Bom Gourmet

Fenavinho 2025 celebra a potência do vinho brasileiro e quem dá vida à taça

Anderson Hartmann, com Laura Tedesco Bressan
13/06/2025 20:39
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No coração da Serra Gaúcha, o terroir do Vale dos Vinhedos revela toda a essência do vinho brasileiro. Um lugar onde tradição e inovação brindam juntos a cada safra. Foto: Anderson Hartmann

No coração da Serra Gaúcha, Bento Gonçalves sedia, até 22 de junho, a 20ª edição da Fenavinho. O evento se realiza em paralelo à 33ª ExpoBento e confirma sua importância como vitrine cultural e econômica do vinho brasileiro. Ao reunir pequenos, médios e grandes produtores em um mesmo espaço – o Parque de Eventos da cidade –, a festa reafirma o papel da vitivinicultura como traço identitário da região e motor de transformação para centenas de famílias.
A Serra Gaúcha concentra o coração da produção vitivinícola brasileira, com destaque para municípios como Bento Gonçalves, Garibaldi, Flores da Cunha e Monte Belo do Sul. Juntas, essas cidades formam a base da Rota da Uva e do Vinho, que reúne mais de 550 vinícolas, desde pequenas propriedades familiares até marcas de renome internacional. A região alia tradição agrícola e enoturismo, oferecendo aos visitantes experiências que vão além da degustação: hospedagens, gastronomia típica, armazéns de queijos e doces artesanais, além de espaços culturais como ateliês e bistrôs. É nesse território fértil, em todos os sentidos, que se cultiva não apenas a uva, mas também a identidade do vinho brasileiro.
O mercado de vinhos no Brasil é potencial. Apesar da tendência de queda no consumo global de vinho — estimada em 1% ao ano até 2026, segundo a consultoria internacional IWSR —, o Brasil caminha na contramão. O consumo per capita nacional saltou de 1,8 litro em 2019 para 2,7 litros em 2022 e tem se mantido estável desde então. O país figura hoje entre os dez maiores mercados de bebidas do mundo, movimentando cerca de 11 bilhões de dólares por ano.
A Fenavinho é, também, um reconhecimento aos bastidores do vinho: da terra ao terroir, da colheita manual ao saber acumulado por gerações. Nesta edição, são cerca de 20 vinícolas presentes, cada uma com sua história, seu estilo e, principalmente, com seu modo de pertencer à Serra Gaúcha. Três delas exemplificam bem a diversidade e a força do setor: Miolo, Nova Aliança e Chandon. Embora em pontos distintos do espectro empresarial, compartilham o mesmo compromisso com o vinho como expressão cultural e comunitária.
Miolo: raízes profundas, voos altos

Fundada no Vale dos Vinhedos, onde ainda mantém sua sede, a Miolo é uma das protagonistas do vinho brasileiro. Na Fenavinho 2025, apresenta um portfólio de mais de 30 rótulos que cobrem suas quatro operações espalhadas pelo país – Miolo, Seival, Terranova e Almadén. Essa diversidade de terroirs permite que a vinícola ofereça espumantes, brancos e tintos que dialogam com diferentes públicos e ocasiões, reforçando sua posição como referência nacional.
Mas o retorno à Fenavinho tem um tom que vai além da exibição comercial. Para Alexandre Miolo, que também preside a festa, trata-se de um reencontro com as origens e de um gesto de responsabilidade cultural.
— Mais do que uma vitrine de produtos, a Fenavinho é um espaço de memória e valorização de tudo o que o vinho representa para Bento Gonçalves e para o Brasil – afirma o empresário.
A presença da empresa na feira também mostra como grandes marcas podem continuar atuando localmente, mesmo com projeção nacional e internacional.
Nova Aliança: o coletivo como força motriz

Estrear na Fenavinho em plena 20ª edição tem peso simbólico para a Nova Aliança Vinícola Cooperativa. A mais antiga cooperativa vitivinícola do Brasil escolheu 2025 para marcar uma nova fase, depois de um intenso processo de transformação iniciado em 2023. Com mais de 600 famílias cooperadas e unidades em cidades como Farroupilha, Flores da Cunha e Santana do Livramento, a Nova Aliança é um lembrete de que o vinho também é economia solidária, vínculo comunitário e herança partilhada.
A escolha de participar da Fenavinho em um momento de reposicionamento revela um desejo claro de reconexão com o território. A vinícola aposta em inovação, mas com os pés fincados na tradição de quase um século.
— Nossa presença nesta edição é resultado do novo momento que vivemos como marca e como cooperativa, valorizando quem está na origem de tudo: o produtor – pontua o CEO Heleno Facchin.
O estande da Nova Aliança é, portanto, mais do que uma mostra de rótulos: é uma janela para o campo.
Chandon: global de espírito, local de alma

Entre as vinícolas que participam da Fenavinho 2025, poucas carregam uma dualidade tão marcante quanto a Chandon. Marca do grupo francês LVMH, a Chandon traz ao evento sua elegância internacional temperada por uma crescente brasilidade. Com produção própria em Encruzilhada do Sul e uvas fornecidas por parceiros da Serra Gaúcha, a empresa investe em uma relação próxima com o território – algo que sua presença na Fenavinho ajuda a reafirmar.
Nesta edição, a marca celebra os 150 anos da imigração italiana no RS com uma seleção que inclui o Chandon Blanc de Blanc, feito com uvas de Monte Belo do Sul, em tributo às famílias produtoras da região. Para a diretora de marketing Delphine Vazquez, participar da Fenavinho é uma forma de tornar visível esse enraizamento local:
— Estar aqui com nossos espumantes e com o Blanc de Blanc é reafirmar nosso compromisso com o terroir brasileiro – afirma.
Um compromisso que se expressa na taça, mas também na escuta e no respeito ao que é produzido com sotaque e solo brasileiros.
Mais do que uma feira, um palco de vivências

Com mais de 100 atrações culturais e a participação de cerca de 20 vinícolas, a 20ª Fenavinho, em Bento Gonçalves, reafirma seu papel como espaço de valorização da cultura vitivinícola na Serra Gaúcha. Integrada à 33ª ExpoBento, que reúne cerca de 500 expositores, a festa ultrapassa a lógica comercial e aposta na experiência como forma de conexão com o território. A programação inclui música, gastronomia típica, desfiles e os Jogos Coloniais, com provas como arremesso de queijo e corrida de barricas — elementos que remetem ao cotidiano das colônias italianas. No ano que marca os 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o evento ganha um tom ainda mais simbólico: mais do que celebrar o vinho como produto, a Fenavinho propõe refletir sobre a herança cultural de quem o produz e consome.

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