Bom Gourmet
iFood é banco, é gestão, é IA - e, também, um app de delivery

Diego Barreto, CEO do iFood na abertura do iFood Move, evento que acontece em São Paulo até esta quarta-feira (6). Crédito: Divulgação.
Com aumento de 25% nos investimentos em 2025, iFood aposta em dados, crédito, salão, farmácias e venda por WhatsApp para manter a liderança.
Se você ainda associa o iFood apenas a delivery de comida, seguramente está preso a um conceito do passado. A empresa anunciou na terça-feira (5) um investimento de R$ 17 bilhões em 2025 - um aumento de 25% em relação a 2024 - para fortalecer sua atuação em crédito, gestão de salão, inteligência de dados, varejo e novos canais de venda, como o WhatsApp, que já representa 20% dos pedidos pela ferramenta do Anota AI, empresa adquirida pelo ifood.
Durante a abertura do iFood Move 2025, o CEO Diego Barreto foi direto ao responder se esse movimento seria uma reação à nova onda de concorrência - incluindo a chegada da gigante Meituan e o retorno da 99Food ao Brasil. “A correlação é zero. Em 2023, investimos R$ 10 bilhões. Em 2024, foram R$ 13 bilhões. Agora, R$ 17 bilhões. O crescimento segue a mesma lógica percentual. Isso não é resposta, é trajetória”, afirmou Barreto.
Ecossistema que antecipa, não reage
Com 120 milhões de pedidos mensais atualmente e uma projeção de 200 milhões por mês em até três anos, o iFood projeta um salto de quase 1 bilhão de pedidos a mais por ano. Mas, ao contrário do que se espera, não é apenas o delivery tradicional que puxa esse crescimento.
Em termos absolutos, os restaurantes seguem como o maior volume, mas, em taxa de crescimento, quem lidera são as verticais de farmácia e supermercado, chegando a 70%. O destaque, segundo Barreto, vai para as farmácias. “É uma venda diferente do restaurante, que é mais emocional. A farmácia é direta, funcional - e fideliza rápido”.
Essa expansão é sustentada também pelo clube de fidelidade da empresa, que usa os dados de consumo em restaurantes para estimular novas jornadas de compra, como saúde e mercado, dentro do aplicativo.
Da inteligência operacional ao salão físico
Outro pilar do crescimento vem da gestão dentro do restaurante. Ferramentas como CRM, totens e painel de expedição ajudam a aumentar ticket médio em até 30%, com redução de tempo de espera e automação do atendimento.
Barreto também destacou a IA Cris, assistente que conversa com o operador e entrega insights de negócio de delivery. “Em vez de olhar planilhas, ele pergunta: o que eu mais vendo nas quintas? Vale a pena manter essa promoção? A IA responde com 96% de precisão”, explicou.
A funcionalidade já está sendo testada por mais de 10 mil estabelecimentos e atua como um copiloto de gestão. É possível ajustar preços, trocar fotos do cardápio, entender a performance dos produtos e identificar falhas que estão afetando a conversão - tudo isso por meio de uma conversa no WhatsApp.
A Cris analisa, inclusive, pedidos que foram para o carrinho, mas não foram concluídos, comparando esses dados com benchmarks de outros estabelecimentos da mesma categoria. Com isso, ela gera recomendações personalizadas e ainda explica por que determinado item não está performando bem.
Do lado do consumidor, um novo assistente conversacional com IA generativa também começa a ser testado com milhares de usuários. O recurso cria recomendações personalizadas com base no histórico de pedidos e preferências - algo descrito como “um ChatGPT para pedir comida”.
É fintech!
O Ifood também aposta na vertical de crédito e garante que atua de forma desburocratizada, ou seja, sem as exigências clássicas feitas por um banco tradicional. A análise é operacional - baseada em recorrência de pedidos, avaliação dos clientes e controle de cardápio - e não no histórico bancário. “Isso é entender o empreendedor brasileiro. Quem empreende nesse país mistura CPF com CNPJ, vive driblando burocracia. Nosso modelo de crédito nasce dessa realidade”, afirmou o CEO.
Mais de R$ 2 bilhões já foram emprestados a 40 mil restaurantes e essa modalidade pode ser estendida para o consumidor final.
Concorrência? A resposta é o longo prazo
Embora o mercado esteja se agitando com novos e antigos concorrentes, o IFood parece confortável com sua rota. Barreto reforçou que não haverá movimentos impulsivos diante de uma suposta “guerra do delivery”.
“O empreendedor que constrói não reage com loucura. A gente está nesse jogo há mais de 10 anos. Não é sobre parecer melhor que os outros. É sobre ser melhor do que ontem”.