Gestão e Finanças
Proibição de canudos plásticos aumenta em até 70% custos do utensílio para restaurantes
A aprovação de leis que proíbem a utilização de canudos, talheres e embalagens plásticas de uso único fará os custos com utensílios de bares e restaurantes aumentarem em até 70%, dependendo de como serão substituídos.
É o que estima a professora Luana Budel, especialista em fundamentos da cozinha profissional do curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi. A primeira legislação do tipo no país entrou em vigor no estado de São Paulo nesta semana – e pode servir de inspiração para outras cidades do país.
A lei aprovada no ano passado proíbe o fornecimento ou a venda de canudos plásticos por qualquer estabelecimento comercial do estado, e prevê uma multa que pode chegar a R$ 5,5 mil. A fiscalização e autuação está a cargo do Procon-SP.
Apesar de ser bem vista tanto por empresários como por consumidores por conta da diminuição do impacto ambiental, a especialista afirma que a conta da vai sobrar para os donos dos estabelecimentos, já que a lei não trouxe um incentivo para baratear a produção dos materiais substitutos ao plástico.
"A lei é importante, mas é drástica e não cria alternativas que incentivem a produção em maior escala sem encarecer os produtos”, afirma a professora Luana Budel.
Entre os materiais alternativos para substituir os plásticos comuns estão os canudinhos feitos de fibra de mandioca ou de milho e copinhos biodegradáveis de papel mais resistente.
Para se ter uma ideia, cada canudinho feito de plástico comum custa em média R$ 0,025, enquanto que o de material biodegradável sai a R$ 0,030. A diferença parece pouca, mas se comparar com os canudos feitos de papel que se decompõem mais rapidamente, o valor salta para R$ 0,131.
“Alguns empresários que têm uma visão de mais sustentabilidade estão absorvendo um pouco dos custos por conta de um anseio popular, mas isso não é possível para todos. Conheço profissionais que não estão dando a mínima pra isso”, ressalta.
Oferta e demanda
Embora os custos para substituir os plásticos de uso único ainda sejam altos, a expectativa é de que os preços caiam com o passar dos anos e o aumento do consumo de opções mais sustentáveis. Ozeias Teixeira de Oliveira, proprietário da Gold Food Service, que fornece insumos e produtos para bares e restaurantes, explica que os canudinhos de papel, por exemplo, já chegaram a custar dez vezes mais que os de plástico comum.
“Hoje ele custa apenas quatro vezes mais que o canudo de plástico. À medida que houver aderência e aumento do volume de produção do papel, o preço cairá mais ainda”, avalia.
Essa aderência citada por Ozeias deve vir principalmente das grandes redes de comida rápida, que conseguem melhores negociações por conta de volumes maiores de compras.
Uma delas é a Sodiê Doces, que começou a substituir todos os plásticos de uso único em meados de 2019, como pratinhos, copos, garfos, mexedores de café e embalagens de hambúrgueres, por materiais biodegradáveis, compostáveis ou reutilizáveis.
A marca estima um aumento de 39% nos custos com a troca dos descartáveis
para produtos biodegradáveis, mas busca parcerias para segurar o repasse ao
consumidor. Cleusa Maria da Silva, fundadora da Sodiê Doces, explica que 80%
dos utensílios utilizados para servir os clientes são de materiais plásticos, e
apenas 20% de porcelana ou papelão biodegradável.
para produtos biodegradáveis, mas busca parcerias para segurar o repasse ao
consumidor. Cleusa Maria da Silva, fundadora da Sodiê Doces, explica que 80%
dos utensílios utilizados para servir os clientes são de materiais plásticos, e
apenas 20% de porcelana ou papelão biodegradável.
“Nossa meta para 2020 é que todos os produtos de plástico oferecidos aos clientes sejam substituídos, atendendo a lei que proíbe o fornecimento de produtos descartáveis de plástico, porém vamos estender em nível nacional”, conta.
Na rede de franquias com 315 lojas, os custos com descartáveis representam 1,5% do orçamento. Com a substituição por materiais mais sustentáveis, a fatia aumentará para 2,08%.
Pequenos
Já os pequenos negócios estão fazendo malabarismos para atender aos pedidos dos consumidores pela substituição de canudos e talheres plásticos, e criando alternativas que acabam fidelizando-os. Vânia Krekniski, chef e sócia do restaurante Limoeiro, em Curitiba, começou a substituir os canudinhos plásticos há dois anos e só os entregavam quando um cliente pedia. A atitude reduziu o uso em 80%.
“E agora iniciamos o uso do canudo de papel, estamos testando fornecedores. Os custos são quatro vezes maiores, precisamos descobrir um fornecedor mais em conta”, conta a chef.
Ela conta que o próximo passo é substituir as outras embalagens de alimentos e sacolas por versões mais sustentáveis, em estudos com alunos da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Geórgia Franco, mestre de torra e proprietária do Lucca Cafés Especiais,
também em Curitiba, começou a incentivar o uso de canecas reutilizáveis há
cerca de um ano, dando um desconto no café do dia a cada refil. O primeiro lote
de 200 unidades esgotou em três meses, custando a partir de R$ 40.
também em Curitiba, começou a incentivar o uso de canecas reutilizáveis há
cerca de um ano, dando um desconto no café do dia a cada refil. O primeiro lote
de 200 unidades esgotou em três meses, custando a partir de R$ 40.
“Quem compra a caneca ao invés de utilizar o copo com tampa de plástico ganha R$ 1 de desconto a cada refil do café do dia, e também temos o canudinho de aço inox que pode ser comprado com desconto ao pedir uma bebida gelada”, conta.
Como está pelo país
No âmbito federal, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (lei federal
12.305/2010) já determinou que estados e municípios deem prioridade na gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos, com a ordem de não gerar produtos que se
tornem lixo – se não for possível, que a produção seja reduzida. A legislação
também indica a reutilização de um produto a maior quantidade possível de vezes
antes de ir para a reciclagem e disposição final dos rejeitos.
12.305/2010) já determinou que estados e municípios deem prioridade na gestão e
gerenciamento de resíduos sólidos, com a ordem de não gerar produtos que se
tornem lixo – se não for possível, que a produção seja reduzida. A legislação
também indica a reutilização de um produto a maior quantidade possível de vezes
antes de ir para a reciclagem e disposição final dos rejeitos.
No entanto, estados e municípios ainda formulam as regulamentações locais da legislação. Em Curitiba, a lei 15.434/2019 de autoria da vereadora Maria Letícia chegou a tramitar na Câmara Municipal inspirada pela lei paulista, mas foi alterada para um caráter educativo após discussões com o Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares do Município (SindiAbrabar), que pediu a criação de um selo de incentivo para os estabelecimentos que oferecessem alternativas ao plástico.
Já no âmbito estadual do Paraná, o projeto 186/2018 segue em tramitação na Assembleia e, atualmente, está em análise na Comissão de Ecologia e Meio Ambiente, que tem como presidente o deputado Goura (PDT). A proposta já recebeu parecer favorável das comissões de Constituição e Justiça; e Indústria, Comércio, Emprego e Renda. Não há outra lei semelhante à paulista aprovada nos demais estados brasileiros.