Gestão e Finanças
Projeto do premiado restaurante Mocotó serve marmitas e cestas básicas na periferia de São Paulo
Qual o papel de um restaurante na sociedade?
Qual a função dele para o local em que ele está localizado? Se for para o premiado
paulistano Mocotó, a resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo.
Qual a função dele para o local em que ele está localizado? Se for para o premiado
paulistano Mocotó, a resposta é simples e complexa, ao mesmo tempo.
Tocado pelo chef Rodrigo Oliveira e pela esposa, a historiadora Adriana Salay, o restaurante começou pequeno servindo a culinária sertaneja da família dele na periferia da zona norte de São Paulo, e chegou às grandes premiações internacionais com um conceito que manteve as raízes. Na última sexta (25), foi premiado pelo prestigiado Guia Michelin na categoria Bib Gourmand.
Localizado na Vila Medeiros, uma região cercada de favelas e com um Índice de Desenvolvimento Humano bem diferente dos restaurantes mais estrelados de São Paulo, o Mocotó se viu inserido na realidade de uma região que necessitava de ajuda. Ao invés de sair dali quando as estrelas começaram a chegar, Rodrigo Oliveira resolveu permanecer e dar sua contribuição à comunidade.
Foco no local
No restaurante são 64 colaboradores que majoritariamente moram na comunidade, assistidas por programas de formação educacional com a concessão de bolsas de estudos desde o ensino fundamental até a pós-graduação. Há ainda o incentivo ao aprendizado de língua estrangeira sem necessariamente estar ligado a alguma função na casa, e também à prática de atividades físicas em entidades parceiras.
“Mas, com a chegada da pandemia, tudo isso mudou. Nós fechamos antes mesmo do decreto por não nos sentirmos seguros, e decidimos contribuir logo no dia seguinte cozinhando para a comunidade”, contou Rodrigo Oliveira durante a terceira edição do Fórum Tutano pela Gastronomia, realizado nesta semana.
Assim surgiu o projeto Quebrada Alimentada, com o fornecimento de marmitas e cestas básicas para as famílias em vulnerabilidade social do bairro. Adriana conta que muitas delas ficaram sem renda para comprar comida, por causa do desemprego gerado, já que muitas eram ambulantes ou trabalhadores sem registro que ficaram sem ter para quem trabalhar.
“Hoje temos duas formas de atuação, com as 200 marmitas diárias e um projeto que foi constituindo a entrega de cestas básicas. Atendemos famílias que chegaram num ponto de fazer uma refeição por dia apenas, por não terem renda para comprar alimentos”, disse.
Oliveira contou que logo nos primeiros dias, chefs e empresários de restaurantes estrelados de São Paulo se sensibilizaram com o projeto e doaram alimentos que poderiam estragar nas geladeiras durante a quarentena. Até mesmo peças de burrata e prosciutto enriqueceram as marmitas da comunidade da Vila Medeiros.
De lá para cá, o projeto Quebrada Alimentada vem recebendo ajuda de empresas, instituições e doações de pessoas físicas, e já serviu 34 mil refeições e 15 toneladas de alimentos distribuídos. O restaurante realiza, ainda, uma campanha de arrecadação de recursos para manter o projeto funcionando, veja aqui como participar.