Histórias
Conheça a ex-boia fria que virou dona de rede de confeitarias e outras histórias inspiradoras
Um olhar mais atento sobre cada relatório, um
cuidado a mais sobre cada produto. Líder de equipe durante o dia, mãe em casa a
noite. Que as mulheres têm uma capacidade gerencial melhor do que muitos
homens, não é nenhuma novidade.
cuidado a mais sobre cada produto. Líder de equipe durante o dia, mãe em casa a
noite. Que as mulheres têm uma capacidade gerencial melhor do que muitos
homens, não é nenhuma novidade.
No entanto, a quantidade delas que são líderes
em negócios – também na gastronomia – não é tão grande como se esperaria. Não
existem dados concretos de quantas posições elas ocupam nas grandes empresas
alimentícias.
em negócios – também na gastronomia – não é tão grande como se esperaria. Não
existem dados concretos de quantas posições elas ocupam nas grandes empresas
alimentícias.
Mas, dados da Organização Internacional do Trabalho mostram que ainda há uma lacuna na equivalência com os homens. Último estudo da entidade, de 2020, apura que elas ganham 14% a menos, em média, e ocupam apenas uma em cada quatro posições gerenciais.
Na semana em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, o Bom Gourmet Negócios conta a história e a trajetória de quatro líderes que se destacaram em suas empresas – e, consequentemente, nos negócios de alimentação.
Cleusa Maria da Silva
Quem vê a paranaense de Bandeirantes hoje, aos
53 anos, liderando uma das maiores redes de confeitarias do Brasil, nem imagina
que as mãos já cortaram cana e limparam o chão de casas para outras pessoas.
53 anos, liderando uma das maiores redes de confeitarias do Brasil, nem imagina
que as mãos já cortaram cana e limparam o chão de casas para outras pessoas.
Cleusa Maria da Silva começou a trabalhar aos 12
anos de idade quando o pai morreu em um acidente de carro, deixando ela, a mãe
e mais nove irmãos desamparados. Cortou cana, colheu algodão, trabalhou em
campos de soja, foi empregada doméstica, recepcionista, até que chegou à casa
de uma família em Salto (SP) que mudaria a sua vida.
anos de idade quando o pai morreu em um acidente de carro, deixando ela, a mãe
e mais nove irmãos desamparados. Cortou cana, colheu algodão, trabalhou em
campos de soja, foi empregada doméstica, recepcionista, até que chegou à casa
de uma família em Salto (SP) que mudaria a sua vida.
Lá, passou a ajudar a patroa nos afazeres do dia
a dia até que precisou preparar um bolo de aniversário, quando esta se
acidentou e quebrou a perna. Não deu outra, o doce ficou tão bom que ganhou uma
batedeira de presente para fazer um “bico” para fora.
a dia até que precisou preparar um bolo de aniversário, quando esta se
acidentou e quebrou a perna. Não deu outra, o doce ficou tão bom que ganhou uma
batedeira de presente para fazer um “bico” para fora.
“Não foi sorte, foi trabalho dia após dia. Nunca me vitimizei, sempre acreditei na minha força. Toda mulher que persistir e batalhar pelo que quer pode chegar lá", afirma.
Em 1997, Cleusa pediu demissão e montou a
primeira confeitaria com o dinheiro da rescisão. Em um espaço de 20 m² nasceu a
Sensação Doces, ainda na cidade de Salto (SP).
primeira confeitaria com o dinheiro da rescisão. Em um espaço de 20 m² nasceu a
Sensação Doces, ainda na cidade de Salto (SP).
Aos poucos, foi conquistando a clientela e
precisou registrar a marca para expandir os negócios. No entanto, descobriu que
o nome já pertencia à Nestlé e precisou pensar em outro.
precisou registrar a marca para expandir os negócios. No entanto, descobriu que
o nome já pertencia à Nestlé e precisou pensar em outro.
Após quatro meses quebrando a cabeça, decidiu
homenagear os dois filhos – Sofia e Diego – e assim nasceu a Sodiê Doces, que
franqueou os negócios em 2007. Hoje conta com unidades no Brasil e em Orlando,
nos Estados Unidos.
homenagear os dois filhos – Sofia e Diego – e assim nasceu a Sodiê Doces, que
franqueou os negócios em 2007. Hoje conta com unidades no Brasil e em Orlando,
nos Estados Unidos.
“Meu filho, Diego, que hoje administra a Sodiê Salgados, sempre está ao meu lado administrando e gerenciando a marca. Minha história é de luta pela sobrevivência”, conta.
