Mercado e Setor
Restaurantes e lanchonetes fecham até 8 de março; veja como vão atender em Curitiba
A decisão do governo do Paraná de implantar uma quarentena a partir deste sábado (27), até o dia 8 de março, pegou de surpresa os empreendedores do setor de alimentação fora do lar. O decreto mais restritivo, anunciado na manhã desta sexta (26) pelo governador Carlos Massa Ratinho Junior, foi totalmente acatado pela prefeitura de Curitiba, que ainda incluiu regras da bandeira laranja que já estava em vigor na cidade desde quinta (25).
Com isso, todos os setores do comércio que não são considerados essenciais devem fechar as portas durante estes quase 10 dias de restrições, exceto supermercados, padarias, açougues, farmácias e postos de combustíveis. Já os restaurantes e lanchonetes podem operar apenas nas modalidades de delivery, drive-thru e balcão/take away, mas com restrições de horários.
Veja o que determina o novo decreto 400/2021 da prefeitura de Curitiba, válido até o dia 8 de março:
Bares, casas noturnas, atividades correlatas e de entretenimento:
Funcionamento suspenso.
Funcionamento suspenso.
Buffets de eventos sociais e correlatos:
Funcionamento suspenso.
Funcionamento suspenso.
Restaurantes e lanchonetes de rua:
Atendimento presencial suspenso, permitido servir apenas nas modalidades de delivery, drive-thru e balcão (take away) diariamente, das 6h às 23h. Já aos domingos, o serviço de balcão está suspenso.
Atendimento presencial suspenso, permitido servir apenas nas modalidades de delivery, drive-thru e balcão (take away) diariamente, das 6h às 23h. Já aos domingos, o serviço de balcão está suspenso.
Panificadoras, padarias e confeitarias de rua:
Permitido o atendimento presencial sem consumo no local, diariamente das 6h às 23h.
Permitido o atendimento presencial sem consumo no local, diariamente das 6h às 23h.
Demais serviços de alimentação:
Permitido o atendimento presencial sem consumo no local das 6h às 23h, exceto no domingo em que será autorizado apenas na modalidade de delivery: comércio varejista de hortifrutigranjeiros, quitandas, mercearias, distribuidoras de bebidas, peixarias e açougues; mercados, supermercados e hipermercados; feiras livres e comércio ambulante de rua de alimentos.
Permitido o atendimento presencial sem consumo no local das 6h às 23h, exceto no domingo em que será autorizado apenas na modalidade de delivery: comércio varejista de hortifrutigranjeiros, quitandas, mercearias, distribuidoras de bebidas, peixarias e açougues; mercados, supermercados e hipermercados; feiras livres e comércio ambulante de rua de alimentos.
Segundo a prefeitura de Curitiba, o decreto “reforça a necessidade de todos os serviços e atividades observarem a capacidade máxima de ocupação que garanta o distanciamento mínimo de 1,5 metros entre as pessoas, considerando os frequentadores e os funcionários presentes no local”.
Além disso, o decreto ainda proíbe a venda e o consumo de bebidas alcoólicas em espaços públicos e estabelecimentos comerciais diariamente, das 20h às 5h. E institui um toque de recolher no mesmo horário, mas sem afetar a circulação dos funcionários dos serviços de alimentação e atividades essenciais.
Na entrevista coletiva em que anunciou as medidas mais duras, o governador Carlos Massa Ratinho Junior afirmou que o decreto foi elaborado com a participação e anuência dos prefeitos dos 399 municípios do Paraná, mas que eles têm autonomia para decidirem se acatam a todas ou não – e se acrescentam novas regras, como fez a prefeitura de Curitiba.
Beira da falência
A decisão municipal de retomar a bandeira laranja em Curitiba já tinha desagradado aos empresários, por limitar as vendas em um dos dias de maior faturamento. Agora, com o decreto estadual, fez o setor lamentar ainda mais e temer mais perdas não apenas de receita, mas também a falência de estabelecimentos que já estavam operando com o caixa no vermelho.
Para explicar esse temor, uma manifestação realizada na tarde de quarta (24), no Centro Cívico, mostrou os impactos causados pelos decretos sanitários no setor: a falência de 40% dos bares, 30% dos restaurantes, 75% das casas noturnas e 80% das empresas de eventos no Paraná – o desemprego chegou aos 90 mil trabalhadores formais e informais.
Presidente da seccional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), Nelson Goulart Junior afirma que o setor nunca discordou da importância de se preservar a vida antes da economia, mas que a gestão da pandemia não está sendo conduzida como deveria pelas autoridades.
