Experiência
Conheça 7 lugares para curtir o rolê no renascido Centro Leste de Floripa
FLORIANÓPOLIS – Em 1673, o bandeirante Francisco Dias Velho fundou o pequeno povoado de Nossa Senhora de Desterro. Local onde fica a Praça XV de Novembro, no Centro de Florianópolis. No entorno da praça, aos pés da Catedral Metropolitana, surgiram as primeiras construções da Ilha. E, portanto, não é de estranhar que a boêmia da cidade tenha seguido a mesma geografia.
Em 1911, quando foi implantada a rede elétrica na cidade, a noite deixou de ser um mistério. Mas somente nos anos 1950 foi criada uma verdadeira cultura de bar. Um dos locais de bastante movimento era o Centro Leste, designado desse jeito por estar a leste da Praça XV, traçado por ruas como a João Pinto, Tiradentes e Víctor Meirelles.
A zona, no entanto, começou a decair em 2003, com a mudança do terminal central de transporte público, e entrou em franco abandono dez anos depois. O Centro Leste parecia estar condenado quando começou a surgir espontaneamente, há cerca de dois anos, bares interessados neste cenário underground. O tom provocativo dos novos estabelecimentos não só funcionou como transformou o Centro Leste numa febre.
Não é exagero falar que a cada mês abre um novo estabelecimento, o que estimula uma nova cultura: andarilhar à noite pelo Centro Leste de bar em bar, como os primeiros boêmios. Quem quiser uma imersão pode começar o roteiro de dia. A dica é visitar o Museu Victor Meirelles e tomar um cafezinho no Museu da Escola Catarinense. No sábado, das 9h às 14h, tem a feira Viva a Cidade com antiquários e artesanatos. Também vale o rolê nos brechós ou uma esticadinha nas rodas de samba. Para os baladeiros têm três opções bacanas, Taliesyn, Madalena e Dont Tell Mamma. Agora para quem não perde a chance de apreciar um passeio elítico gastronômico separamos boas dicas (organizadas por tempo de existência).
Confira 7 lugares no centro leste de Floripa
Kibelândia
A Kibelândia é um ponto fora da curva. Foi aberta em 1969 por José Soares, mineiro com ascendência árabe, para servir comida de boteco com influência nessas duas origens, e nunca mais fechou as portas. Quando a filha de José, Cristina Soares, assumiu a casa, o cardápio mudou um pouquinho. Além do famoso kibe frito (com recheio de carne moída, azeitona e cebola R$ 8), e de refeições árabe como beirutes R$ 75 (para duas pessoas), kibe cru R$ 35 e de pão sírio R$ 4, acompanhado de pastinhas homus e babaganuche, coalhada (R$ 18 cada), tem petiscos manezinhos. Bolinho de siri e de bacalhau (R$ 10 cada) e pastel de camarão, R$ 15. Embora, o pedido que mais saia, sem dúvida, seja o chopp Brahma servido na caneca congelada, R$ 10 (300 ml).
A Kibelândia vale muito uma visita. O casarão de dois andares, no estilo eclético, é belíssimo. Foi inaugurado em 1919. Outro ponto positivo é que o local é democrático. Reduto de desembargadores, políticos, intelectuais, bem como feirantes e moradores locais, que dividem o mesmo espaço com um ar fraterno onde todos parecem velhos conhecidos.
Os quadros de Átila Ramos também merecem atenção especial. São aquarelas dos antigos points da boêmia ilhoa. O Ponto Chic, palco da Novembrada, o Petit, onde agora é o Canto do Noel, o Katicidis e Confeitaria do Chiquinho, que em 1954 completou 50 anos – sendo o mais antigo reduto boêmio da cidade na época. Porém, 13 anos depois, a confeitaria, na Rua Felipe Schimidt, foi fechada para desencanto de seus frequentadores.
Serviço
Rua Victor Meirelles, 98 – (48) 3322-0760
Tralharia
Neste mês de outubro, o Tralharia – bar, café e antiquário-, comemora quatro anos. O local está totalmente conectado com as diversas formas da arte e cultura. É um local múltiplo, agradável, bom para bater papo. O cardápio é enxuto, mas de alta qualidade.
A Pilsen 300 ml custa R$ 10, a de 500 ml R$ 16. A IPA R$ 12 e R$ 19 e a Neipa R$ 14 e R$ 22. Há três opções de cervejarias, Coruja, Barco e Saint Bier. Há nove opções de entradas, queijo coalho R$ 8, kibe ou quiche R$ 10, empadinha R$ 10, pão com bolinho, R$ 18, buraco quente R$ 16 (pão de trigo recheado com carne moída), choripan R$ 18, ou porções de linguicinha R$ 18 e almondegas R$ 26. Na terça tem roda de choro ou jazz. Sem contar nos Embalos de Sábado, com música boa e mesinhas da rua.
