Mercado e Setor
Faturamento de restaurantes e lanchonetes volta a cair e regride a maio do ano passado
O faturamento dos restaurantes e lanchonetes brasileiros voltou a cair nos últimos quatro meses refletindo o agravamento da pandemia no país desde o final do ano passado. Levantamento divulgado pelo Sebrae na última semana aponta que a queda nas vendas passou de -39% em novembro para -46% em fevereiro, interrompendo uma recuperação que vinha constante desde maio de 2020 na comparação com o período pré-pandêmico.
O agravamento dos números só não foi pior que o
setor de turismo, que perdia -58% em novembro e chegou a fevereiro com -59% no
faturamento. São os setores com os maiores impactos entre as médias e pequenas
empresas (MPEs) e microempreendedores individuais (MEIs) causados pela crise do
coronavírus.
setor de turismo, que perdia -58% em novembro e chegou a fevereiro com -59% no
faturamento. São os setores com os maiores impactos entre as médias e pequenas
empresas (MPEs) e microempreendedores individuais (MEIs) causados pela crise do
coronavírus.
A indústria de alimentação também sentiu esse impacto com o recrudescimento da pandemia, alcançando -36% de negócios em fevereiro, contra uma média nacional geral de -40%. Segundo o Sebrae, essa piora nos números fez as finanças das empresas voltarem ao patamar de perdas de maio de 2020 – quase um ano de avanço comprometido pela segunda onda da Covid-19.
Os motivos para isso são os mesmos conhecidos
durante a primeira onda, como as restrições de funcionamento do comércio e a
adoção do home office por boa parte dos trabalhadores. Mas, Patrícia Albanez, coordenadora
estadual de turismo e gastronomia do Sebrae/PR, lembra que há mais um detalhe que
coloca o setor em desvantagem: os hábitos criados pelas pessoas ao longo do ano
passado estão mais presentes neste 2021.
durante a primeira onda, como as restrições de funcionamento do comércio e a
adoção do home office por boa parte dos trabalhadores. Mas, Patrícia Albanez, coordenadora
estadual de turismo e gastronomia do Sebrae/PR, lembra que há mais um detalhe que
coloca o setor em desvantagem: os hábitos criados pelas pessoas ao longo do ano
passado estão mais presentes neste 2021.
“O que aconteceu no fenômeno deste fevereiro e março no serviço de alimentação é a volta das pessoas aos lares, e quando você está em casa, tende a cozinhar mais. É diferente de estar fora do lar, em que você consome no restaurante, e agora as pessoas aprenderam a cozinhar melhor para si”, explica.
A perda de faturamento e o hábito de cozinhar mais em casa se somam a outro agravante que compromete ainda mais as pequenas e médias empresas e os microempreendedores individuais: a falta de novos recursos para conseguir manter as atividades.
Sem a possibilidade de ter verbas a fundo perdido por parte do poder público, quem conseguiu contrair empréstimos nos últimos 11 a 12 meses dificilmente terá fôlego para mais uma conta – além das parcelas que já começam a vencer neste ano. Outros, ainda, sequer conseguiram ter acesso às rodadas do ano passado e passam longe de ter condições de conseguir neste ano.
Paulo Solmucci, presidente nacional da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), vai além e lembra que os estabelecimentos em geral estão numa situação tão complicada por causa do agravamento da pandemia que nem os salários de abril estão garantidos.
“Pelo menos 80% das empresas não têm sequer condições de pagar os salários, pois já estavam endividadas e sem faturamento suficiente nas últimas semanas. E duas em cada três estão com impostos atrasados, o setor está muito fragilizado”, analisa.
No panorama geral da economia brasileira, o Sebrae aponta que 74% das médias e pequenas empresas e 82% dos microempreendedores individuais viram o faturamento diminuir em fevereiro.
Contas na ponta do lápis
Solmucci
explica que este cenário de piora da pandemia impede qualquer tipo de previsão de
recuperação, já que o desenrolar da segunda onda vem acontecendo semana a
semana. Na última sexta (26), por exemplo, o governo de São Paulo prorrogou por
mais 12 dias a fase emergencial de restrições no estado, que restringem até
mesmo as modalidade de entrega apenas para o delivery.
explica que este cenário de piora da pandemia impede qualquer tipo de previsão de
recuperação, já que o desenrolar da segunda onda vem acontecendo semana a
semana. Na última sexta (26), por exemplo, o governo de São Paulo prorrogou por
mais 12 dias a fase emergencial de restrições no estado, que restringem até
mesmo as modalidade de entrega apenas para o delivery.
Curitiba fez o mesmo ao prorrogar a fase vermelha de restrições por mais uma semana, permitindo o atendimento apenas pelos serviços de delivery, drive thru e balcão/take away. As receitas provenientes destas modalidades não chegam a 50% do faturamento dos restaurantes, já combalidos pelas perdas do ano passado.
“Estamos fazendo contas e mais contas dia a dia, mostrando às autoridades uma fotografia do que está acontecendo. E a fotografia hoje é a pior que existe. Mas, temos a esperança de que vamos ter concluído em breve a vacinação de todos os grupos prioritários pelo menos com a primeira dose, e isso vai ajudar a desafogar os hospitais”, pondera.