“Não queremos discutir do por que, passado um ano, ainda termos de editar decretos sem o mínimo de previsibilidade. Não aprendemos nada? Não queremos discutir o porquê houveram reduções de leitos de UTI, as aglomerações nas eleições, o abre e fecha sem critérios claros, o porquê de os ônibus poderem andar lotados. Quem vai pagar os salários dos funcionários a partir de amanhã (sábado, 27), o aluguel ou o IPTU se não podemos usar as casas”, questiona.
Gustavo Grassi, vice-presidente do Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba (Sindiabrabar), afirma que o impacto que o setor vai ter com esta quarentena será praticamente irreparável.
“Vários empresários que ainda estavam sobrevivendo de alguma forma irão fechar definitivamente. As estatísticas de fechamento de empresas irão subir exponencialmente, não apenas dentro do nosso setor, e a economia que de certa forma apresentava uma melhora, agora irá cair novamente”, lamenta.
Para ele, de nada adianta editar novos decretos
mais restritivos se as pessoas, no dia a dia, não seguem os protocolos. Ele
cita as aglomerações que vê em festas clandestinas, ônibus lotados, etc.
mais restritivos se as pessoas, no dia a dia, não seguem os protocolos. Ele
cita as aglomerações que vê em festas clandestinas, ônibus lotados, etc.
A conta não fecha
Os prejuízos para o setor não vão se limitar apenas aos dez dias de fechamento obrigatório, mas já a partir desta sexta (26), dia em que a quarentena foi anunciada. Isso porque muitos empreendedores já fizeram a compra de alimentos perecíveis para servir no final de semana, e que não podem ser estocados para depois do dia 8.
Proprietário da pizzaria Mercatu Gourmet, Paulo Passos contou ao Bom Gourmet Negócios que gastou R$ 3,5 mil em alimentos para o preparo das pizzas gourmet até domingo. Com a nova restrição, o que não pode ser aproveitado é doado aos funcionários ou, quando não é possível, é perdido.
“Nem consegui mensurar ainda [as perdas]. Meu salão, em épocas normais, sempre correspondeu a 60% até 65% das minhas vendas. Entrou a pandemia e caíram para 20%. Obviamente o delivery aumentou um pouco, mas não o suficiente”, diz ressaltando que ficará sem nenhuma receita na hora do almoço, em que serve apenas presencialmente.
Já a chef Gabriela Carvalho, que tem no sábado e no domingo os principais dias de atendimento no seu Quintana Gastronomia, afirma que deixará de faturar R$ 80 mil ao longo deste final de semana, sendo que 1/5 disso é de alimentos perecíveis que não podem ser armazenados para depois.
“O que mais me toca é que tenho colaborador que está sofrendo em dívidas, que só ganha se tem venda. Se o restaurante está fechado, não tem venda. E a família dele está em uma situação que não sabe o que fazer”, lamenta pensando nas famílias que dependem do restaurante para viver.
Aos empresários que já fizeram estoques para
este final de semana, a Abrasel-PR pediu aos empresários que guardem as notas
fiscais das compras para um pedido posterior de reparação. A entidade diz que
entrará com ações para que os gastos sejam ressarcidos aos empreendedores.
este final de semana, a Abrasel-PR pediu aos empresários que guardem as notas
fiscais das compras para um pedido posterior de reparação. A entidade diz que
entrará com ações para que os gastos sejam ressarcidos aos empreendedores.
Não há mão dupla
Por outro lado, o empresário Lucas Araújo, franqueado da rede Cão Véio em Curitiba, vai além e lembra que os governos estadual e municipal apenas impuseram medidas restritivas sem qualquer tipo de contrapartida benéfica para o setor – nem mesmo desconto ou carência nas contas do dia a dia ou tributos.
“Um ano [de restrições] e não tivemos nenhum tipo de conquista no sentido de amenizar aluguéis. Eu tive sorte de negociar com o proprietário e ganhar uma boa colher de chá. Mas penso que deveria ter vindo algo de cima pra baixo com relação a isso”, analisa.
Nelson Goulart Junior, presidente da Abrasel-PR,
completa a afirmação lembrando que os estabelecimentos continuam sendo cobrados
por todas as contas mesmo sem clientes e sem geração de caixa.
completa a afirmação lembrando que os estabelecimentos continuam sendo cobrados
por todas as contas mesmo sem clientes e sem geração de caixa.
“Podia-se lançar um imposto extraordinário a quem não perdeu rendimentos, afinal a fatura da crise deveria ser paga por todos para compensar os que viram as suas atividades encerradas ou restringidas. Queremos, isto sim, reparação”, completa.
A entidade afirma que entrará na justiça com os restaurantes para que os gastos causados pela pandemia ao longo destes mais de 11 meses de restrições sejam ressarcidos. Em paralelo, a Abrasel-PR fez um acordo com o sindicato laboral para que funcionários dos estabelecimentos que decidirem paralisar temporariamente as atividades sejam permitidos de antecipar as férias ou banco de horas.