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O fechamento dos bares pegou os empresários de surpresa, já que tinham feito as compras de insumos para o final de semana.

Mercado e Setor

Bares voltam a ser proibidos de funcionar em Curitiba, restaurantes fecharão uma hora mais cedo

Guilherme Grandi
27/11/2020 16:03
A capital paranaense voltará à bandeira laranja de risco médio de contaminação do coronavírus a partir desta sexta (27) pelos próximos sete dias. O anúncio foi feito pela manhã pela prefeitura após dois meses de flexibilização do funcionamento de bares, lanchonetes, restaurantes e eventos.
No entanto, com o avanço da pandemia nas últimas semanas e o registro recorde de novos casos, a prefeitura de Curitiba viu a necessidade de voltar a restringir diversas atividades. Com isso, o setor de alimentação fora do lar passa a funcionar com maior limitação até o dia 4 de dezembro pelo novo decreto 1600:
Bares, casas noturnas, atividades correlatas e de entretenimento:
Funcionamento proibido na modalidade principal de alvará.
Buffets de eventos corporativos e sociais:
Funcionamento proibido.
Buffets de eventos (catering) nas casas das pessoas:
O decreto permite a realização de eventos familiares com a presença permitida apenas de pessoas da mesma família e que residam no mesmo domicílio. No entanto, a secretaria municipal de saúde foi enfática em recomendar que se evite qualquer tipo de aglomeração, mesmo familiar. Assim, serviço de catering domiciliar também está proibido e vai haver fiscalização, segundo a secretária Márcia Huçulak.
Restaurantes e lanchonetes de rua:
Funcionamento permitido diariamente das 6h às 22h (uma hora a menos que no decreto anterior), inclusive os buffets de autosserviço seguindo os protocolos de higiene e segurança. Também é permitida a apresentação de música ao vivo diariamente, mas sem pista de dança.
Restaurantes e lanchonetes de shoppings centers:
Funcionamento permitido no horário de atendimento dos shoppings: diariamente, das 8h às 22h (uma hora a menos que no decreto anterior).
Demais serviços de alimentação:
Permitido o atendimento presencial diário em horário livre.
A operacionalização interna dos estabelecimentos
permitidos devem seguir as normas já em vigor:
  • Uma pessoa a cada 9m² no interior dos estabelecimentos, considerando a área total de circulação de pessoas e o número de funcionários, sendo que todos os clientes devem permanecer sentados.
  • O servimento feito pelos estabelecimentos poderá ser realizado somente aos clientes que estejam devidamente assentados, mantendo as regras de distanciamento social.
  • Restaurantes e lanchonetes com consumo de alimentos no local devem providenciar o espaçamento mínimo 1,5 metros entre as pessoas ou de 2 metros entre as mesas.
  • As mesas para consumo de alimentos dos restaurantes devem ser higienizadas antes e após a utilização.
  • As louças, talheres e utensílios devem ser colocados à mesa somente na hora de servir e não devem ficar expostos.
  • Nos buffets de autosserviço, é recomendado oferecer uma pia para a lavagem das mãos ou álcool em gel 70% obrigatório em grande quantidade nas mãos; disponibilizar luvas descartáveis, com uma lixeira ao fim do buffet para o descarte; obrigatório o uso da máscara para se servir com distanciamento de um metro entre as pessoas e proibido conversar em cima do buffet.
Demais determinações do protocolo sanitário para estabelecimentos de alimentação podem ser consultadas aqui.
Antes do final de semana
A volta da bandeira laranja à Curitiba antes do final de semana pegou os empreendedores de surpresa. Dono das redes de bares Mr. Hoppy, Porks e Bar do Açougueiro, José Araújo Neto diz que não houve sequer tempo para a preparação, já que entrou em vigor e foi publicado no mesmo dia. Normalmente, a prefeitura concedia alguns dias de adaptação dos serviços.
“Vamos ter uma perda de insumos perecíveis. Tudo que temos de comida e bebida vai ser perdido de uma hora para a outra, não consigo nem calcular. Se esse decreto tivesse sido publicado na quarta, não teríamos feito as compras necessárias para o final de semana”, diz.
Os bares das redes dele têm dois alvarás, de bar e de lanchonete, e apenas neste segundo que ele poderá trabalhar. A venda de bebidas alcoólicas, que é o que define a categoria de bar, será suspensa pelos próximos sete dias.