Apesar das unidades serem administradas por seus
franqueados, todos são orientados por uma equipe gestora, onde há o acompanhamento
da padronização dos produtos e o lançamento de itens, mantendo a qualidade em
toda rede.
franqueados, todos são orientados por uma equipe gestora, onde há o acompanhamento
da padronização dos produtos e o lançamento de itens, mantendo a qualidade em
toda rede.
Luciana Salton
Quando assumiu uma das diretorias-executivas da gigante Vinícola Salton há 10 anos, Luciana Salton descobriu que teria pela frente uma missão há muito desejada pelo mercado brasileiro de vinhos: tornar a bebida mais acessível a todos os brasileiros.
E isso não seria fácil se comparar aos vizinhos argentinos
e chilenos, profundos apreciadores da bebida de Baco. Enquanto o consumo médio per
capita seja de 24 e 16 litros ao ano, respectivamente, por aqui não chegava a
uma garrafa.
e chilenos, profundos apreciadores da bebida de Baco. Enquanto o consumo médio per
capita seja de 24 e 16 litros ao ano, respectivamente, por aqui não chegava a
uma garrafa.
A barreira de que vinhos e espumantes são
bebidas elitizadas ou reservadas para ocasiões especiais, além da pecha de
qualidade duvidosa, sempre espantou os brasileiros das adegas dos
supermercados. Ponto para a cerveja, servida gelada no calor dos trópicos e com
um preço mais baixo.
bebidas elitizadas ou reservadas para ocasiões especiais, além da pecha de
qualidade duvidosa, sempre espantou os brasileiros das adegas dos
supermercados. Ponto para a cerveja, servida gelada no calor dos trópicos e com
um preço mais baixo.
No entanto, isso não foi suficiente para desanimar Luciana, quarta geração da família de fundadores da centenária Salton. Munida de muita força de vontade, assumiu a direção-executiva de comunicação, lojas próprias, enoteca e turismo em 2012, com a missão de mostrar que vinhos e espumantes caem bem em qualquer momento.
“Eu escuto que ‘é mais fácil escolher uma cerveja ou uma cachaça do que um vinho’. Então, ele não é pra todo mundo? A gente quer justamente mostrar que não é bem assim”, conta.
Esse trabalho passa por conscientizar as pessoas
sobre a melhora da qualidade e do consumo, além de tornar as várias linhas de
produtos mais acessíveis. Luciana conta que se orgulha de ouvir o retorno de clientes
que escolheram as bebidas da Salton para celebrações e ocasiões.
sobre a melhora da qualidade e do consumo, além de tornar as várias linhas de
produtos mais acessíveis. Luciana conta que se orgulha de ouvir o retorno de clientes
que escolheram as bebidas da Salton para celebrações e ocasiões.
Outro ponto que a anima ainda mais é ver as
mulheres cada vez mais interessadas em conhecer e experimentar diferentes
rótulos de vinhos e espumantes. “O homem gosta de um vinho e fica naquele, e a
mulher tem essa vontade de descobrir”, completa.
mulheres cada vez mais interessadas em conhecer e experimentar diferentes
rótulos de vinhos e espumantes. “O homem gosta de um vinho e fica naquele, e a
mulher tem essa vontade de descobrir”, completa.
A meta de futuro dela é ajudar o mercado
brasileiro a descobrir que vinhos e espumantes não são apenas para ocasiões
especiais, e fazer com que o recorde de consumo conquistado na pandemia (2,78
litros per capita ao ano) pelo menos se aproxime dos vizinhos.
brasileiro a descobrir que vinhos e espumantes não são apenas para ocasiões
especiais, e fazer com que o recorde de consumo conquistado na pandemia (2,78
litros per capita ao ano) pelo menos se aproxime dos vizinhos.
Izabel do Prado Barretto
Tudo começou há 103 anos, em 1919, quando Izabel
ficou viúva com três filhos para criar e dívidas deixadas pelo marido. A
convite do irmão Francisco, abriram uma pequena produção artesanal de manteiga
suficiente para prover o comércio local.
ficou viúva com três filhos para criar e dívidas deixadas pelo marido. A
convite do irmão Francisco, abriram uma pequena produção artesanal de manteiga
suficiente para prover o comércio local.
