Mapa da Cultura Alimentar
Shopping Mueller recebe exposição Mapa da Cultura Alimentar em setembro
No apartamento-ateliê de Gustavo Krelling, manequins coloridos e estampados vestem as criações do artista para a Exposição Mapa da Cultura Alimentar. As cenas montadas estreiam em 6 de setembro no Shopping Mueller, na exposição que faz parte do projeto da Montenegro Produções com recursos da Lei de Incentivo à Cultura. No mesmo dia está previsto o lançamento do livro sobre a expedição feita pela equipe multidisciplinar que teve como guia 12 produtos com selo de Indicação Geográfica do Paraná e de Santa Catarina.
"Nossa intenção é sair do óbvio ao reutilizar os materiais para falar de cultura alimentar", pontua o artista. "A maior parte das aplicações veio com a pesquisa bibliográfica e as visitas em campo. Quando fui à Antonina, por exemplo, encontrei muita coisa no mercado local, como os utensílios de pesca", rememora.
Instalações representam a vasta cultura alimentar brasileira
Gustavo montou seis instalações artísticas que representam a vasta cultura alimentar brasileira: do espantalho da lavoura à vendedora de frutas, os personagens estarão ambientados em uma estrutura projetada pelo escritório Givago Ferentz Arquitetura, com textos da pesquisadora Karoline Barreto. Usando uma poética de ressignificação e de reciclagem de materiais, as instalações de Krelling representarão e contarão histórias da cultura alimentar e dos produtos com selo de Indicação Geográfica abordados na pesquisa do projeto.
"Criamos um circuito orgânico para que o visitante possa caminhar por um fluxo de conhecimento de forma fluida, com vários materiais que representam a cultura alimentar, como textura de cascas, metal e madeira", explica Ferentz, cujo escritório é focado em bares e restaurantes, com mais de mil projetos executados no Brasil.
Por isso, questões cruciais para salões de estabelecimentos de alimentação, como conforto térmico e acústico, foram aplicados também nesta exposição. No percurso, telões de LED mostrarão os bastidores da pesquisa do Mapa da Cultura Alimentar, trazendo detalhes do cotidiano de trabalho dos agricultores e cozinheiros envolvidos com ingredientes de origem. "É como ver a cozinha do restaurante trabalhando", compara o arquiteto, que atuou na pesquisa junto da colega de profissão Rafaela Bruno.
Para as instalações, as pesquisas de Krelling começaram em abril e ganharam forma a partir do uso de alimentos, embalagens e utensílios de cozinha, em partes comprados e em partes coletados com a ajuda da vizinhança. Assistente de Gustavo e responsável por parte da confecção das peças, Glaci de Jesus fez um mutirão em seu condomínio para angariar boa parte do material usado na exposição, como embalagens plásticas de iogurte, refrigerantes, latas e papéis plastificados. Resíduo industrial têxtil e de acessórios figuram em meio ao reaproveitamento de sacas de juta, caixas de feira e redes plásticas.
Na cena que representa a cultura caiçara e o barreado, ninhos largos de macarrão viraram cachos de cabelo, debaixo de chapéus feitos com funil e espremedor de laranja. Utensílios de pesca, como redes e covo (armadilha para pegar peixes), além de remos, cestos e panelas de barro, foram usados na cenografia. Um dos pescadores exibe um colar de talheres prateados, que forma uma gola sobre o tecido xadrez de toalha de mesa.
A banana, fruta-símbolo do Brasil, homenageia Carmen Miranda em outra parte da instalação. Seu figurino mescla embalagens de bala de banana de Antonina com redes plásticas para frutas. "Durante a pesquisa bibliográfica, descobri que Carmen Miranda fez um show no Theatro Municipal de Antonina em 1933. Nada mais justo que juntar as duas histórias para falar de dois símbolos nacionais", explica Gustavo.
O "tecido" do vestido foi feito com papel da bala símbolo da cidade do litoral paranaense. "Desembalamos seis quilos de bala para começar o trabalho. Depois conseguimos um rolo de embalagem direto com a fábrica, o que ajudou muito", revela Krelling. No pescoço e pulsos da manequim, badulaques feitos de tampinha plástica. Completa o look uma coroa de frutas revestidas com papel brilhante de bombom.
Em uma terceira representação, a fusão entre a baiana de tabuleiro e a vendedora de frutas se encontra na montagem de um figurino com uma estrutura que circunda sua saia. As bacias penduradas em volta do manequim exibem abacaxis, cachos de uva, maçãs e bananas feitas com talheres plásticos, garrafas PET e tampas de garrafa. A vendedora veste um turbante e vestido feitos de toalha de mesa xadrez.
Sacos de café e rodelas de laranja desidratadas formam a roupa do espantalho, "protetor das lavouras", e que representa o campo. Seus olhos são formados por frutas, e a vestimenta é completada por um um chapéu de palha formado de espigas e latas de milho verde.
Arcimboldo, pintor milanês do século 16, inspirou a escultura que forma um rosto a partir de cápsulas de café, rolhas de vinho e embalagens de queijo. Os 12 produtos com Indicações Geográficas que figuram no livro estão retratados nesta obra, que mimetiza grãos de café com sementes de grão-de-bico cruas pintadas de vermelho, entre outros detalhes criativos de Gustavo e equipe.
A única instalação na exposição Mapa da Cultura Alimentar que dispensa a figura humana é o mapa do Brasil formado por sacas de juta e utensílios culinários em inox, palha e madeira. "Buscamos trazer uma unidade para o mapa com talheres, objetos e instrumentos da cozinha do dia a dia. Tem panelas, peneiras, pratos, chaleiras, esteiras e colheres de pau", explica o artista.