Mercado e Setor
Lockdown em Curitiba agravou demissões em restaurantes e lanchonetes
Pelo menos cinco mil trabalhadores de restaurantes e lanchonetes de Curitiba foram demitidos neste ano principalmente durante os 23 dias em que a cidade esteve sob a bandeira vermelha de alto risco de transmissão do coronavírus. É o que revela um levantamento divulgado no final da tarde desta segunda-feira (5) pela seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR) a pedido do Bom Gourmet Negócios.
A pesquisa feita pela direção da entidade mostrou que o período em que os estabelecimentos estiveram fechados por conta do lockdown provocou uma onda de demissões causada pela dificuldade em faturar, já que não podiam receber os clientes para atendimento presencial – o serviço de entregas por delivery, drive-thru e balcão/take away correspondem a no máximo 40% das receitas.
Os cinco mil demitidos agora se somam aos 13 mil que foram desligados das funções ao longo de 2020 segundo a Abrasel-PR, por causa das medidas restritivas que limitaram o atendimento nos restaurantes, lanchonetes e bares. Estes últimos, inclusive, seguem proibidos de funcionar nesta modalidade principal de alvará.
Luciano Bartolomeu, diretor-executivo da
Abrasel-PR, explica que tanto o lockdown em si como a atual bandeira laranja,
que passou a vigorar nesta semana, são altamente lesivos aos estabelecimentos.
Abrasel-PR, explica que tanto o lockdown em si como a atual bandeira laranja,
que passou a vigorar nesta semana, são altamente lesivos aos estabelecimentos.
“Principalmente os restaurantes que só trabalham a noite. Infelizmente muitos deles deixaram de existir, e aqueles que resistiram acabaram demitindo até 60% do quadro de funcionários”, explica.
Isso porque o decreto de bandeira laranja permite o atendimento presencial somente até às 20h, sendo que os restaurantes que abrem apenas para o jantar começam a atender por volta das 18h. A entidade está em negociação com a prefeitura de Curitiba para poder voltar a atender pelo menos até às 22h, uma hora a menos do que definia o decreto anterior ao lockdown.
Demissões à vista
O quadro das cinco mil demissões ocorridas neste ano principalmente durante os 23 dias de lockdown pode se agravar ainda mais nesta semana. Empresários ouvidos reservadamente pelo Bom Gourmet Negócios dizem que pretendem encerrar mais postos de trabalho após o pagamento dos salários de abril, já que é impossível faturar e servir em apenas duas horas – de acordo com eles, a grande maioria das pessoas não chega para jantar às 19h e ter que encerrar às 20h.
“A verdade é que a maioria dos restaurantes pegou empréstimos, usou o benefício do ano passado da redução e suspensão de contratos, mas agora o dinheiro acabou e sobrou apenas as dividas e as demissões”, lamenta Luciano Bartolomeu.
Além das dificuldades geradas pelos decretos mais restritivos, a segunda queixa é a demora para colocar em vigor a prorrogação do Programa Emergencial de Proteção ao Emprego e a Renda (BEm), do governo federal, que se esperava entrar em vigor na semana passada. A medida foi a principal ação para evitar uma onda de demissões ao longo de 2020.
Clientes questionam
Sócia-proprietária do recém-inaugurado Romeo
Cucina e gerente geral do restaurante Nomade, Elisa Gabasa Barrachina conta que
tem recebido muitas mensagens de clientes questionando o horário de fechamento.
Para poder concluir o serviço dentro das normas do decreto, as reservas estão
sendo feitas no máximo até às 19h.
Cucina e gerente geral do restaurante Nomade, Elisa Gabasa Barrachina conta que
tem recebido muitas mensagens de clientes questionando o horário de fechamento.
Para poder concluir o serviço dentro das normas do decreto, as reservas estão
sendo feitas no máximo até às 19h.
“Mas as pessoas não entendem, não aceitam e não querem. Não faz sentido sair de casa para jantar e já ter que voltar. Inclusive um cliente perguntou se poderia ficar até às 22h depois de fechar a porta, é difícil fazer a experiência que pensamos no restaurante em um tempo tão curto”, conta.
O Romeo abriu durante a pandemia, em meados de fevereiro, e funcionou plenamente por apenas um mês e depois por três dias antes de fechar de novo. Para ela, trabalhar com os protocolos sanitários dentro do restaurante é possível, mas levar a experiência para o delivery ou limitar o atendimento a um curto espaço de tempo é inviável.
Elisa conta, ainda que o restaurante foi pensado
apenas para servir no jantar, mas passou a fazer o delivery há pouco mais de uma
semana e pretende começar a atender também na hora do almoço. No entanto, não
são suficientes para pagar as contas.
apenas para servir no jantar, mas passou a fazer o delivery há pouco mais de uma
semana e pretende começar a atender também na hora do almoço. No entanto, não
são suficientes para pagar as contas.
Já Vinício Marin, proprietário do restaurante
Thai, vai além e desabafa sobre o quanto o setor tem sido prejudicado pelos
decretos restritivos. Ele só atende a noite para o jantar, e a limitação do
horário torna inviável a operação.
Thai, vai além e desabafa sobre o quanto o setor tem sido prejudicado pelos
decretos restritivos. Ele só atende a noite para o jantar, e a limitação do
horário torna inviável a operação.
“Somos um restaurante de pouco giro de pessoas [na comparação com padarias e mercados], mantendo todas as normas se segurança. Agora liberam nosso funcionamento até às 20h, abrimos às 18h e às 20h não pode haver mais ninguém no salão. Resumindo: estão decretando o fim dos restaurantes de jantar”, diz.
Também atendendo apenas para o jantar, João
Guilherme Rebellato, sócio do The Oak Wine and Beer, contesta a medida do
decreto de limitar o atendimento apenas até às 20h.
Guilherme Rebellato, sócio do The Oak Wine and Beer, contesta a medida do
decreto de limitar o atendimento apenas até às 20h.
"Estou em dificuldade igual a todos os colegas. Se segurasse até 22h teríamos mais chance de sobreviver", conta.
Por outro lado, a empreendedora curitibana Jana Santos, do Cosmos Gastrobar, preferiu adotar a cautela e esperar mais um pouco para reabrir as portas. Mesmo com muitas dívidas e precisando gerar receita, ela acredita que os clientes podem não estar dispostos a começar a sair ainda.
“Vou aguardar e analisar o cenário, não sabemos direito como está a situação de leitos, as pessoas estão com medo de sair de casa e com esse horário de 20h é impossível para quem vive de janta. Tenho medo que, em pouco tempo, haja regressão da bandeira novamente. Está muito complicado tomar decisões com essa falta de planejamento e transparência”, afirma.