Gestão e Finanças
Donos de bares e restaurantes não conseguem acessar crédito prometido por governo
As recentes linhas de crédito com juros mais baixos da crise do coronavírus, anunciadas recentemente pelos governos federal e estadual, não estão chegando aos empresários paranaenses, relatam donos de bares e restaurantes. Eles afirmam que o acesso aos fundos de mais de R$ 40 bilhões não estão disponíveis aos gerentes dos bancos públicos e privados e nem agentes da Fomento Paraná.
A reclamação não é só do estado, mas de empresários de todo o Brasil que dizem que as taxas de juros praticadas agora estão, em média, 50% superiores às registradas antes da crise do novo coronavírus. Em alguns casos, segundo eles, o aumento chega a 70% -- e há ainda a exigência de garantias reais.
Nelson Goulart Junior, presidente da regional paranaense da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PR), afirma que muitos pequenos e médios empresários estão tendo dificuldades em acessar as linhas de crédito, principalmente para financiar o capital de giro e a folha de pagamento. Para ele, os bancos privados só estão concedendo os empréstimos apenas a quem já é correntista, e ainda assim com juros mais altos.
"Além disso, não tem mais nada liberado. Tinha que ter os recursos do capital de giro bancados pelo governo, creditado direto para o dono do restaurante com juros de no máximo 3,75% e bons prazos de carência. Os recursos prometidos não estão saindo", explica.
A mesma situação é relatada por Fabio Aguayo, presidente do Sindicato das Empresas de Gastronomia, Entretenimento e Similares de Curitiba (Sindiabrabar) e porta-voz da Confederação Nacional de Turismo (CNTur), que diz receber diariamente mensagens de empresários relatando dificuldades no acesso ao crédito.
"Eles dizem que seus gerentes não conseguem visualizar as linhas de crédito nos sistemas internos ou exigem garantias que tinham sido suspensas pelas instituições", completa.
Efeitos
Os primeiros impactos dessa dificuldade já começaram a aparecer. Uma consulta feita pelo Sindiabrabar com os associados mostrou que 60% dos bares e restaurantes do Paraná não conseguiram pagar os salários dos funcionários referentes ao mês de março, e outros 20% pagaram apenas parcialmente.
A dificuldade é tanta que a entidade entrou com uma ação civil pública contra a Federação Nacional dos Bancos (Febraban) na Justiça Federal do Paraná, e fará o mesmo nos próximos dias com o CNTur no Supremo Tribunal Federal (STF).
O Sindiabrabar pede que os bancos cumpram as medidas do Conselho Monetário Nacional e do Banco Central editadas no dia 16 de março, como a flexibilização das renegociações e prorrogações das dívidas bancárias, e a concessão de empréstimos e financiamentos de devedores e mutuários, no período de 60 dias ou mais.
A ação civil pública vai além e pede ainda que os bancos concedam a "prorrogação e composição de todos os tipos de contratos de empréstimos, operações de créditos, financiamentos (imóveis e móveis) e demais dívidas bancárias, abstendo de qualquer negativa neste sentido, no período de 60 dias ou enquanto perdurar os efeitos da pandemia nos 6 meses adiante, sem restrição, distinção ou exigências, de forma ampla e irrestrita a todas pessoas físicas e jurídicas associados à parte requerente, e demais coletivamente, adimplentes ou não, de forma igualitária e sem restrição, adiando os pagamentos para o final do contrato e das respectivas dívidas".
Outra solicitação é que as instituições bancárias não incluam os nomes dos devedores nos sistemas de proteção ao crédito e que "sejam suspensas cobranças e execuções em relação às respectivas dívidas neste período de pandemia".
Recorde de pedidos
Nesta quarta-feira (8), o banco de desenvolvimento Fomento Paraná anunciou que recebeu mais de 10 mil pedidos de financiamento dentro das linhas de crédito criadas para minimizar os impactos da pandemia da Covid-19 no comércio paranaense.
Ao Bom Gourmet, a instituição reconheceu que está tendo dificuldades em processar todos os pedidos e que vem ajustando os sistemas para começar a analisá-los.
"Os fundos existem. No momento o que estamos fazendo mais são as renegociações de contratos, com suspensão de pagamentos por 90 dias", explicou o órgão através da assessoria de imprensa.
A Fomento Paraná informou ainda que a dificuldade dos empresários em acessar as linhas através de agentes de crédito se dá pela falta de funcionários nas prefeituras do interior do estado, que estão trabalhando em escala reduzida ou em teletrabalho.
Segundo Heraldo Neves, diretor-presidente da instituição, a intenção é que ainda nesta semana as primeiras propostas comecem a ser liberadas e os recursos depositados nas contas dos empreendedores.
“Estamos trabalhando duro para isso, mas pedimos mais um pouco de paciência, até que nossa engrenagem esteja no ponto para liberar os recursos”, disse à Agência Estadual de Notícias.
Bancos privados
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) afirmou em nota à Gazeta do Povo que as taxas de juros praticadas "ficaram estáveis" nas últimas semanas, mesmo com "uma revisão geral do risco das operações de crédito em função da pandemia".
A instituição diz, ainda, que o custo de captação de recursos "aumentou substancialmente" para as operações com grandes empresas e nas operações novas, "sobretudo com linhas mais longas". E também que os bancos internacionais cortaram as linhas de crédito para as instituições brasileiras, "o que estreitou mais ainda a liquidez do sistema", mesmo com a injeção de R$ 1,2 trilhão do Banco Central para aumentar a liquidez dos bancos brasileiros.