Donos de restaurante: não aumentem os estoques por causa do coronavírus

Estamos vivendo um momento inédito no negócio de gastronomia. Não havia previsão de nada parecido no horizonte. Todos nós fomos, e continuamos sendo, pegos de surpresa com este verdadeiro tsunami. As decisões precisam ser assertivas e rápidas.

Algumas delas não estão na nossa mão: disponibilidade de crédito, impostos, acordos trabalhistas, entre outros. Porém, algumas estão. Uma delas é a gestão do estoque.

Distribuímos 223 indústrias de alimentos, embalagens, descartáveis, limpeza, proteínas, vegetais congelados e lácteos. Neste momento, dia 18 de março, o cenário que nossos fornecedores nos passaram é de total normalidade no abastecimento, ou seja, não há qualquer motivo para aumento de estoque.

O consenso é de que teremos queda no faturamento dos restaurantes. A gestão de estoque precisa estar alinhada com esta demanda projetada. A queda nas vendas é inevitável.

Certamente a maioria dos proprietários de restaurantes terão que lutar pela saúde de seu caixa. Qualquer Real pode fazer falta. Qual o sentido de ter produto parado no estoque sabendo que haverá necessidade imediata de caixa? É preciso responsabilidade na diminuição da pressão sobre o caixa.

Algumas categorias de produto estão sofrendo um aumento de preço. Duas razões explicam este fenômeno. A primeira é que estamos vendo a corrida insana aos supermercados. Cada dia são registrados novos recordes de vendas nas lojas. Esta corrida está pressionando a produção nas indústrias e fazendo valer a lei da oferta e da procura. O resultado é que uma parte do aumento está sendo produzida por nós mesmo ao aumentarmos de maneira significativa nossas compras.

Outra razão do aumento tem relação com câmbio. Uma boa parte dos insumos dos restaurantes tem seus preços regulados pelo mercado internacional. Com o dólar em disparada continua é inevitável que os preços subam. Estes aumentos são em poucos produtos se analisarmos toda a cesta de compra de um restaurante e não justificam aumento de estoque.

O momento é de lucidez e extremo cuidado com o fluxo de caixa. Precisamos sair vivos desta crise que está chegando. Na retomada haverá produto suficiente para funcionarmos normalmente. Não é hora de estocar. Não há necessidade alguma para fazer isto baseado no cenário deste momento. Vamos colocar nossos esforços na implementação de planos que nos permitam ter o menor prejuízo possível.

*Ozeias Oliveira é fundador e diretor da Gold Food Service, em Curitiba, e trabalha com distribuição de insumos para bares e restaurantes há 17 anos (e há 28 anos no setor).