Gestão e Finanças
85% dos bares e restaurantes tiveram pedidos de empréstimos recusados na pandemia
Uma pesquisa realizada na última semana pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR) mostrou que 85% dos empresários brasileiros de alimentação fora do lar tiveram os pedidos de empréstimos recusados no sistema bancário para financiar o capital de giro dos negócios durante a pandemia. O motivo, segundo a pesquisa, é a dificuldade em apresentar garantias reais aos bancos.
A entidade afirma que as linhas de crédito disponibilizadas pelo governo federal aos bancos públicos e privados, na ordem de R$ 40 bilhões, não estão chegando às empresas. Segundo o Banco Central, os empréstimos concedidos até o dia 11 de maio somaram apenas R$ 1,4 bilhão.
Cristiano Melles, presidente da ANR, afirma que pelo menos 200 mil negócios devem fechar as portas sem conseguir financiamento para o capital de giro.
"É um setor que muitas vezes é quase a extensão da casa, em que a conta corrente do empreendedor se confunde entre físico e jurídico. E a única garantia é o faturamento que cessou desde o dia 18 de março, quando começaram as medidas de restrição, e o delivery responde por uma margem muito marginal do negócio", diz.
A pesquisa da ANR apontou ainda que 40% dos estabelecimentos não chegam a faturar nem 10% com delivery da receita que tinham antes da pandemia, e outros 29% cobrem no máximo 30% das contas. Para a entidade, é preciso que o governo assuma as garantias pedidas pelos bancos.
"O setor precisa de pelo menos R$ 20 bilhões de fluxo de caixa para o capital de giro para a retomada da economia, e não vejo hoje os bancos dando essa possibilidade", afirma.
Folha de pagamento
Segundo a ANR, a dificuldade de obter empréstimos junto aos bancos públicos e privados também está afetando os restaurantes que não conseguiram aderir à MP-936, que permite a suspensão ou redução da jornada de trabalho com salário pago pelo governo federal.
Embora 70% dos estabelecimentos tenham conseguido aderir ao programa emergencial de proteção ao emprego, mais da metade dos empresários restantes não conseguirão sequer pagar a folha salarial até o quinto dia útil de junho, segundo Melles.
"Sendo muito claro, não tem salvação pra eles. Por isso que estamos pedindo para quem pode que entre logo na MP do salário, mas precisamos que ela seja prorrogada por mais pelo menos dois meses", diz.
A entidade defende também a extensão dos prazos de 60 para 120 dias para suspensão de contratos de trabalho e de 90 para 150 dias a redução de jornada. A ANR estima que 3 entre cada 4 empresas já demitiram funcionários, chegando a cerca de 1 milhão de pessoas.
Bancos
A Federação Nacional dos Bancos (Febraban) afirmou que não está exigindo contrapartidas adicionais das que já são exigidas normalmente pelo Banco Central do Brasil (BC), como imóveis ou aplicações financeiras. Já o BC disse que estabeleceu condições especiais para que os bancos consigam rolar as dívidas dos setores mais essenciais neste momento de pandemia.
Para tentar contornar essa dificuldade, a Caixa Econômica Federal e o Sebrae firmaram uma parceria nesta terça (19) para disponibilizar uma nova linha de crédito para MEIs, micros e pequenos empresários com empréstimos de R$ 12.500 a R$ 125 mil garantidos pelo Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (FAMPE).
A medida é voltada para pessoas físicas e jurídicas que não estejam negativadas nos serviços de proteção ao crédito e apresentem o faturamento de no mínimo 12 meses. A carência varia de 9 a 12 meses, com prazo de pagamento de até 36 meses, e juros na faixa de 1,19% a 1,59% ao mês.
"Ela [a linha de crédito] até abrange restaurantes, mas será muito mais focada no MEI e no pequeno, precisa partir para todos os empresários. Vamos ver como vai funcionar na realidade", afirma o presidente da ANR.
Segundo o Sebrae, se encaixam nestas categorias MEIs com faturamento anual até R$ 81 mil, microempresas até R$ 360 mil e empresas de pequeno porte até R$ 4,8 milhões. As instruções para a obtenção da nova linha de crédito estão disponíveis neste site.
Além da liberação e flexibilização da tomada de empréstimos, a Associação Nacional de Restaurantes negocia, ainda, o estabelecimento de um teto para as taxas cobradas pelos aplicativos de delivery, de no máximo 15%, e a uniformização do ICMS para 2% -- atualmente varia até 6% de um estado para o outro.