que o setor está mesmo bastante pressionado para segurar os repasses de custos aos clientes.
Na filial de Curitiba do restaurante paulistano
Cão Véio, o empresário Lucas Araujo diz que viu as vendas no salão caírem 1/5
do normal, e sem uma compensação pelo delivery, que poderia ser o caminho
natural se fosse apenas pelo isolamento por causa da Covid.
Cão Véio, o empresário Lucas Araujo diz que viu as vendas no salão caírem 1/5
do normal, e sem uma compensação pelo delivery, que poderia ser o caminho
natural se fosse apenas pelo isolamento por causa da Covid.
“Dá para escutar conversas nas mesas sobre o assunto Covid, que indica que deve ter gente já evitando sair para não se contaminar. Mas, penso também se as pessoas estão com medo de pegar pela saúde ou as consequências disso, de ter que fazer o teste, perder trabalho, se isolar”, conta.
O cenário é o mesmo vivido por um conterrâneo dele, Divaldo Maciel, sócio do restaurante Limoeiro, que também viu o movimento despencar na última semana. Até o fechamento da reportagem, ele estava com o movimento 50% abaixo do normal, e iria esperar pelo fim de semana para ver se parte desse desfalque seria compensado.
“Para mim parece que o medo do corona voltou, pois semana passada o movimento estava muito bom, essa semana houve queda bem acentuada. Soma-se a isso IPTU, IPVA, gastos de férias e fim de ano, material escolar, são muitas variáveis juntas”, afirma.
Na manhã desta segunda (17), Divaldo afirmou que o movimento ficou 50% abaixo do normal no sábado (15) e foi "razoável" no domingo (16). "Muito melhor que sábado, mas longe de um dia bombando", disse ao Bom Gourmet Negócios, creditando também ao tempo instável o fluxo menor de clientes.
Queda nas redes
A queda no movimento de clientes nos restaurantes também foi sentida pelas grandes redes de alimentação, que normalmente são mais resilientes a isso. Em uma holding que controla marcas de cafeterias, restaurantes de temáticas variadas e padarias, as vendas despencaram de 4% a 15% em cinco praças, segundo um gestor informou reservadamente ao Bom Gourmet Negócios.
Em outra, com duas filiais em shoppings de São Paulo, houve uma queda de 30% provocada por uma espécie de “mudança de comportamento”. Ângela Leona, que é consultora de operações e gestão full time, conta que percebeu um movimento diferente dos clientes depois de uma obra de ampliação.
“Em uma das unidades, por exemplo, o movimento do horário de pico se diluiu ao longo do dia após construirmos uma varanda ao ar livre. Em outra, realmente caiu, com os clientes procurando locais abertos e bem arejados sem ser com ar condicionado”, disse.
Para a consultora, há uma clara diferenciação de
clientes de acordo com a categoria das operações. Nos restaurantes mais
casuais, com um tíquete-médio mais alto, a queda do movimento é uma realidade
que pode se agravar dependendo do avanço da Covid-19 e de novas restrições que
vierem a ser tomadas.
clientes de acordo com a categoria das operações. Nos restaurantes mais
casuais, com um tíquete-médio mais alto, a queda do movimento é uma realidade
que pode se agravar dependendo do avanço da Covid-19 e de novas restrições que
vierem a ser tomadas.
Já as operações mais populares, como fast foods e lanchonetes, devem ter um acréscimo de público por conta da própria idade-média dos frequentadores, que “não estão tão preocupados assim com isso, com o distanciamento, com o correto uso da máscara”. “No entanto, estão preocupados com a vacina sim”, diz.
Contas não fecham
Chef e proprietária de um restaurante de nível mais elevado em Curitiba, Claudia Krauspenhar, do K.sa, já sente que a queda no movimento de janeiro vai pesar nas contas de fevereiro. Além da Covid e da gripe H3N2, muitos dos clientes dela ainda estão viajando de férias.
“Pelas redes sociais vejo muitos clientes viajando, somado a isso todos os outros fatores que já foram falados. Esse mês ainda vai porque as vendas de dezembro entram agora, mas fevereiro vai ser puxado se o movimento não voltar”, conta.
Ela relatou, ainda, que também já está fazendo
uma reformulação no cardápio por causa da inflação, relatada mais acima. “Estou
mudando o cardápio, não posso apenas reajustar”, conta.
uma reformulação no cardápio por causa da inflação, relatada mais acima. “Estou
mudando o cardápio, não posso apenas reajustar”, conta.
E é algo que preocupa as entidades de classe.
Nelson Goulart Junior, presidente da seccional Paraná da Abrasel (Abrasel-PR),
conta que a chegada da variante Ômicron do coronavírus jogou um balde de água
fria no alívio que os empresários vinham sentindo com a flexibilização dos
decretos.
Nelson Goulart Junior, presidente da seccional Paraná da Abrasel (Abrasel-PR),
conta que a chegada da variante Ômicron do coronavírus jogou um balde de água
fria no alívio que os empresários vinham sentindo com a flexibilização dos
decretos.
“Isso somado à natural retração de janeiro por férias e contas de início do ano, formam o quadro. A questão é tentar ver mais à frente para o planejamento”, conta ele, com mais dúvidas do que certezas.
A retomada do movimento chegou a alcançar níveis maiores em novembro e dezembro de 2021 do que no período pré-pandêmico. Agora, as próprias operações sofrem com desfalque de colaboradores que chega a 50% dos quadros.
Com isso, o panorama das próximas semanas segue incerto para os operadores, que sofrem com o isolamento dos colaboradores com casos confirmados mais recentemente, e também dos próprios clientes que, se contar o tempo normal de infecção, ainda ficarão mais alguns dias em casa.