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Lei estabelece que clientes e funcionários devem usá-las o tempo todo, e só podem retirar para comer e beber.

Mercado e Setor

Moradores da região Sul querem voltar logo aos restaurantes, mas gastando menos

Guilherme Grandi
14/05/2020 19:55
Com otimismo embora também com uma preocupação maior com o futuro, os moradores da região Sul do país devem ser os primeiros a voltar a frequentar bares e restaurantes ainda neste ano -- e com uma frequência igual ou maior do que antes. É a avaliação do especialista Sérgio Molinari, da consultoria paulista Food Consulting e colunista do Bom Gourmet Negócios, com base em uma pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) que avaliou o comportamento dos consumidores.
Fazendo um paralelo da evolução da pandemia do novo coronavírus na região Sul e no o restante do país, Molinari acredita que a retomada dos negócios no setor de alimentação fora do lar será mais rápida nos três estados por conta da baixa taxa de contágio, o que deve provocar uma flexibilização das regras de isolamento social já a partir do final de maio e começo de junho. O mesmo deve ocorrer com a região Centro-oeste do Brasil. Os dados foram apresentados durante uma live transmitida nesta quarta (13) pelo Sebrae Paraná.
No entanto, o cenário pessimista de grandes impactos econômicos no setor, como o fechamento definitivo de 20% das operações antes da reabertura e a expectativa de que outros 20% não sobreviverão até o final do ano, segue igual ao nacional de acordo com o estudo feito Abia.
Para Molinari, os 60% de negócios de alimentação que sobreviverem irão encontrar um consumidor com vontade de voltar a socializar o quanto antes (47% em menos de um mês e 24% em até dois meses), mas preocupado se a renda vai durar no médio prazo -- a expectativa é de que esse cenário mais limitado deve se estender por pelo menos seis meses.
"Quase 70% dos habitantes do Sul se sentem impactados pelas questões de emprego e renda, preocupados em ter um orçamento mais restrito. Eles já pensam 'pode ser que daqui a três meses eu não tenha capacidade de consumir alguma coisa', e isso faz com que já se contigencie", diz.
De acordo com ele, o foodservice sempre teve uma sensação de consumo imediata, e não de médio prazo. Agora isso é quebrado por conta da preocupação das pessoas com o emprego e a renda pelo menos até o final do ano.
Poder aquisitivo
O cenário de mais otimismo para retomar a vida social somado à preocupação com os gastos cria um dilema para os empreendedores de foodservice do Sul do país: cobrar menos com contas operacionais mais altas pelo menos até o final do ano.
Molinari afirma que 74% dos moradores da região Sul querem voltar a consumir igual ou até mais do que antes da pandemia, mas pagando menos por isso -- 59% deles levarão em conta o preço acessível e econômico como fator de escolha do bar ou restaurante. E isso ainda é combinado com o fato de que os clientes só irão a lugares que se mostrem preocupados com as medidas de proteção, higiene e segurança alimentar para evitar qualquer risco de contágio pela Covid-19.
"Consumir fora de casa é hábito dos brasileiros, mas que está freado pelo medo. 65% dos consumidores têm receio de serem contaminados (dois terços como na média nacional)", analisa.
Na prática isso quer dizer que os estabelecimentos terão de diminuir para um terço a capacidade de atendimento, reforçar a higienização de mesas, cadeiras e balcões, treinar as equipes para uma melhor comunicação com o cliente sobre as medidas de proteção adotadas, e ainda segurar os preços dos pratos. Se um produto era vendido por R$ 30, por exemplo, ele terá de baixar para R$ 25, e assim por diante.
"Só que, se o empresário se preocupar apenas com baixar os preços, vai entrar numa espiral de não conseguir fechar as contas", esclarece.
Molinari afirma que quem acredita que dá para retomar os negócios rapidamente com as mesmas práticas de antes "está correndo um grande risco de se queimar e não ficar no mercado". Para ele, adaptação é a palavra da vez, seguida pela liquidez.
Negócios certeiros
A pesquisa apresentada também revelou que negócios tradicionais como pizzarias, restaurantes self-service, lanchonetes, atendimento à la carte e fast-food continuarão sendo os motores do consumo pós-pandemia no Sul do país -- mas a maioria deles com hábitos e costumes diferentes do que antes.
As lanchonetes perderam a preferência de quase um terço dos consumidores, passando de 51% para 35%, pela sensação de que não são tomados os devidos cuidados de proteção e higiene principalmente nas pequenas operações de rua. Já os restaurantes self-service viram a aderência cair pouco (48% para 42%), mas com um aumento da rejeição aos estabelecimentos que não adotarem medidas de segurança eficazes -- 78% dos moradores dos três estados se preocuparão ainda mais com a sensação de limpeza e higiene no local.
"Por alguns meses os self-services vão se desconfigurar do que conhecemos, inclusive vão ter que começar a introduzir serviços como prato montado e lanches pré-prontos. Terão um caminho mais distante e duro do que outros tipos [de estabelecimentos]", analisa.
Em Curitiba, por exemplo, os restaurantes self-service estão permitidos a funcionar somente no formato de rotisseria, com um balcão fechado onde apenas o atendente tem acesso aos pratos.
Por outro lado, as hamburguerias entraram na preferência dos consumidores pós-pandemia por serem uma lanchonete com cara de restaurante, o que traz uma sensação maior de segurança e higiene. Os restaurantes orientais também serão mais frequentados, por conta dos cuidados que já são tomados com o preparo dos pratos.
As operações de delivery de alguns destes nichos também terão um futuro promissor na retomada da economia. Molinari explica que 68% dos moradores do Sul pretendem continuar utilizando este serviço mesmo depois que os restaurantes reabrirem, consumindo principalmente pizzas (82%), hambúrgueres (57%), lanches variados (40%), pastéis e salgados (17%) e comida japonesa (13%).
No entanto, o preço acessível, a limpeza e higiene da comida, o frete grátis, o preço total adequado (expectativa e realidade) e a fidelização serão levados em conta na hora da escolha -- além da presença em aplicativos de marketplace.
"Cada vez mais as pessoas estão com seus celulares entupidos [de dados], seja na tela ou memória do aparelho, com pouca capacidade de agregar mais aplicativos no smartphone. Por isso que as pessoas não vão baixar aplicativos de 10 restaurantes diferentes, mas apenas um de delivery", diz.
O cenário pós-pandemia do novo coronavírus será de bares e restaurantes aprimorando sua capacidade de praticar vários tipos de vendas e atendimento, com algum grau de tecnologia incorporado ao negócio -- especialmente no contato com o consumidor. Já este só vai se aproximar dos estabelecimentos e marcas em que confiar mais e sentir segurança em não se infectar pela Covid-19.
"E, ainda, os estabelecimentos terão de colaborar e cooperar mais, integrar e racionalizar esforços para um bem comum, o que pode ser difícil para muitos deles", finaliza o consultor.

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