Serviço
Rua Nunes Machado, 104 – (48) 3028-3787
Picnicfood
O convívio com o cachorro Pico fez Asdra Martin virar vegano. Formado em gastronomia no IFSC (Instituto Federal de Santa Catarina) começou a cozinhar pela própria sobrevivência no começo de 2015. Rapidamente, seus hambúrgueres fizeram sucesso. Primeiro, em junho, nas feiras ao ar livre de Florianópolis. Quatro meses depois nas noites do Tralharia. Os lanches se diferenciaram pela qualidade, diferente de muitos lugares que oferecem sanduíches secos para quem não come carne.
Há um ano e meio, o Picnicfood abriu seu próprio endereço na Victor Meirelles. O lugar está sempre cheio, principalmente, por músicos. Asdra tem a banda The Dolls há 19 anos. Domingos, o garçom do Picnic, é o guitarrista. A arte também está na parede com quadros à venda, sem comissão, de diversos amigos como Leandro Lopes de Souza, Diego de Los Campos, Ana Moraes, reproduções da Faferia e fotografia de Airton Cruz.
O cardápio é enxuto. Há três opções de burguers. Cheddar vegano, pão artesanal de açafrão, burguer de feijão e ora-pro-nóbis, cebola caramelizada, barbecue artesanal, mix de verdes e tomate, R$ 18 – preço que continua o mesmo desde 2015. Cogumelo shiitake e paris, com mesmo pão burger e saladas, e mayo de alho, R$ 22. E o do dia, descrito no cardápio como “sempre muda, pergunte pra alguém da equipe”, R$ 20.
Nas bebidas sempre tem um Carménère chileno, R$ 10, chope da Vodu, R$ 8, cachaça Salinas R$ 5 e os drinks da casa, montados ao gosto do cliente, com três opções de destilados – vodka, gin, run – e três de xaropes, limão, gengibre e tangerina, R$ 15.
Um segredinho da casa que vale experimentar é o refrigerante natural. É fermentado apenas com água, suco de limão, açúcar e gengibre.
Serviço
Rua Victor Meirelles, 98 – (48) 3322-0760
No Class
Inaugurado em outubro de 2017, o No Class tem grande responsabilidade no florescimento do Centro Leste. A arquitetura sensorial de Emanuella Wojcikiewicz foi o gatilho para o sucesso. O No Class é provocante. Tem iluminação vermelha, quente. Sabres de luz inseridos num cenário bruto, caótico, contestador. Glamour underground chique e decadente, num estilo Madonna anos 80.
Aliás, a trilha sonora toca o melhor dessa década – embora, ninguém dance. A ideia é curtir o ambiente e se deleitar com a carta de drinks e as comidinhas. A arquitetura descolada pode ser a isca para atrair o público, mas para manter a casa cheia é preciso caprichar na gastronomia, o que o No Class faz bem.
Os drinks são divididos em longo, baixo (copos), caneca, taça, coupé e shot. No longo, a dica é se divertir com o drink docinho e refrescante Magali, rum branco, hortelã, xarope artesanal de melancia, limão e club soda, R$ 19. No baixo, a preferência dos clientes é o Hibisco Sour, vodka, chá de frutas vermelhas, hibisco, limão siciliano, xarope simples e clara, R$ 19. Na caneca há quatro versões de Moscow Mule. Nas taças quem reina é o Gin. A mais pedida é a Tea Tônica, com chá de frutas vermelhas, tônica e limão siciliano, R$ 19. No coupé destaque para o 1942, Jägermeister, vermute rosso, licor de café Tia Maria e Ypióca 150, R$ 24. O shot mais famoso é o Cura Tudo, cachaça, xarope de mel, gengibre, limão e angostura, R$ 17.
A comida na casa tem influência espanhola e é muito boa. Há quatro sabores de tacos, R$ 20 cada. Carnitas, porco confit desfiado, salsa roja, cebola e coentro em tortilla artesanal. Cogumelos selvagens salteados, babaganoush defumado, mandioquinha marinada e mix de sementes em tortilla artesanal. Pescado, peixe do dia frito com salsa de manga e salsa verde em tortilla artesanal. Pollo, frango empanado, coleslaw e salsa verde em tortilla artesanal. Outros petiscos são as batatas rústicas, Tostones, bananas da terra frita acompanhadas de sour cream e creme de milho doce, R$ 20 e Mil Hojas, massa folhada, leite creme de cardamomo e doce de leite de cabra, R$ 18.
