Mercado e Setor
Após salto bilionário no ano passado, delivery terá crescimento menor em 2021
Como parte das medidas de combate à pandemia de coronavírus, muitos restaurantes e lanchonetes precisaram diminuir a capacidade de atendimento presencial ao longo de 2020, o que afetou dramaticamente o faturamento dos estabelecimentos.
A impossibilidade de receber os clientes, no entanto, fez crescer de forma exponencial o mercado de delivery. Dados compilados pela startup espanhola Comprar Acciones apontam que o mercado global de delivery online de comida cresceu quase 27% em 2020, passando de US$ 107 bilhões (R$ 575 bilhões) em 2019 para US$ 136 bilhões (R$ 731 bilhões).
A tendência foi acompanhada pelos empresários brasileiros, segundo aponta uma pesquisa do Instituto Locomotiva, encomendada pela VR Benefícios. Os dados demonstram que a proporção de restaurantes, lanchonetes, padarias e mercados brasileiros que fazem delivery passou de 49% antes da pandemia, para 81% depois das medidas restritivas.
Um dos estabelecimentos que tiveram um desempenho surpreendente no delivery foi o bistrô e açougue Boi and Beer, de Curitiba, que cresceu impressionantes 1.540% no formato ao longo de 2020. A entrega dos cortes e pratos não tinha destaque no plano original do negócio, mas foi a saída encontrada pelos donos para reequilibrar as contas.
“A gente tinha um pouco de receio do nosso produto perder a qualidade no caminho, então a entrega nunca foi muito o foco. Mas tivemos que ficar com a casa fechada por muito tempo e o delivery foi uma maneira de manter a renda e não demitir ninguém”, afirma Alessandro Sprea, um dos sócios do negócio.
A adaptação dos pratos para o sistema de entregas e o teste e escolha das embalagens mais apropriadas levaram cerca de 40 dias. No setor de açougue também foram criados produtos pensados para a quarentena, como kits para churrasco ou hambúrguer em casa - o maior sucesso de vendas do período.
Mesmo com a reabertura da casa e a gradativa normalização do atendimento, os empresários não pensam em frear as entregas, pelo contrário. A marca inicia 2021 com o plano de expansão que inclui uma cozinha central, centro de distribuição e delivery, além da segunda unidade na cidade. Atualmente, os pedidos para entrega podem ser feitos pelo site próprio do restaurante ou por meio de aplicativos de entrega.
O levantamento da VR demonstrou que 47% dos estabelecimentos criaram novos canais de venda a partir da pandemia como forma de sobrevivência. O comércio pelo telefone foi o mais adotado, com 71% de adesão. Na sequência, vem o Whatsapp (63%), o e-commerce próprio (51%), as vendas online (42%) e os aplicativos de entrega (39%).
Aplicativos aproveitam mudança no hábito de consumo
"A pandemia ajudou, mais que qualquer outra coisa, a catequizar o hábito. As pessoas tinham na cabeça que o delivery era uma ocasião especial, mas durante a quarentena isso virou rotina, necessidade, virou serviço. Hoje tem gente que pede pão pelo iFood”, diz Felipe Crull, executivo da plataforma.
O número de estabelecimentos ativos no iFood cresceu 81,5%, de março a novembro de 2020, em todo o Brasil, com mais de 100 mil novos cadastros. O tipo de pedidos que mais cresceu foi o de café da manhã, com 200% de aumento. Os lanches na madrugada também registraram aumento de 116% no período.
No Paraná, o número de novos restaurantes aumentou 61%, segundo a empresa. Já a fatia de estabelecimentos que reativaram seus cadastros na plataforma cresceu ainda mais: 273%.
Em funcionamento há pouco mais de um ano no Brasil, a 99Food também teve o crescimento potencializado pela quarentena. Com foco maior em pequenos negócios, a plataforma que está presente em 21 cidades brasileiras aproveitou a crise como oportunidade para negócios.
A 99Food teve duas ondas de impacto na demanda: a primeira no começo de março, quando os restaurantes fecharam diante da determinação de quarentena, quando foi registrado um aumento de 20% a 30% de pedidos.
"Já na segunda onda, que começou no final de março e se mantém estável até agora, o aumento se manteve na linha dos 30%”, afirma o diretor-executivo da plataforma, Danilo Mansano.
O aplicativo chegou à Curitiba em abril de 2020, no ponto alto do isolamento social. O crescimento de pequenos e médios negócios cadastrados na cidade foi de 300% ao longo do ano, com 96% de aumento na quantidade de pedidos.
Com um crescimento um pouco menor, mas ainda assim considerável, o Rappi teve um incremento de 40% no número de pedidos de refeições por delivery ao longo de 2020. O forte da plataforma mesmo foi com as entregas de alimentos no varejo (79% entre farmácias e supermercados) e e-commerce geral (57%).
O crescimento dos pedidos por delivery teve como impulsionador a instalação de dark kitchens em cidades como São Paulo, Campinas (SP), Fortaleza, Recife, Curitiba e Belo Horizonte. Ao todo, são 100 unidades de cozinhas voltadas exclusivamente ao preparo para entrega domiciliar.
Crescimento desacelera, mas continua em 2021
"Certamente o delivery foi um dos grandes aliados da população durante a pandemia. Além de ferramenta aos que estavam isolados em casa, se tornou uma forma de geração de renda para restaurantes e entregadores parceiros. Acreditamos que mesmo com o fim gradativo da pandemia, esse mercado continuará a crescer, pois o país possui amplo espaço para conquistar novos consumidores”, diz o diretor da 99Food.
A projeção da Comprar Acciones para 2021 é de que o mercado global de delivery online de alimentos passe a valer mais de US$ 151 bilhões (R$ 812 bilhões), um aumento de 11% em relação ao ano passado.
No Brasil, segundo o levantamento Consumer Insights, da Kantar, as entregas de refeições têm mais de 80% de penetração em áreas urbanas, entre consumidores de até 50 anos. No entanto, ainda há desafios a serem superados.
A Kantar aponta que 44% dos consumidores brasileiros consideram uma barreira para o delivery o fato de não haver funcionários disponíveis para tirar dúvidas; 33% não confiam em fornecer dados para compras online e 16% se preocupam com atrasos na entrega.