“Na nossa visão, a partir de 15 de abril os restaurantes vão começar a reabrir gradualmente por conta da vacinação”, diz Paulo Solmucci.
Enquanto os restaurantes fazem as contas na ponta do lápis e preveem esse início de reabertura para a metade do mês, o mesmo não se pode dizer das cafeterias brasileiras. Com poucas redes e negócios que são basicamente micros e pequenas empresas, a categoria viu de 20% a 30% fecharem as portas ao longo de 2020.
Giuliana Bastos, uma das lideranças do grupo Grão
Coletivo, uma entidade que reúne mais de 300 cafeterias em todo o Brasil
fomentando o desenvolvimento do mercado interno de café de qualidade, explica
que a sobrevivência do segmento é diferente dos restaurantes.
Coletivo, uma entidade que reúne mais de 300 cafeterias em todo o Brasil
fomentando o desenvolvimento do mercado interno de café de qualidade, explica
que a sobrevivência do segmento é diferente dos restaurantes.
“Enquanto o delivery acabou sendo a salvação dos restaurantes, ele não funciona para as cafeterias por conta do baixo tíquete dos produtos, que acabam sendo o mesmo valor das entregas. E como até mesmo o take away acabou proibido em algumas cidades, como São Paulo, as cafeterias estão com zero faturamento. Não dá nem para fazer drive thru, não podemos colocar um cone na rua para os carros pararem e fazer os pedidos”, conta.
A situação e as necessidades deste segmento são tão preocupantes que o avanço da pandemia no Brasil não está afetando apenas as cafeterias, mas toda a cadeia de cafés especiais se não houver uma ajuda do poder público. Giuliana conta que haverá uma quebra irreversível se esse cenário perdurar por mais dois ou três meses.
“O mercado estava numa movimentação de fomentar a cultura do café de qualidade dentro do nosso país, havia um amadurecimento de anos pelas microtorrefações, baristas, marcas, curadores, influenciadores e pequenas lojas. Agora, perderemos pelo menos 50% disso tudo, um retrocesso muito grande difícil de recuperar”, completa.
O grupo redigiu documento com uma série de medidas econômicas necessárias para estancar o fechamento destes estabelecimentos, com pleitos que são comuns a todo o setor de alimentação fora do lar. Entre os pedidos estão carência prolongada dos contratos de empréstimos, reabertura do Pronampe sem restrições de crédito a negativados, isenção de IPTU em períodos com restrição de funcionamento, redução e negociação das taxas cobradas por aplicativos de delivery, entre outras.
Já assinam o documento cerca de 250 pessoas, e depois será levado aos poderes públicos municipais, estaduais e federal, na esperança de que alguma ajuda seja concedida.
Atenção já
A necessidade de novas medidas econômicas por parte do poder público é algo urgente para o setor, que deve enfrentar mais um mês de fortes restrições por conta do avanço do coronavírus. Especialistas afirmam que o mês de abril será ainda pior do que o vivido até agora desde o começo da segunda onda da doença.
Para Patrícia Albanez, do Sebrae-PR, é difícil fazer qualquer tipo de previsão de melhora neste momento, com empresários parados há semanas que dizem estar sem qualquer tipo de remuneração.
"Se ainda não chegamos no fundo do poço, estamos muito perto disso", conta Patrícia Albanez.
Para ela, a crise da Covid-19 já está durando
mais tempo do que se previa no começo ao analisar o que acontecia em Wuhan, na
China, primeira cidade a ter casos da doença. O que seriam quatro meses de
restrições acabaram se prolongando por um ano, num movimento de zigue-e-zague
de funcionamento.
mais tempo do que se previa no começo ao analisar o que acontecia em Wuhan, na
China, primeira cidade a ter casos da doença. O que seriam quatro meses de
restrições acabaram se prolongando por um ano, num movimento de zigue-e-zague
de funcionamento.
É uma visão semelhante à de Paulo Solmucci, da Abrasel, que previa no máximo cinco meses de restrições. A entidade anteviu o que deveria ser feito antes mesmo do então surto da pneumonia de Wuhan ser declarado pandemia mundial.
“Lá no começo de março do ano passado nós criamos os protocolos de atendimento nos restaurantes que depois passaram a ser usados no país todo até hoje. Aí vieram os meses de restrições, a melhora nos números, e então as eleições, quando começou o que estamos vendo hoje. Os indicadores de retransmissão começaram a subir em outubro, no começo da campanha, sem transparência dos governos, e pioraram nas festas de fim de ano e no carnaval, e chegamos onde chegamos. E quem está pagando a conta disso é o comércio de porta para rua, que está impedido de funcionar”, analisa.
Ao Bom Gourmet Negócios, Paulo Solmucci afirmou que já há a sinalização de avanço de algumas medidas de auxílio, como a prorrogação do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm) após a sanção da medida provisória prevista para esta semana, com duração de quatro meses; a prorrogação por mais três meses da carência para o início do pagamento das parcelas do Pronampe; entre outras ações isoladas nos estados.
Ele esclarece, ainda, que o setor vai atrás de uma reparação do poder público pelas perdas provocadas pelas restrições de deslocamento e distanciamento social.
"Será alegado o principio de que se o estado provocou a perda, o estado vai ter que reparar", finaliza Solmucci.
Vai ser buscada uma reparação com os estados e depois, gradativamente, empresa por empresa.