Experiência
“Safari gastronômico”: minhas experiências em restaurantes
Será que a "alta gastronomia" é sinônimo de pouca quantidade de comida, preços altos e ambiente intimidador? Depende. Já fui num restaurante chique e comi muito bem, num menu degustação em que ficamos quatro horas comendo! A decoração de bom gosto, mas sem excesso, era valorizada pelo "bem receber" que os garçons praticavam.
Aliás, ali o garçom sabia a hora exata de servir, sem o serviço constante e alucinado dos rodízios de carnes. Ali, você não precisava chamar o garçom, ao contrário de alguns estabelecimentos, em que você tem que implorar para ser atendido.
Mas, o principal, é que você pode, realmente se surpreender, indo num lugar em que você normalmente não iria. Em geral, somos acostumados a ir nos lugares que conhecemos ou que nos indicam.
Parece que existe uma mistura de medo com a busca da certeza de que não vamos errar e desperdiçar a noite, indo a um restaurante ruim. A questão é: como vamos conhecer excelentes lugares, que certamente existem e não sabemos, sem ir, sem tentar, sem se expor
É sabido que tudo na vida contém um pouco de risco. Nada é garantido. Podemos sofrer um acidente num safari na África ou no chuveiro, em casa. Então o ponto talvez seja: que tal se expor, fazer “loucuras" em que o risco é controlado? No caso em questão, na pior das hipóteses, deixar de comer ou beber, se não for tão bom? Se passarmos dessa fase, a grande questão é: como fazer isso?
Existem várias opções: desde sair aleatoriamente pela cidade e entrar naquele restaurante desconhecido. Ou naquele restaurante badalado que você acha que não se encaixa. A adrenalina vai rolar: você pode ter vários tipos de "surpresa": desde a frustração com o local, no primeiro caso até preços inimagináveis, no segundo caso. Nessas situações, uma saída rápida e um “obrigado” resolvem. E, no mínimo, vai ser uma história para contar no próximo happy hour com os amigos!
Outra: vouchers. Existem empresas que fazem convênios que dão desconto para você ir ao restaurante, pedindo dois pratos e pagando um, por exemplo. Aqui existe uma tendência a você ir naqueles que você já conhece para aproveitar o desconto. Mas se permita experimentar algo que você não conhece ou que você normalmente não comeria. É a chance, com um custo mais baixo.
Alguns estabelecimentos oferecem promoções, em geral no happy hour ou em alguns dias da semana, com tome dois e pague um ou com descontos atrativos em petiscos. Aqui também há uma redução do custo e uma oportunidade de conhecer um bom lugar. Para contrabalançar, um happy hour não tem esse nome à toa e você vai poder bater papo e dar risada com os amigos.
A ida clássica a um novo lugar é por meio de indicações: de amigos, do chefe, de parentes etc. Aqui, pelo perfil do “especialista" você vai saber mais ou menos o que espera você. Pro bem e pro mal. Então essa é uma das estratégias mais tendenciosas que existe: talvez você tenha mais do mesmo. O já citado rodízio, em que você come muito e paga pouco ou, dependendo do seu salário, o bistrô, em que você come pouco e paga muito!
Então, cuidado!
Em tempo de “influenciadores digitais” existe um número grande de “críticos" que vão ao restaurante, filmam, fotografam e deixam a sua opinião. Também é uma boa forma de conhecer novos lugares, mas aqui o risco é o mesmo de quando você escolhe um hotel pela internet: fotos bem trabalhadas podem iludir você e quando você chega lá, não é bem assim. A vantagem é que você pode ter uma noção do ambiente, da comida servida, preços etc.
Pesquisar o site do lugar, na sequência é uma boa ideia e em sites de viagem você também pode avaliar as opiniões que turistas tiveram do lugar.
Festivais. Também existe uma boa quantidade deles. São oferecidos alguns pratos a preços mais camaradas, por um período e você pode avaliar, votar etc. Aqui você também vai estar sujeito a grandes emoções, pois às vezes, as escolhas são ao acaso.
Se você quer grandes emoções também pode ir conhecer um bar ou restaurante a primeira vez com seus amigos! É sempre aquela sensação de “será que eu vou acertar a dica” e ter uma grande noite ou ficar com aquela cara de “desculpe pessoal”. Uma saída é você realmente abrir o jogo antes de ir.
É claro que também existem os críticos profissionais, as revistas que promovem rankings e aqui você quase vai ter que estudar o lugar. A coisa fica meio acadêmica e nem todo mundo gosta de fazer pesquisas tão profundas para ter um momento de lazer. Assim como existe o contrário. Os que querem se aprofundar. Sem trocadilho, para esses, é um "prato cheio”.
E a “baixa gastronomia”? Será que é a mesma coisa? Aqui o pré-conceito aumenta. E muito. Inclusive sanitário. Por que a aparência, as vezes, assusta o freguês que não está acostumado. Nesse caso, a coragem tem que ser acompanhada por um “estômago forte”, pois as vezes a culinária é rústica e exótica. Mas a partir do momento que você tenha condições, vale a pena provar. É o famoso “experimentar”.
Mas, por vezes, você tem boas surpresas: aquela cerveja gelada que você não recebia faz tempo; aquele tira-gosto bem temperado e bem preparado que você não imaginava que pudesse existir; e que leva você para a infância, quando você comprava um salgado para o lanche, que tinha um sabor maravilhoso. Às vezes, é aquela música ambiente no tom certo, que ajuda a conversa e não compete com ela. A noite passa rápido.
Em geral os botecos, especialmente os tradicionais, dependem de indicações pessoais. Todo o pessoal que foi mencionado no início não consegue captar em seus radares esses estabelecimentos, pois eles estão fora do circuito da moda, mas nem por isso não são bons; às vezes, os frequentadores desses bares e restaurantes nem querem que seja muito divulgado, para não interferir na qualidade do lugar. Se vier muita gente, a qualidade cai.
Nesse particular o que está fazendo falta é aquele barzinho ou lanchonete de bairro, em que o pessoal da região passava ali, antes de ir para casa, no final do dia, para um aperitivo e um papo relaxante. Mas, procurando bem ainda existem esses lugares. Deve ter algum aí perto de você. Na semana que vem deixe o carro em casa e de uma volta a pé pelo bairro. Você vai notar coisas que nunca tinha percebido.
Agora, se não quiser correr todos os riscos acima, existe uma opção: pegue uma receita com a sua mãe, passe no mercado para comprar os ingredientes e bebidas e vá para casa cozinhar. Aí você vai reduzir o risco bastante. De qualquer modo, bom apetite!
*Celio José Cercal é de Curitiba. Formado em Ciências Sociais, Economia e pós-graduado em Finanças, ele fez carreira no mercado financeiro e está aposentado. Adora falar de comidas e bebidas, mas, principalmente, degustá-las!
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