Gestão e Finanças
Como os festivais popularizam ingredientes premium e impulsionam vendas
Margem lucro menor num primeiro momento, mas maior movimento no salão. Esta é a estratégia dos festivais gastronômicos, ações que vêm ganhando cada vez mais espaço entre bares e restaurantes para trazer novos clientes e fidelizar aqueles que já frequentam o lugar, geralmente com um prato ou um menu especial a um preço promocional.
A estratégia pode ser aplicada tanto com foco na divulgação do restaurante como na promoção de um produto que se queira dar mais visibilidade – ou muitas vezes em ambos conceitos ao mesmo tempo. É o que está acontecendo com a carne procedente de bois da raça Angus, por exemplo. O corte custa 30% mais do que filés de outras raças, mas um festival realizado nesta semana busca popularizar o consumo — unindo em um mesmo evento desde o produtor até o restaurante.
O Angus Beef Week, promovido em São Paulo, Curitiba e Porto Alegre, serve pratos preparados com cortes de Angus com descontos que variam de 15% a 20%, dependendo do estabelecimento. É uma promoção que busca tanto popularizar o consumo da carne quanto aumentar o movimento nos restaurantes, como explica o presidente da Associação Brasileira de Angus, Nivaldo Dzyekanski.
“A carne de Angus ainda é mais cara do que a de outras raças por causa da oferta e da demanda, com poucos produtores abastecendo um mercado que vem crescendo em torno de 10% ao ano desde 2014. O que acontece no Brasil é que as pessoas ainda pensam que estes cortes são nobres demais, mas eles servem para todo tipo de preparo”, esclarece Dzyekanski ressaltando que a própria produção de Angus vem melhorando no Brasil na última década em um patamar igual ou até mesmo melhor do que as produzidas em países como a Argentina e o Uruguai.
Margem menor
Na rede de restaurantes Madero, o prato com um filé de chorizo acompanhado de arroz, farofa e salada verde custa R$ 65 durante a Angus Beef Week. O preço 20% menor do que o praticado normalmente teve o custo absorvido pela casa para aumentar o consumo do corte – e ainda levar mais clientes para as operações. “Porém, esse valor tende a diminuir e equalizar com o tempo a medida que as pessoas passem a provar mais”, explica Rafael Mello, vice-presidente de operações da rede.
As mais de 180 unidades do Madero espalhadas pelo país consomem mais de 600 toneladas de carne de Angus nacional por mês desde 2011, quando a variedade começou a ser servida no lugar dos cortes importados do Uruguai e da Argentina que não eram tão rentáveis em larga escala. É a mesma estratégia adotada em 2013 pelo empresário curitibano Marcos Canan, que abriu a rede de lojas de carnes nobres Bull Prime apenas com cortes de produtores nacionais.
Nos últimos três anos ele viu o consumo crescer em torno de 40%, graças a diversas promoções realizadas. Em uma delas, uma grande rede de lanchonetes criou um hambúrguer preparado com carne de Angus. “Isso foi praticamente uma revolução, depois disso os clientes começaram a chegar na loja já perguntando sobre a carne, a origem, pedindo sugestões de pratos, foi incrível”, conta o empresário que também é pecuarista.
Canan ressalta que a produção brasileira de Angus tem um potencial tão grande como nos países vizinhos, onde rebanhos da raça chegam a corresponder a 80% da produção nacional. “No Brasil é exatamente o contrário, com apenas 20%”, completa.
Expansão do mercado
O consumo de carne procedente de bois da raça Angus tem um faturamento de R$ 1,5 bilhão ao ano, mas responde por apenas 6% das vendas de proteína animal no país entre os 40 frigoríficos certificados. Um deles é o da cooperativa paranaense Cooperaliança, que viu um grande potencial de consumo desde o começo das operações em 2008.
A variedade é responsável atualmente por 89% do abate bovino, com a previsão de fechar o ano com um faturamento de R$ 120 milhões. “Queremos triplicar isso e chegar ao abate de 100 mil bois ao ano na nossa nova planta de processamento, que será aberta em 2020”, conta Adriane Araújo Azevedo, vice-presidente da cooperativa.
Além do Sul do país onde começaram os primeiros rebanhos de gado da raça Angus, hoje já há mais de 10 mil criadores no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do país, com variedades genéticas criadas para se adaptar ao clima local. “Estamos tropicalizando o Angus”, finaliza Nivaldo Dzyekanski, da associação de criadores.