Experiência
Mercado Público de Porto Alegre faz 150 anos: conheça três clássicos gastronômicos
Neste mês, o Mercado Público Central de Porto Alegre comemora 150 anos. É uma joia arquitetônica, pertinho do rio Guaíba – palco de um belíssimo pôr do sol. Símbolo da história do Brasil, o edifício foi projetado por um arquiteto alemão, Frederico Heydtmann, construído por africanos escravizados, apropriado por portugueses que vendiam mercadorias dos alemães do Rio dos Sinos, e posteriormente, por imigrantes italianos, até ser ocupados por brasileiros, filhos de uma nação mestiça, de rica cultura e saborosa gastronomia.
Os cheiros do Mercado traduzem essa miscelânea. Charque, bacalhau, frutas, verduras, especiarias. O aroma, misturado ao burburinho dos feirantes e ao fluxo de pessoas, cem mil por dia, fazem com que da visita uma interessante experiência sensorial.
As portas são abertas das 7h30 às 19h30 nos dias de semana, aos sábados fecha uma hora mais cedo e aos domingos não abre. Só fechou por mais tempo em julho de 2013, após o incêndio que destruiu o piso superior. Uma tragédia que arrancou muitas lágrimas dos comerciantes e da clientela. Mas uma marca para o Mercado que sobreviveu a grande enchente de 1941, a outros três incêndios e a administração de Telmo Thompson Flores, prefeito na ditadura militar (1969 -1975), que queria demolir o prédio para construir uma avenida.
Atualmente, são 106 estabelecimentos a oferecer grande amostra da economia gaúcha – e de outros lugares do mundo. Dentre eles, escolhemos três clássicos. O Gambrinus, de 1889, a centenária Banca do Holandês e a Banca 40, que há 92 anos serve sorvetes.
Gambrinus
O Gambrinus é o restaurante mais antigo de Porto Alegre com 130 anos. Foi aberto em 1889, ano que marca a transição da Monarquia para a República. O mais antigo do Brasil, o Leite, localizado em Recife, foi fundado sete anos antes, quando D. Pedro II ainda governava o país.
Uma confraria germânica, de amigos que se reuniam para tomar cerveja e bater papo, fundou o Gambrinus. O nome é alusão a um lendário beberrão. Com a mudança dos imigrantes alemães do Centro para os bairros Moinhos de Vento e Floresta, também em Porto Alegre, quem assumiu o ponto foram os irmãos italianos Finatto.
O boteco dos italianos era reduto da boêmia, até se aposentarem e passarem o Gambrinus para dois portugueses de Aveiro. Os irmãos Antonio e João Dias de Melo assumiram em 1964 e, pela primeira vez, abriram o restaurante de dia. A ideia foi criar um cardápio variado para almoços. Um menu que se mantém tradicional, com pratos que dificilmente serão encontrados em outros restaurantes.
Na segunda-feira tem feijoada à moda da casa acompanhada de couve, farofa e arroz, R$ 29. Dois bifes enrolados recheados, ervilha ao molho, purê com arroz, R$ 29. E filé de fígado acebolado com arroz, salada mista ou caldo de feijão, R$ 29. Na terça é a vez da rabada à moda da casa com agrião, polenta e arroz, R$ 39. Língua ensopada com batatas, ervilhas e arroz, R$ 29. E bife de lombinho de porco com feijão mexido e arroz, R$ 29.
Quarta-feira é servida almôndegas recheadas com queijo, acompanhadas de feijão mexido e arroz, R$ 39. No inverno tem mocotó com tempero verde, azeitona e ovo, R$ 39. Quinta-feira, costela de gado na panela com arroz e aipim, R$39. E carreteiro de charque com feijão mexido, R$ 36.
Sexta e sábado têm a famosa tainha recheada com camarão, acompanha molho escabeche, pirão e arroz, para duas pessoas, R$ 109. E filé de linguado com salada de bacalhau e arroz, 129, também para duas pessoas. As opções individuais são filé de linguado ao molho escabeche, R$ 69 ou de côngrio ao molho escabeche, R$ 82.
Nos sábados de inverno também é servida porção individual de mocotó. Outra estrela do Gambrinus é o bacalhau à Gomes de Sá, desfiado com batatas, azeite de oliva e tempero verde, R$ 119. Para quem gosta de vísceras tem rins grelhados com farofa, R$ 22, e grelhado ao molho madeira, R$ 29. Mas, o prato mais vendido é a tilápia, que pode ser grelhada ao molho de camarão, R$ 49 ou com legumes ao vapor, R$ 39.
“Foi surpreendente para nós a grande saída da tilápia, peixe de água doce, já que os restaurantes portugueses são famosos pelos peixes de água salgada”, diz Nadja Demezuk Melo, que ao lado do primo João Alberto Cruz de Melo e da gerente Marlene Barden, administra o restaurante.
