Mercado e Setor
Mais 35 mil restaurantes fecharam as portas desde janeiro, e confiança despencou
A pandemia do coronavírus no Brasil provocou o fechamento de mais 35 mil negócios voltados à alimentação fora do lar apenas nos três primeiros meses deste ano, que se somam aos cerca de 300 mil que encerraram definitivamente as atividades em 2020.
É o que revela a mais recente pesquisa setorial
conduzida pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) com
cerca de dois mil empreendedores do setor em todo o país. O levantamento
divulgado na última semana mostra, ainda, a dificuldade que muitos deles estão
passando para honrar os salários, as contas do dia a dia, os impostos e as
primeiras parcelas dos empréstimos contraídos ao longo do ano passado.
conduzida pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) com
cerca de dois mil empreendedores do setor em todo o país. O levantamento
divulgado na última semana mostra, ainda, a dificuldade que muitos deles estão
passando para honrar os salários, as contas do dia a dia, os impostos e as
primeiras parcelas dos empréstimos contraídos ao longo do ano passado.
Os decretos de lockdown impostos em várias cidades do país desde janeiro agravaram a situação do setor, que chegou ao mês de abril com 91% dos estabelecimentos com problemas em pagar a folha salarial do mês. Em março, esse índice era de 76%.
O fechamento do comércio por longos períodos, em algumas localidades por quase um mês ou mais, zerou o faturamento de alguns negócios ou diminuiu drasticamente para aqueles que ainda conseguiram se manter nas modalidades de entrega. Segundo a Abrasel, a faixa dos estabelecimentos que faturavam acima de R$ 140 mil ao mês caiu de 23% (em março de 2020) para apenas 10% (em março de 2021).
Já a faixa dos que faturam até R$ 35 mil por mês cresceu de 30% (em março de 2020) para 54% (em março de 2021). No apanhado geral, 82% operaram o mês de março no vermelho, contra 66% em janeiro, último mês de regras mais flexíveis em boa parte do país.
Paulo Solmucci, presidente nacional da associação, conta que o recrudescimento da pandemia do coronavírus no Brasil está afetando em cheio o setor que já vinha extremamente fragilizado desde o ano passado. E, segundo ele, com o conhecimento do governo.
“Em janeiro nós já alertamos o governo federal de que a situação ficaria crítica. Sem isso, mesmo caminhando para a reabertura, muitos estabelecimentos não irão aguentar. As ajudas em alguns estados e municípios foram bem-vindas, mas insuficientes”, explica.
Esse quadro é reflexo da falta de uma ajuda mais robusta por parte do poder público que, segundo Solmucci, foi e continua sendo o causador de toda essa situação. Em entrevista ao Bom Gourmet Negócios há pouco mais de uma semana, ele afirmou que o país chegou a este cenário de crise principalmente após as eleições, quando as medidas restritivas estavam mais flexibilizadas mesmo com a Covid-19 escalando o contágio.
Sem ajuda e sem dinheiro
Embora alguns estados tenham concedido benefícios para ajudar o setor, como auxílios emergenciais, prorrogação de pagamentos de empréstimos com bancos públicos e impostos como o ICMS, a Abrasel afirma que programas mais efetivos seguem travados pelo governo federal.
Um deles, o Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), evitou uma demissão em massa de trabalhadores no ano passado e foi usado por 76% das empresas do setor. Mas, com o vencimento dele no final de dezembro e a não renovação para este ano, o desemprego voltou a aumentar.
Só no primeiro trimestre de 2021 foram 100 mil postos de trabalho do setor fechados em todo o Brasil, segundo a pesquisa da Abrasel – 73% dos empresários precisaram demitir. O governo federal chegou a aprovar a renovação do BEm no final de março, mas a medida veio tarde e ainda não entrou em vigor.
“Estamos há mais de dois meses na espera de uma nova MP dos salários, que permita a suspensão de contratos ou redução de jornada, com a contrapartida do BEm, o benefício emergencial”, conta Paulo Solmucci.
