Mercado e Setor
Impactado pelo dólar, consumo de vinho no Paraná ensaia retomada após redução do ICMS
Pouco mais de um mês da redução da alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de 29% para 18% sobre vinho e sucos derivados de uva produzidos no Paraná, (projeto aprovado pela Assembleia Legislativa do estado e sancionado pelo governador), um impacto na redução de preços - mesmo que sutil - vem ajudado a ampliar o consumo da bebida, que também é fortemente influenciada pela alta do dólar. Em 2020, a moeda norte-americana acumulou alta de 30%, e vem se mantendo a um patamar acima dos R$5, com picos de quase R$6 em dezembro passado.
Segundo o presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras), Carlos Beal, a redução da alíquota é fruto de um trabalho de quase dois anos que a entidade e o setor vem pleiteando: com o ICMS mais caro do Sul do Brasil, o Paraná tem um problema amplo de contrabando de vinhos, por conta da proximidade com países como a Argentina e o Paraguai. O que afeta muito o ramo supermercadista e de alimentação fora do lar. "Com imposto mais barato, o vinho fica mais acessível, o contrabando diminui e gera mais receita para o estado", acredita.
O impacto na arrecadação estimada pela Secretaria da Fazenda é de R$ 45 milhões a menos, em média, nos próximos três anos. Dos 18% da alíquota vigente no Paraná, 2% serão destinados ao Fundo Estadual de Combate à Pobreza, que promove acões de redução da pobreza e desigualdade social no Paraná.
De acordo com Beal, que também é um dos fundadores da Rede Festval, referência na comercialização de vinhos, a redução do ICMS vem permitindo, no caso dos supermercados, uma redução de 20% no preço final ao consumidor. "Vi relatos de vários supermercadistas que estão passando esse novo preço porque ele se beneficia inclusive com o que já tinha em estoque, pois paga menos ICMS na saída".
Ao longo de abril, conta Beal, o Festval percebeu um aumento do consumo com o preço mais baixo; as altas sucessivas do dólar e do euro fizeram o valor saltar nos últimos dois anos. O presidente da Apras fala que o impacto negativo no consumo da bebida não ocorreu apenas por conta da pandemia. "Com os eventos cancelados, restaurantes fechados e novos hábitos, o consumo migrou para as casas e, só por isso, não vimos uma queda na venda".
Dados da Ideal Consulting, consultoria que acompanha o mercado de bebidas no Brasil, entre março de 2020 e fevereiro de 2021 as importações cresceram 29,4% no país, e a comercialização de vinhos e espumantes teve alta de 3%. A participação de compra dos supermercados neste montante foi de pouco mais de 30%, atrás apenas das importadoras tradicionais, que realizaram 58% das operações.
Restaurantes e produção local
No caso dos restaurantes, o impacto da redução do ICMS não se reflete de maneira tão evidente quanto supermercados ou grandes redes, por conta do volume e do estoque: algumas vinícolas importam determinados rótulos ano sim ano não, por exemplo. Logo, muito do que já está nas adegas não é impactado pela alíquota menor. O repasse, diz o gestor do Terrazza 40, de Curitiba, Marcelo Stebner Campos, fica em torno de 5% no segmento. "Um vinho de R$ 96 caiu para R$ 91, que é uma redução que o consumidor não repara", diz.
O ICMS mais baixo, entretanto, permitiu que os vinhos ao menos não aumentassem de preço, sobretudo os nacionais, especialidade da carta de vinhos do Terrazza 40; dos 350 rótulos, 150 são brasileiros (a meta de Campos é chegar a 200). O gestor conta que insumos na produção e envase de vinho, como a garrafa, subiram muito: de R$ 3 para R$ 8 o recipiente em alguns casos. "No Rio Grande do Sul, vinhos subiram de R$ 15 para R$ 20 no preço final, o que não ocorreu no Paraná pela diminuição do ICMS. Vinícolas locais com as quais trabalho, como a Araucária, a RH e a Legado mantiveram os preços", diz ele, que é um entusiasta da produção brasileira e incentivador das vinícolas nacionais.
Para Campos, o consumo de vinhos no Brasil, mesmo com os valores elevados por causa do dólar, não deve sofrer perdas: no Terrazza 40 a média de venda é de 1.100 garrafas por mês nos períodos de funcionamento pleno pré-pandemia. "Nos últimos 20 anos o brasileiro aderiu ao vinho como produto", salienta.