Com uma batedeira de manteiga e uma prensa de
madeira, iniciaram o caminho de uma das maiores empresas de laticínios do
Brasil. No começo era tudo manual, e a própria Izabel percorria fazendas da
região comprando gordura de leite para a fabricação da manteiga.
madeira, iniciaram o caminho de uma das maiores empresas de laticínios do
Brasil. No começo era tudo manual, e a própria Izabel percorria fazendas da
região comprando gordura de leite para a fabricação da manteiga.
Anos depois, passou a comprar o leite “in
natura” de produtores da região para extrair o creme usado como base do
produto. A então chamada J. Barretto e Irmão não demorou muito a ganhar mercado
na região e ter a manteiga vendida em cidades próximas.
natura” de produtores da região para extrair o creme usado como base do
produto. A então chamada J. Barretto e Irmão não demorou muito a ganhar mercado
na região e ter a manteiga vendida em cidades próximas.
Anos depois, com o aumento da demanda, mudou o
nome para Mococa e passou a fabricar outros produtos, como leite em pó, leite
condensado e creme de leite. Izabel ficou à frente dos negócios até 1925 quando
passou a gestão para o filho, José Vieira Barretto Junior, vindo a falecer duas
décadas depois.
nome para Mococa e passou a fabricar outros produtos, como leite em pó, leite
condensado e creme de leite. Izabel ficou à frente dos negócios até 1925 quando
passou a gestão para o filho, José Vieira Barretto Junior, vindo a falecer duas
décadas depois.
Maria Alice Silveira Carneiro
Quando Maria Alice Silveira Carneiro assumiu a
presidência da empresa de água mineral Timbu, no Paraná, há 17 anos, foi vista
com desconfiança até mesmo pelas outras mulheres que trabalhavam na linha de
produção. Afinal, a indústria já caminhava há 43 anos sob a batuta do pai, Samuel
Silveira, que passou o controle a ela pouco tempo antes de falecer.
presidência da empresa de água mineral Timbu, no Paraná, há 17 anos, foi vista
com desconfiança até mesmo pelas outras mulheres que trabalhavam na linha de
produção. Afinal, a indústria já caminhava há 43 anos sob a batuta do pai, Samuel
Silveira, que passou o controle a ela pouco tempo antes de falecer.
Foi uma decisão certeira do ponto de vista
familiar – afinal, eram três irmãs herdeiras, mas apenas ela disposta a tocar o
negócio. Já para o mercado foi bem diferente, pois era a única mulher entre os
donos de fontes de água mineral no estado.
familiar – afinal, eram três irmãs herdeiras, mas apenas ela disposta a tocar o
negócio. Já para o mercado foi bem diferente, pois era a única mulher entre os
donos de fontes de água mineral no estado.
Além de assumir um negócio que pouco conhecia, pois estava morando no exterior até receber o chamado do pai, Maria Alice ainda precisou enfrentar a resistência de seus concorrentes e dos próprios funcionários.
E, se não bastasse, tinha que mostrar capacidade de manter o legado de segunda maior produtora de água mineral do Paraná e conduzir a indústria rumo à modernidade.
“Foi bem difícil no começo, eles tiveram muita dificuldade em aceitar. Foi muito gradativo, assim também como nas reuniões que participo com os outros proprietários de fontes no Paraná", conta.
Ela conta que este é um nicho de mercado muito familiar, e ainda hoje gerido por homens, pela segunda geração de proprietários.
"Com o tempo consegui me fazer ser ouvida, solitária, mas mostrei que sou capaz”, lembra.
Neste ano de 2022, a Águas Timbu completa 60
anos com um envase de 1,58 milhão de litros ao mês, o dobro do que produzia
quando Maria Alice assumiu a gestão. Além de modernizar os equipamentos e
conquistar a certificação ISO 9001:2015, ela também foi responsável pelo
primeiro rebranding da marca e, agora, a segunda renovação comemorativa do
aniversário.
anos com um envase de 1,58 milhão de litros ao mês, o dobro do que produzia
quando Maria Alice assumiu a gestão. Além de modernizar os equipamentos e
conquistar a certificação ISO 9001:2015, ela também foi responsável pelo
primeiro rebranding da marca e, agora, a segunda renovação comemorativa do
aniversário.
Agora que já consegue se fazer ouvida, ela tem outro desafio pela frente: o futuro. Afinal, a água se tornou um item cada vez mais essencial e fundamental para a humanidade, e manter a fonte ativa e operante será a obrigação “de quem assumir o controle da fonte. Mas, espero continuar por muitos anos ainda”, completa.