A explicação do governo federal é de que só poderá colocar o programa em vigor de novo depois que o presidente Jair Bolsonaro sancionar o orçamento deste ano que, mesmo aprovado pelo Congresso, está sendo alvo de críticas e negociações.
O faturamento a quase zero no mês de março, as folhas salariais dos três primeiros meses do ano e as contas do dia a dia afetaram também o pagamento das primeiras parcelas do Pronampe, o programa de empréstimos do governo federal às micros e pequenas empresas com juros menores. No total, foram R$ 37 bilhões concedidos que, segundo a Abrasel, só chegaram a 41% dos empresários do setor de alimentação fora do lar – outros 33% não conseguiram acessar a linha de crédito.
Também no mês passado, o governo concedeu uma prorrogação de três meses para o início do pagamento das parcelas, mas 80% dos empresários dizem não ter conseguido acessar o benefício. Destes, 55% afirmam terem recebido a resposta de que estão fora dos requisitos do decreto de prorrogação ou dos próprios requisitos dos bancos, apesar da determinação federal.
“O empresário se sente como a vítima de uma enorme jiboia: a cada vez que ele tenta respirar, o aperto vem mais forte e o fôlego diminui. Os bancos não têm piedade”, aponta o presidente da Abrasel.
A pesquisa revelou que 77% dos empresários pretendem e precisam contratar novos empréstimos se o Pronampe for reaberto pelo governo federal, um pedido importante feito pelo setor.
Sem dinheiro e sem confiança
Todas essas dificuldades fizeram o índice de confiança dos micros e pequenos empresários brasileiros despencar a níveis da recessão de 2014 e semelhante a meados de 2020, quando a pandemia do coronavírus no Brasil começou a se prolongar mais do que o esperado.
O estudo “Sondagem Econômica MPE”, realizado pelo Sebrae em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) entre os dias 1 e 24 de março com 1.173 empresas, apontou uma queda de 21,6 pontos entre fevereiro e março, passando de 89,9 para 68,3 para o comércio, e de 81,2 para 75,1 para o setor de serviços – este engloba os negócios de alimentação fora do lar, formado 79% por micros e pequenas empresas.
Segundo Carlos Melles, presidente do Sebrae, o
setor de serviços vinha tendo uma melhora gradativa desde julho do ano passado,
quando algumas cidades brasileiras começaram a flexibilizar as medidas
restritivas impostas desde o começo da pandemia e o governo federal concedeu
benefícios.
setor de serviços vinha tendo uma melhora gradativa desde julho do ano passado,
quando algumas cidades brasileiras começaram a flexibilizar as medidas
restritivas impostas desde o começo da pandemia e o governo federal concedeu
benefícios.
“Após a criação de políticas de facilitação ao crédito e do auxílio emergencial, em 2020, verificamos que houve uma melhoria no índice, uma recuperação em formato de V. Porém, com o fim das medidas emergenciais e de apoio aos pequenos negócios, começou a cair novamente a confiança”, diz.
Segundo o Sebrae, as micro e pequenas empresas de serviços foram as que mais sofreram com a pandemia e formam a base mais deprimida. Melles lembra que o isolamento social ocorrido ano passado prejudicou significativamente segmentos como o de bares e restaurantes, turismo e hotéis, entre outros, o que reflete nos resultados cada vez mais preocupantes.
O agravamento dos números da pandemia e as medidas restritivas aumentaram o pessimismo dos micros e pequenos empresários para os próximos três a seis meses, segundo a pesquisa. A maior dificuldade do setor de serviços em relação ao comércio, segundo o Sebrae, decorre das limitações de circulação impostas pela pandemia, “levando consumidores a gastar relativamente mais em bens industriais, comprados pela internet, do que em serviços onde a presença física do cliente é indispensável, e a poupar de forma precavida”.