Mercado e Setor
Consumo per capita de vinhos no Brasil bate recorde em 2020, mas pode diminuir neste ano
Embora os principais indicadores de mercado ainda não tenham sido completamente fechados, o ano de 2020 se mostrou como responsável por tornar o vinho como uma das bebidas preferidas dos brasileiros. Dados da consultoria Ideal Consulting mostram que, até o final do terceiro trimestre, o consumo per capita chegou a 2,78 litros (maiores de 18 anos), um crescimento de 30% na comparação com 2019 entre a importação e a produção nacional de vinhos.
Isso se explica principalmente pela chegada do coronavírus, que fez as pessoas passarem mais tempo em casa e correrem para as compras online e supermercados, já que os bares e restaurantes passaram boa parte do ano fechados. A valorização do Dólar frente ao Real por causa das incertezas da pandemia fez o consumo dos vinhos nacionais aumentar consideravelmente, mas também fez as importadoras investirem em rótulos mais em conta para a venda no varejo.
Para Felipe Galtaroça, CEO da Ideal Consulting, os vinhos acabaram ganhando um lugar de destaque na preferência das pessoas ao longo do ano por conta de uma melhor disposição em experimentar novos sabores. A disputa com a cerveja, que sempre foi tida como uma bebida mais massificada no país, foi ganha principalmente por esta remeter mais aos ambientes de bares e da boemia, não tanto na experimentação em casa.
“As pessoas passaram a ir mais para a cozinha e a se reunir mais com amigos e parentes, e o vinho tem essa questão mais social de ser e de acompanhar preparos de pratos mais elaborados. Vimos durante a pandemia muita gente experimentando seus dotes culinários, e o vinho acabou sendo um melhor companheiro para estas ocasiões”, explica lembrando que as cervejas super premium, com diferentes aromas e sabores, também passaram a ser mais valorizadas nos novos costumes.
Na comparação com os nossos vizinhos argentinos,
o Brasil ainda está bem atrás no consumo per capita de vinho – são cerca de 20
litros ao ano, em média segundo a International Organisation of Vine and Wine
(OIV), uma organização intergovernamental do qual o Brasil é um dos
signatários.
o Brasil ainda está bem atrás no consumo per capita de vinho – são cerca de 20
litros ao ano, em média segundo a International Organisation of Vine and Wine
(OIV), uma organização intergovernamental do qual o Brasil é um dos
signatários.
Ao longo de todo o ano de 2020, o mês de julho bateu recorde de abastecimento, com mais de 63,4 milhões de litros de vinho tintos e brancos nacionais e importados vendidos no mercado.
Vinho nacional
Responsáveis por boa parte do consumo de vinhos ao longo de 2020, os rótulos nacionais tiveram um salto de 58,11% de janeiro a novembro na comparação com o mesmo período de 2019, passando de 14,3 milhões para 22,7 milhões de litros. Já entre as espumantes, a diferença de um ano para o outro foi de 1,07 milhão de garrafas a menos, principalmente pela falta de insumos (houve uma quebra no fornecimento de garrafas) e cancelamento de eventos.
Para Deunir Argenta, presidente da União
Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), o prolongamento da pandemia afetou
diretamente as vendas das espumantes. Mas, no geral, ele acredita que o vinho
nacional saiu vitorioso com uma aderência muito maior entre os brasileiros.
Brasileira de Vitivinicultura (Uvibra), o prolongamento da pandemia afetou
diretamente as vendas das espumantes. Mas, no geral, ele acredita que o vinho
nacional saiu vitorioso com uma aderência muito maior entre os brasileiros.
“A percepção da qualidade do produto pelo próprio brasileiro que, movido pela alta do dólar, passou a optar pelos rótulos nacionais, é motivo de comemoração, pois mostra um novo período para o setor. O consumidor está aberto a viver novas experiências, a fazer descobertas”, diz.
Entre os motivos que o levam a crer nessa disposição dos brasileiros em provar cada vez mais os rótulos nacionais está não apenas a questão “preço”, mas principalmente a variedade. O Brasil produz vinhos e espumantes em 26 regiões espalhadas por dez estados, principalmente no Sul do país, parte do Sudeste e no Vale do São Francisco, entre a Bahia e Pernambuco.
Importados
Dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços mostram que a importação de vinhos finos chegou a 133,3 milhões de litros entre janeiro e novembro do ano passado, 26% a mais do que no mesmo período de 2019. Destes, segundo a Ideal Consulting, 76% vieram do Chile, Portugal e Argentina principalmente ao longo do mês de novembro, quando os importadores aumentaram as compras.
“O mês de novembro foi um recorde na importação de vinhos, de 59% a mais do que no mesmo mês de 2019. O Real teve uma leve valorização frente ao Dólar após a eleição nos Estados Unidos e os importadores anteciparam as compras de fim de ano, o que fez aumentar o volume importado”, analisa Felipe Galtaroça.
Ele afirma que o desafio agora será manter o consumo de vinhos em alta no país, mesmo com a reabertura gradual dos bares e restaurantes. Para o CEO da Ideal Consulting, já se espera uma queda na média per capita em 2021 para algo em torno de 2,40 a 2,50 litros.
“A gente tem que ressaltar que 2020 foi um ano atípico, fora do comum. Com a retomada da rotina das pessoas após efetivamente uma vacina, fica muito incerto o quanto esse consumidor que provou novas bebidas vai continuar consumindo. Mas vemos que a frequência vem crescendo desde 2019, e deve continuar assim”, completa.
Entre os dados apurados pela consultoria, ainda, está o avanço do consumo de vinhos rosés no mercado nacional, com uma média de 30% ao ano.