Histórias
Solidariedade entra no menu de chefs e ajuda pessoas que passam por dificuldades
A pandemia provocada pelo novo coronavírus trouxe com ela mudanças comportamentais. A necessidade de se recolher ao isolamento permitiu desacelerar o ritmo frenético do dia a dia e deu espaço para olhar o mundo ao nosso redor com mais atenção. O terreno se tornou fértil para a solidariedade, que entrou no cardápio e na rotina de muitos chefs.
Mulheres do Bem
No caso de Manu Buffara, o engajamento social já é recorrente, especialmente no projeto horta urbana, mas se intensificou na quarentena. No final do ano passado, a chef havia iniciado o projeto Mulheres do Bem em parceria com o Mesa Solidária, da prefeitura de Curitiba, para doação de marmitas a moradores de rua, que são servidas no restaurante popular do viaduto Capanema.
"Já estávamos trabalhando nesta direção e com a crise, surgiram mais pessoas em dificuldades. Como também passamos a ter mais tempo em função do fechamento temporário do restaurante, reforçamos a produção", diz. Até seus filhos entraram no processo e escrevem mensagens positivas nas tampas das marmitas. "Acabam aprendendo muito sobre ser solidárias".
O coletivo, que conta ainda com chefs como Vânia Krekniski e Eva dos Santos, e mais seis profissionais da gastronomia na linha de produção, chegou à marca de 800 marmitas oferecidas por semana (quartas e sextas), que são produzidas com ingredientes doados por fornecedores e lojas de produtos naturais. "Também compramos produtos de pequenos produtores rurais para ajudá-los também". Para quem quiser colaborar, é só acessar o Instagram do coletivo.
Do Sofá pra Rua
Quem também colabora com o projeto Mesa Solidária é o ex-masterchef Rui Morschel. Ele foi convidado pelo coletivo Do Sofá pra Rua para montar o cardápio e fazer o planejamento da linha de produção das marmitas, entregues aos sábados no restaurante popular do Capanema, e durante a semana nos locais da capital com mais concentração de moradores de rua.
"Usei parte da inteligência do projeto Van Cozinhar para desenvolver o trabalho para adaptar os cardápios previamente. Hoje, já sabemos exatamente o que precisamos e quanto precisamos para produzir as refeições". No total, o coletivo distribuí 30 marmitas por dia durante a semana e 360 aos finais de semana, no Mesa Solidária.
Para a linha de produção, o coletivo recebe doações tanto de cestas básicas, como de dinheiro, que é usado para complementar as compras. Os produtos são levados aos cozinheiros voluntários, responsáveis pelo preparo das refeições em suas casas. "Outra frente do projeto também distribui cestas básicas a pessoas em situação vulnerável que estão em nosso cadastro". Para doar ou se cadastrar como voluntário, acesse aqui.
Servir, doar e amar
O também masterchef André Pionteke, criou o projeto Servir, doar e amar, que começa a ser colocado em prática na próxima terça-feira (5). A ideia é atuar em duas frentes: produzir e doar marmitas aos moradores de rua e ajudar outras comunidades desassistidas. Quem quiser ajudar com doações, deve entrar em contato via direct pelo Insta do chef.
"Estamos mapeando grupos que estão em dificuldades e não estão sendo atingidos por outras ações, como a terra indígena da Ilha da Cotinga", explica o chef. De olho no inverno, que se aproxima, as arrecadações do projeto incluem, além dos alimentos, cobertores, que também vão entrar na linha de distribuição.
Cestas solidárias
A chef Gabriela Carvalho, do Quintana Café & Restaurante, focou a ação nos pequenos produtores rurais, que viram uma queda significativa no escoamento da produção com a chegada do coronavírus e o fechamento temporário dos restaurantes.
O restaurante, que fica na avenida do Batel, virou ponto de retirada de cestas de verduras, legumes e frutas produzidos pelos agricultores do chamado Cinturão Verde, que fica na região metropolitana de Curitiba. Os interessados precisam fazer a reserva prévia e buscam os alimentos às terças ou quartas-feiras. O contato para a reserva das cesta é (41) 99235-6044 e as informações sobre os dias de entrega estão nas redes sociais do Quintana.
Curitiba Lixo Zero
O coletivo Curitiba Lixo Zero também trabalha diretamente com produtores rurais, mas o escoamento de parte da produção dos agricultores vai diretamente para os grupos que trabalham com reciclagem de lixo.
Por meio da doação de R$70 diretamente na conta dos produtores agroecológicos do Vale do Açungui, de Itaperuçu, na região metropolitana, as cooperativas de reciclagem atendidas pelo coletivo recebem as cestas de alimentos. Mais informações no Insta do Curitiba Lixo Zero.
Good Food Truck
O Good Food Truck, projeto encabeçado pela colunista do Bom Gourmet, Gabi Mahamud, já atuava com comunidades carentes. Com a chegada da Covid-19, o trabalho de distribuição de marmitas foi intensificado por meio da campanha PF do Bem.
Ao fazer um pedido de delivery via aplicativos (Ifood, Rappi, James e Uber Eats) de um dos restaurantes parceiros, a pessoa pode doar um ou mais pratos de comida por R$ 14,90 cada. A equipe de voluntários, então, passa para buscar as refeições doadas duas vezes por semana e entrega diretamente a quem mais precisa. Mais informações podem ser obtidas diretamente no Insta do projeto.
Desde o início da campanha, quase mil refeições já foram doadas para a comunidade Nova Primavera, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC). Além dos alimentos, o grupo também distribuí cestas básicas para as pessoas de baixa renda cozinharem em casa, roupas e produtos de higiene, fundamentais no combate ao coronavírus.
Compartilhe pão
Um modelo diferente de ação é encabeçada pelo padeiro Rene Seifert, que faz da cultura do compartilhamento um dos braços mais importantes do trabalho dele. E foi nesta linha que surgiu o incentivo para que as pessoas que seguem o canal do YouTube Pão da Casa, dobrem a receita dos pães produzidos por elas e compartilhem a metade com pessoas que estão precisando.
A ideia surgiu das informações que Rene começou a receber de muitas pessoas perdendo emprego, o que trouxe muita ansiedade, em especial para pessoas em situação mais vulnerável. "Isso bateu forte na gente. Acredito muito que se a gente compartilhar, ninguém vai passar fome. Mesmo que seja pouco. Até pelo aspecto simbólico que o compartilhamento do pão tem, acaba sendo uma resposta simples, trivial".
Para facilitar o trabalho de quem quer aderir à campanha, Rene fez um vídeo explicando detalhes do compartilhamento, e com uma receita super fácil de fazer.