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Consumo per capita de vinhos atinge máxima histórica na quarentena.

Mercado e Setor

Consumo de vinhos bate recorde na quarentena e rótulos nacionais ganham espaço

Stephanie Abdalla, especial para o Bom Gourmet
17/08/2020 14:30
O consumo per capita de vinhos no Brasil está em uma crescente desde 2017 e, este ano, apesar da crise enfrentada em vários setores da economia por conta da pandemia, o índice não apenas mantém o crescimento como atingiu máxima histórica no segundo trimestre.
Um levantamento feito pela Ideal Consulting, empresa de inteligência de mercado especializada no consumo de bebidas e alimentos, indicou que nos meses de abril, maio e junho, foi registrada uma média de 2,81 litros consumidos por pessoa - 39% a mais do que no mesmo período no ano passado.
Em análise, importadoras relatam alguns possíveis motivos para este aumento. O mais citado é a relação do vinho com a gastronomia, que também está em alta durante a pandemia.
De acordo com Hugo Sola, diretor comercial da importadora Porto a Porto, o vinho é uma bebida familiar, por isso muito consumida dentro de casa, com familiares e amigos. "Como as pessoas estão passando mais tempo em casa, estão também se aventurando mais na cozinha. Elas estão dispostas a experimentar e isso inclui o universo dos vinhos”, afirma.
O sommelier e gerente comercial da importadora MMV, Jonas Martins, afirma também que o aumento não se restringe apenas ao valor quantitativo. “As pessoas não estão apenas comprando mais vinhos, elas estão comprando vinhos mais finos. Nosso vinho mais vendido na história da empresa, por exemplo, é o Cinco Sentidos Reserva Malbec, que custa em torno de R$70. Durante a quarentena, outro vinho da mesma linha, mas que custa R$130, está acabando no estoque. As pessoas estão dispostas a gastar mais”, diz.
Outro fator que explica o aumento do consumo de vinhos na quarentena é o maior diálogo sobre enologia em canais alternativos de comunicação. Para o diretor comercial da Porto a Porto, até pouco tempo atrás não se falava de vinho no Brasil, a não ser em ambientes muito específicos como as próprias vinícolas.
“Vários comunicadores perceberam isso e incluíram a pauta do vinho em seus cronogramas. Consigo pensar em alguns youtubers e influencers que começaram a falar de enologia em seus canais durante a quarentena. E as pessoas gostam porque o vinho tem história, ele faz parte de uma cultura”, afirma Sola.
Pensando nesses novos canais, Jonas Martins destaca também as plataformas e-commerce que, apesar de não serem uma novidade, se tornaram mais recorrentes entre as lojas. “Por meio do varejo online, as pessoas encontram um nova oportunidade de consumo e as lojas e supermercados, que neste momento são os maiores consumidores das importadoras, têm a chance de estreitar a relação com os clientes”, afirma.
Vinhos nacionais
O consumo per capita de vinhos não foi o único valor registrado pela Ideal Consulting que cresceu durante a pandemia. A comercialização de rótulos nacionais também aumentou expressivamente, sendo que a venda de vinhos de mesa brasileiros aumentou 39% no primeiro semestre, se comparada ao mesmo período de 2019, e com relação aos vinhos finos, o crescimento proporcional foi ainda maior; de 50%.
“Uma vez que os rótulos importados ficaram mais caros, as pessoas optaram por experimentar o produto nacional e se surpreenderam”, afirma Martins, da importadora MMV.
Expectativas e desafios do pós
pandemia
A perspectiva da Ideal Consulting sobre o consumo per capta de vinhos para o período pós pandemia é a de que haja uma leve redução. No entanto, como não se sabe quando as pessoas poderão retomar suas rotinas. Mesmo que a retomada seja ainda neste ano, há a expectativa de que a quantidade de litros de vinho consumida por pessoa não reduza muito, considerando que o melhor período de vendas no ano é o último trimestre, por conta das datas comemorativas.
Além das festividades, o que motiva as importadoras é a ideia de que alguns hábitos criados durante a quarentena não serão perdidos depois dela. Para Sola, da Porto a Porto, as pessoas continuarão bem atentas à saúde e a alimentação de qualidade, vinculada ao vinho, está muito relacionada a isso. O desafio, segundo ele, será manter o diálogo estabelecido com os novos canais de divulgação. “Precisamos continuar falando de vinho quando tudo isso passar!”.
Um desafio do mercado é buscar alternativas para impulsionar o canal de vendas on trade (venda a bares e restaurantes), que esteve congelado neste período. Não se sabe a que passo evoluirá a retomada do setor de alimentação fora do lar no pós-pandemia, mas é uma responsabilidade das importadoras contribuírem para esse processo a fim de recuperar um canal de vendas que é “essencial no mercado”, como afirmam as empresas.

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