Familiar, o restaurante valoriza a permanência dos funcionários. O mais antigo é José Carlos Lopes Tavares. Zezinho, como é conhecido, é garçom há 40 anos. No seu primeiro ano de trabalho, o Mercado pegou fogo. “Na época ajudamos a apagar de regador”, lembra.
Zezinho também acompanhou a tentativa de demolição do patrimônio histórico. Seu patrão, Antonio era o presidente da Associação do Comércio do Mercado e encabeçou a luta para preservá-lo. Vitória para a memória, inclusive a afetiva, do Brasil.
Banca do Holandês
Considerada a primeira banca de especiarias de Porto Alegre, a centenária Banca do Holandês é referência em fiambres nobres, bacalhau, azeites, queijos, frutas secas e temperos. Reduto de chefs e cozinheiros foi fundada pelo holandês Dirk Van Den Brull em 1919. É uma das poucas que mantém sua posição original no número 31, no coração do Mercado.
Quando o holandês faleceu, um dos seus funcionários, Renato Jardim Rosa comprou a banca. Na época, havia três funcionários e aves vivas eram vendidas. Renato passou a banca para o filho Sergio e a nora Adriana Alcântara há mais de 30 anos. O casal desenvolveu o negócio e o consolidou como é hoje, referência em qualidade.
Na banca se encontra charque de primeira a R$ 34 o quilo, bacalhau desfiado por R$ 45 o quilo, bacalhau Porto Imperial da Noruega por R$ 89 o quilo. Fiambres como jamon Pata Negra ibérico R$ 490, jamon serrano espanhol fatiado R$ 145 o quilo, presunto parma italiano Angioleto R$ 130, patê de pato R$ 45,50, pastrame Berna R$ 75,50, paleta defumada, R$ 58, queijo Prima Dona vermelho R$ 175 o quilo, queijo Raclete R$ 92,50 o quilo, Vaccino Santa Clara R$ 87 o quilo, Gouda Holandês R$ 80 o quilo, rocombole de mozzarella de búfala, parma, rúcula e tomates secos, R$ 79.
Outra dica é experimentar os antepastos. Há muita variedade como pasta de gorgonzola, R$ 51, mix de queijos R$ 75, caponata R$ 38, pasta de bacalhau R$ 60, pasta de azeitona preta R$ 38, pasta de salada russa, R$ 38, pesto de manjericão R$ 38, creme de ricota, R$ 25, de alho poró R$ 38, de tomate seco R$ 41, de presunto parma R$ 55. As geleias também são deliciosas. Destaque para a de damasco R$ 21, de amora, R$ 18, 50 e de abóbora R$ 15,90.
Pela qualidade dos insumos e uma relação de intimidade com os clientes, a Banca do Holandês está sempre lotada. “Fazemos parte dos melhores momentos da vida das pessoas. O café de domingo, as ceias e as festas. Quando o Mercado reabriu após o incêndio, centenas de clientes vieram nos abraçar. Todos choravam. É muito mais que uma relação comercial, tem muito afeto”, diz Adriana. O Mercado reabriu os portões no dia 13 de agosto de 2013, após 38 dias.
Banca 40
Para não desperdiçar as frutas maduras, o português Manoel Maria Martins resolveu fazer salada de frutas e oferecer na sua fruteira, a Banca 40, aberta em 1927. As frutas eram produzidas em sua chácara em Guaíba. Com a expressiva venda das saladas, decidiu produzir também sorvetes artesanais de chocolate, creme e morango e nata batida com açúcar.
Nos anos 40, ex-combatentes da 2ª Guerra Mundial pediram para que ele misturasse os ingredientes. Nasceu a Bomba Royal. Sucesso vitalício desde então. Foi a nora de Manoel, Madalena que deu nome à sobremesa. Foi ela também que administrou a banca até 2011, quando foi vendida a três sócios.
A tradição e as receitas foram preservadas. Além da Bomba Royal, os pedidos mais frequentes são a Banana Split – banana picada, trio de sorvetes, castanhas, cobertura, tubete e nata batida (R$ 20), a salada de frutas com sorvete e nata batida (R$ 12, a pequena e R$ 14, a grande). Mas há outras delícias como nata com morangos ou frutas, R$ 14,50. Colegial, sorvete, nata, cobertura, tubete e castanha, R$ 14, Torta Royal de bombom e creme, chantilly e calda quente, R$ 17 e creme de mamão e cassis, R$ 17.
Os três sabores de sorvetes, criados há 92 anos, são os mais pedidos, mas há outras quatro opções de frutas – abacaxi, banana, frutas vermelhas, limão – e quatro opções doces – Ferrero Rocher, flocos, torta belga e doce de leite. Para alcançar um público mais jovem, o açaí foi incluído no cardápio. A casquinha de açaí com sorvete de creme custa R$ 5,50.
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