“E vamos ter também uma perda de 10% da receita por conta da diminuição de uma hora do funcionamento. E isso não é bom, já que também acaba concentrando os clientes ainda mais cedo”, analisa.
Já o empresário Maurício Ramos, do restaurante A Sacristia, conta que o movimento estava reagindo nas últimas semanas dentro da capacidade de 50% de atendimento. Na última semana, quando os números de contágio começaram a aumentar, ele sentiu uma queda de 80% da frequência de clientes e aumento do delivery.
“As pessoas já tinham se acostumado com o fechamento dos restaurantes às 23h, agora às 22h eu fico mais preocupado. É um impacto forte no faturamento, parece pouco, mas vai afetar bastante visto que antes já funcionávamos até à 0h, diminuímos para às 23h e agora uma hora a menos”, conta.
Decreto confirmado
A entrada em vigor já nesta sexta-feira, no mesmo dia de publicação do decreto, já tinha sido adiantada internamente pela secretária municipal de saúde, Márcia Huçulak. Ao Bom Gourmet Negócios, ela afirmou que os empreendedores já tinham sido avisados de que isso poderia ocorrer.
“Tivemos três encontros com representantes do setor, e avisamos eles que nesta semana teríamos mudança se os números não melhorassem. Nos reunimos nos dias 16, 18 e 20 de novembro, tivemos uma conversa muito olho no olho com eles, e vimos que muitos restaurantes que faziam distanciamento de mesas e colocavam álcool em gel foram deixando de fazer isso”, afirmou.
No caso dos bares que têm alvará secundário de lanchonete ou de restaurante, o diretor do Centro de Epidemiologia da secretaria, Alcides Oliveira, afirmou que a fiscalização “está na rua realizando a sua atividade, as ações de fiscalização urbana também, por isso ressaltamos que todos os estabelecimentos deverão cumprir as normas sanitárias para não serem penalizados”.
Para Márcia Huçulak, as restrições são
necessárias para barrar o avanço da Covid-19 principalmente entre os jovens, já
que a maior parte das contaminações têm sido em bares, festas e eventos com
aglomerações.
“Temos tido muitos casos de transmissão
intrafamiliar, do jovem que vai num churrasco, tem contato com uma pessoa
infectada, volta pra casa e passa o vírus para os familiares. Temos que
controlar isso”, completou.
A secretaria afirmou, ainda, que a fiscalização será reforçada já a partir desta sexta com todas as equipes das forças policiais. No caso das aglomerações do lado de fora dos bares, nas ruas e calçadas, também já está havendo um reforço de ações para coibir este tipo de movimento.
Negociação
A seccional Paraná da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), também contesta a entrada em vigor do decreto no mesmo dia da publicação sem o tempo necessário para as atividades se adaptarem, ainda mais em uma sexta-feira.
Presidente da entidade, Nelson Goulart Junior
diz que está em contato com a prefeitura para se chegar a um consenso para este
final de semana. De acordo com ele, já há eventos em produção que não podem ser
simplesmente cancelados de uma hora para a outra.
“O problema é que como ele entrou em vigor no mesmo dia da publicação, nós já tínhamos eventos agendados para sábado como casamentos, e como que vai cancelar assim sem tempo para as pessoas se planejarem”, questiona.
Na manhã deste sábado (28), a entidade protocolou um mandado de segurança contra a prefeitura para que as casas de eventos voltem a ser permitidas em Curitiba enquanto vigorar a bandeira laranja. No texto, a Abrasel-PR afirma que os locais seguem os mesmos protocolos sanitários que os restaurantes, como o uso obrigatório de máscaras, a capacidade máxima de uma pessoa a cada 9 metros quadrados, o distanciamento de 1,5 metro entre elas e nas filas, o fluxo de entrada e saída e demais cuidados necessários, como a disponibilização de álcool em gel a funcionários e clientes e higienização constante das instalações, entre outros.
A associação pediu à justiça uma análise urgente do mandado. Ao Bom Gourmet Negócios, o departamento de comunicação da prefeitura informou que notificações desta natureza só ocorrem "em dias de expediente corrente, não há expediente nos fins de semana". A expectativa é de que haja alguma posição sobre o mandado de segurança apenas na segunda-feira (30).