Mercado e Setor
Vinícolas estimam maior safra dos últimos 20 anos, mas falta de garrafas desafia produção
Com a colheita das uvas praticamente 50% concluída, a previsão para a safra brasileira desse ano é otimista: a expectativa é chegar às 800 mil toneladas, contra apenas 500 mil no ano passado. Se a conta se concretizar, será o maior número dos últimos 20 anos.
As estimativas são da União Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), que também comemorou em 2020 um dos melhores anos da história do vinho fino brasileiro, com 56% de aumento nas vendas e recorde no consumo ao longo dos meses de isolamento social.
Por conta da geada em época de floração, a safra do ano passado ficou com volume prejudicado, e passou longe do recorde de 750 mil toneladas, atingido em 2017. No entanto, para a colheita de 2021, todas as condições climáticas ajudaram.
“Ano passado foi um pouco frustrante, embora a qualidade das uvas tenha sido ótima. Pra esse ano, pelo que tudo indica, teremos uma safra recorde em volume, mas também a qualidade das uvas melhorou ainda mais”, comemora o presidente da Uvibra, Deunir Argenta.
O volume maior de frutos colhidos traz também uma boa notícia para o bolso do consumidor: com a produção em escala maior, a Uvibra acredita que poderá amenizar os reajustes de preço que estavam previstos para esse ano.
Falta de embalagens
Por outro lado, apesar da safra recorde de uvas, a falta de embalagens para engarrafar e empacotar os vinhos pode travar as vendas neste ano.
O fechamento temporário de fábricas de vidro no início da pandemia, aliado à maior demanda pelas garrafas, fez com que o mercado nacional ficasse desabastecido. Dessa forma, os produtores nacionais buscaram a solução - em dólar - em países vizinhos como Argentina e Chile.
A indústria de papelão, usado nas caixas da bebida, também sofreu com desabastecimento ao longo de 2020, mas a previsão é de que o estoque já esteja normalizado para as próximas produções.
Segundo Argenta, o problema do papelão é o menor neste momento, já que pode ser produzido rapidamente. O grande empecilho mesmo para a produção recorde do ano será engarrafar o vinho.
“As fábricas de vidro dependem de fornos que podem levar até dois anos para ficarem prontos, então a falta de garrafas vai continuar sendo um desafio esse ano, especialmente com o aumento da produção”, afirma Argenta.
No final do ano passado, a Uvibra chegou a ter reuniões com indústrias de vasilhames para a instalação de uma planta na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional de vinhos. As negociações continuam.
Assim como as vinícolas, as indústrias de cerveja também estão passando por essa dificuldade. A Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro) afirma que a situação deve ser normalizada até o final do primeiro trimestre.
Otimismo em relação ao consumidor brasileiro
Dados da Ideal Consulting mostram que, até o final do terceiro trimestre de 2020, o consumo per capita de vinho pelo brasileiro bateu recorde e chegou a 2,78 litros (maiores de 18 anos), um crescimento de 30% na comparação com 2019 entre a importação e a produção nacional de vinhos. A consultoria aponta, no entanto, uma tendência de queda em 2021, para algo em torno de 2,40 a 2,50 litros.
Embora reconheça que foi a pandemia que alterou o hábito de consumo de muitos brasileiros, Deunir Argenta acredita que o ano que vem reserva ainda boa surpresas para o setor.
"O consumo de vinho nacional aumentou, mas também o de importado, o que nos mostra que não foi apenas uma questão de preço. Acho que atingimos o gosto do brasileiro, quebramos algumas barreiras. O consumo per capita no Brasil ainda é pequeno, temos espaço de sobra para crescer", diz.