Experiência
Chefs paranaenses saem em expedições para garimpar produtos locais
Desde que a premiada chef Manu Buffara, do Manu, em Curitiba reuniu um grupo de jornalistas estrangeiros para conhecer produtores rurais do Paraná no fim do ano passado, uma tradição começou a tomar forma em sua rotina. Pelo menos uma vez por mês (às vezes até mais), ela e outras cozinheiras de Curitiba se dividem em dois carros e partem rumo aos tesouros escondidos de produtores rurais e litorâneos do sul do Brasil.
“A gente acabou formando um grupo sem querer”, diz Manu, que foi eleita recentemente a chef do ano pelo prêmio Prazeres da Mesa. O time é liderado por mulheres que comandam a cena gastronômica de Curitiba e região metropolitana: Vânia Krekniski, do Limoeiro; Gabriela Carvalho, do Quintana; Rosane Radecki, do Girassol e Claudia Krauspenhar, do K.Sa Restaurante.
Neste ano, as chefs já visitaram produtores de manipueira e açaí juçara em Morretes e Antonina, no litoral paranaense, viram como é feito melado orgânico em Cerro Azul, na região metropolitana de Curitiba, e acompanharam a captura de camarões e a produção de botarga (ovas de tainha curadas) em Penha, Santa Catarina.
Abasteceram também as despensas com cogumelos porcini gigantes (Boletus edulis, uma espécie nova no Paraná) e Lactarius deliciosus, nos arredores de Curitiba. “Sempre aproveito para desidratar os cogumelos porque eles ficam com uma quantidade maior de umami. Uso para fazer caldo de boi, consomê e também um creme de porcini com marisco grelhado”, diz Manu.
Amizade fortalecida
O contato direto com os produtores não é novidade para nenhuma das chefs. Cada uma delas já tinha sua rede de contatos e fazia visitas frequentes às suas fontes, mas as viagens em conjunto possibilitaram uma ampliação do olhar sobre o todo.
“Uma coisa é fazer isso sozinha ou com uma parceira, mas a gente vai nesse time de gurias incríveis. De toda essa experiência, o que mais me chama a atenção é a generosidade que é fomentada nessas expedições. Tem muita troca de ideias, de receitas, de preparos. Quanto mais eu conheço elas, mais fã eu viro”, conta Gabriela Carvalho, do restaurante Quintana.
Foi em uma dessas trocas que Gabriela apresentou “seu Divonei” à Vânia Krekniski e Manu Buffara. O produtor paranaense tem uma propriedade de ponkan orgânica, cana e mandioca. “Ele faz o melado em um tacho de cobre e faz um tipo de rapadura com mandioca e abóbora. Só ele e a família cuidam de toda a produção, é impressionante”, conta Vânia.
Vinagre de tucupi paranaense
Na primeira expedição, foi a vez de Vânia compartilhar com as outras chefs seu fornecedor de farinha de mandioca, do moinho Boa Esperança, em Morretes. Foi lá que há dois anos descobriu o precioso manipueira, líquido produzido durante a moagem da mandioca.
“Eles estavam jogando fora e agora armazenam tudo. Foi a partir dele que fiz um vinagre balsâmico com umami incrível”, diz a chef do restaurante Limoeiro. “Deixei ele fermentando por 30 dias e depois reduzi até formar um líquido bem escuro. Ele se cristaliza no fundo e explode na boca com muito sabor”.
As próximas viagens já estão no calendário das chefs e não têm previsão para terminarem tão cedo.
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