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Especialistas acreditam que a adoção definitiva ou prolongada do home office vai afetar profundamente os restaurantes de comida do dia a dia.

Mercado e Setor

Restaurantes em áreas comerciais preveem queda ainda maior com home office definitivo

Guilherme Grandi
30/07/2020 12:52
Com a adoção prolongada do home office para boa parte das empresas brasileiras após o fim da pandemia do coronavírus como muitas vêm anunciando, os restaurantes do dia a dia de áreas mais comerciais das grandes cidades preveem uma queda no movimento difícil de recuperar tão cedo. Pelo menos é o que mostram pesquisas do setor sobre o comportamento dos brasileiros.
Na última semana, um levantamento da Galunion Consultoria com 1.108 pessoas de todas as regiões do país revelou que 76% afirmam que não voltarão ao mesmo local de trabalho até o final do ano. Entre as constatações estão a incerteza de até quando vai durar a pandemia e também a adoção prolongada do home office pelas empresas.
Em cidades onde o pico já passou e a economia foi liberada, como Nova York e até mesmo São Paulo em um grau ainda de contágio, empresas localizadas nos centros financeiros decidiram manter os funcionários em casa sem previsão de uma volta segura.
“É difícil dizer agora quantas empresas estão trabalhando assim, até porque sequer superamos a atual pandemia, nem aqui e nem no resto do mundo. As empresas, principalmente as maiores, vão continuar fazendo o home office com retorno parcial ou escalonado no médio prazo”, diz Izis Ferreira, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
E há ainda o agravante de que quatro em cada 10 brasileiros tiveram a renda tão afetada pela crise econômica que vão precisar segurar os gastos do almoço no dia a dia. Isso é confirmado por outra parte da pesquisa que mostra que 78% dos que voltarão aos escritórios pretendem levar marmitas feitas em casa para o trabalho. Apenas 29% dizem que pretendem comer nos restaurantes.
“Aquele almoço do dia a dia que é tão importante nas praças de alimentação ou outros lugares próximos aos escritórios e fábricas serão atingidos. A tendência é que o faturamento seja profundamente afetado por conta disso”, afirma Simone Galante, CEO da Galunion Consultoria.
Retorno lento
Na maior cidade do país, São Paulo, esse cenário já é real e visível em restaurantes localizados em bairros com grande concentração de escritórios, como Pinheiros, Vila Olímpia e Cidade Monções. Pesquisa feita pela seccional paulista da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-SP) apontou que 6 em cada 10 empreendedores decidiram continuar de portas fechadas por conta das regras rígidas de reabertura e pela falta de confiança do cliente.
Percival Maricato, presidente da entidade paulista, afirma que o faturamento dos que retomaram as operações não chega nem a 20% do esperado pelos empresários. Durante os 104 dias de quarentena, São Paulo perdeu definitivamente três em cada 10 estabelecimentos de alimentação fora do lar.
“Claro que os restaurantes das áreas mais residenciais estão tendo um certo aumento no movimento nesta retomada, mas em geral tem sido muito difícil. De um lado os estabelecimentos estão muito frágeis economicamente, e do outro os clientes estão mais assustados do que deveriam”, diz.
Assim como em outras cidades brasileiras, os restaurantes de buffet tão tradicionais no horário do almoço estão proibidos de funcionar em São Paulo, e serão ainda mais afetados caso não façam as mudanças necessárias. Para Maricato, isso também é um agravante neste momento.
Realidade pós-Covid
Apesar do cenário pouco animador, o presidente da Abrasel-SP acredita que a volta ao trabalho presencial não deve demorar tanto. Percival Maricato prevê que 80% das empresas reativem os escritórios em até dois meses, seja para todos os funcionários ou de forma escalonada.
“E mesmo quem não voltar aos escritórios também vai precisar comer, e o delivery e o take away podem compensar um pouco as perdas. A questão é que o cliente precisa entender que o restaurante é seguro, é mais seguro ainda do que pegar uma comida o balcão e comer lá no fundo da loja dele ou no refeitório da empresa”, afirma.
A visão do presidente da Abrasel-SP é a mesma do especialista em food service e CEO da consultoria Menu, Leonardo Almeida. “Hoje temos uma percepção de que todo mundo está em home office porque temos um circulo de influência que está nessa modalidade de trabalho, mas 65% da demanda do food service do consumo fora do lar é de pessoas que estão trabalhando, como o motorista do aplicativo, o técnico da companhia de luz, o consultor de vendas e assim por diante”, afirma.
A economista da CNC lembra que a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD COVID19 do IBGE, feita em junho, reforça esse descolamento do Brasil em relação à tendência da adoção prolongada ou praticamente definitiva do home office em grandes empresas no exterior. Por aqui, apenas 8,9 milhões de pessoas estão no teletrabalho, o equivalente a menos de 1/10 da população ocupada.
“Não são todas as posições que conseguem fazer o teletrabalho. Neste momento está havendo um esforço para isso, mas a realidade brasileira é diferente. Os brasileiros ainda tem essa atração pelo atendimento presencial. Depois que tudo isso passar, o home office vai ficar mais restrito às grandes empresas, e ainda assim de forma escalonada”, comenta Izis Ferreira.
Vida nos centros urbanos
Para Leonardo Almeida, da consultoria Menu, o incremento que houve no movimento dos restaurantes de bairros residenciais será equilibrado com o tempo, com as pessoas voltando ao trabalho. E isso também será incentivado com a expectativa de que todo o mercado imobiliário passará por uma renegociação de alugueis tanto de escritórios como dos próprios pontos dos restaurantes.
“As pessoas vão querer sair de casa, vão querer voltar às ruas gradativamente. Em São Paulo já vemos muitos restaurantes sendo reformados e abrindo grandes áreas externas. O próprio restaurante do Jockey Clube reabriu neste fim de semana com um movimento estrondoso, há uma demanda reprimida que será gradativamente retomada e voltará à normalidade anterior à pandemia quando houver uma vacina eficaz”, diz.
Até lá, os restaurantes precisarão seguir se equilibrando com o pouco movimento e as alternativas disponíveis até agora, como o incremento do delivery e do balcão (take away). As duas modalidades também são fortemente lembradas na pesquisa da Galunion Consultoria: 79% dos entrevistados dizem que vão pedir mais refeições prontas por estes canais dos lugares que mais confiam.
Para a CEO da consultoria, Simone Galante, os estabelecimentos que conseguirem ser resilientes e permanecerem abertos nessas áreas comerciais precisam se preparar para um crescimento considerável no movimento com a retomada gradual da economia antes da vacina. “Uma coisa interessante que vimos é o ‘ser perto’ crescendo como fator de escolha”, conta Simone Galante.
Outro apontamento feito pelos entrevistados da pesquisa é quanto ao custo-benefício da refeição, com um olhar mais apurado do empreendedor à qualidade do prato, se possível com opções mais baratas e acessíveis, e a hospitalidade no atendimento.

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