Serviço
Rua Victor Meirelles, 184, Centro – (48) 3206-5038
Moochacho
Sabe aquele dilema, vontade de comer um lanche de rua, mas culpa por não ser saudável? O Moochacho pode te ajudar. Oferece burritos com releitura californiana diferente do tex mex tradicional com feijão, que é mais pesado. O resultado são lanches que combinam bem com o clima de Floripa.
No menu tem o California, carne assada, guacamole, batata frita, sour cream e queijo, R$ 22. O Pollo Bandito, cubos de frango empanados e salteados no molho de tamarindo, coleslaw ( a salada de repolho americana), pasta de abacate e queijo, R$ 20. E Veggie Ripper, bolinho de lentinha, arroz espanhol, pico de gallo com red sauce e guacamole, R$ 18. E por mais R$ 5, tortilla chips. Outra opção caliente é a porção Jalapeño Poppers, três pimentas jalapeño empanadas e recheadas com queijo, R$ 12.
Para beber, as águas frescas. A Jamaica é um refrescante chá de hibisco; a Horchata, é uma bebida feita à base de arroz e tem a fruta do mês. O Moochachos foi aberto na temporada de 2016 como um food truck em Ingleses, fez muito sucesso, rodou Santa Catarina e virou um bar na Trindade, bairro estudantil. Há cinco meses abriu no Centro Leste. O ambiente é alegre com mesa compartilhada, neon no prédio e luzinhas na rua. Divertido e agradável.
A ideia do negócio surgiu de Artur Marangoni – sócio ao lado de Anderson Maciel e Guilherme Schimdt -, que morou na Califórnia por seis meses e viaja constantemente para lá, pois é entusiasta da cultura de San Diego, polo do surf e do skate e dos burritos.
Serviço
Rua Saldanha Marinho, 53
Franklin
Um manezinho sem clichês, esse é o Flanklin. O bar de coquetéis, que inaugurou dia 19 de junho, é inspirado na cultura catarinense e homenageia o professor Franklin Cascaes. O lugar é intimista e absolutamente charmoso. A luz amarela transmite calor, acolhe. E nas paredes de tijolos, despidas, marcadas, há o respeito pela história da casa, que bem misturada aos garimpos, como as cadeiras do antigo Cine Ritz, constrói uma ponte entre passado e agora.
Efeito bruxólico ao jeito de Franklin Cascaes, nativo que se tornou guardião e cocriador da mitologia mágica da cidade, seus seres fantásticos, boitatás, sacis, feiticeiras e lobisomens. Numa das paredes, está exposta página a página a primeira edição de Fantástico da Ilha, de 1958, escrito à maquina e envelhecida pelo tempo.
O mais bacana do bar, porém, é que a gastronomia foi pensada com o mesmo capricho que a arquitetura, o que faz com que os clientes saiam com a sensação que a promessa foi cumprida. O cardápio valoriza Santa Catarina com produtos locais frescos e respeito à memória.
Para começar, a dica é tomar uma dose de Consertada, R$ 5. A bebida com mais de 200 anos é Patrimônio Cultural de Bombinhas e foi criada pelas imigrantes açorianas para aproveitar a borra do café, que cozida com cachaça, açúcar mascavo, gengibre, cravo e canela, levanta até defunto. Na carta, frutas e bebidas locais, quase esquecidas, são ingredientes para drinks. Mixologista com experiência em 11 estados brasileiros e ex-embaixador da Monin, Diego Rita, proprietário do Franklin, foi buscar araçá em Lages, butiá em Laguna, açúcar mascavo e Cachaça do Imperador em Santo Amaro da Imperatriz, Steinhaeger, Boonekamp (amargo alemão), Wacholder (aguardente com zimbro), da empresa centenária Bartenike, de Garuva, cidades catarinenses. Além de criar drinks com garapa e com refrigerantes clássicos do Estado como Pureza e Laranjinha Água da Serra.
A dica se você gosta de bebidas doces é experimentar a Mãi e Fiia, cachaça do Imperador Amburana e Garapa, R$ 13. E se curte as mais amargas, Diulindo, cachaça artesanal de butiá, Boonekamp e Campari, R$ 24. E o Aratini, que é um Martini de araçá, com cachaça do Imperador, Wacholder, suco de araçá e xarope de alecrim, R$ 26.
A carta é longa e permite muitas experiências como trocar gin por Steinhaeger Bartenike. E também tem comidinhas gostosas feitas pelo chef Bruno Malavoltas. A dica é experimentar os dadinhos de tapioca com queijo coalho, R$ 30 e a batata frita da casa, levemente empanada com farinha de beiju, trigo e especiarias, R$ 20. Para os vegetarianos e veganos têm o sanduíche Não Como Carne, feito de abobrinhas e berinjelas marinadas em azeite de oliva e alho, grelhadas com aceto balsâmico, açúcar mascavo e queijo provolone derretido (opcional), acompanhado de geleia de pimenta, R$ 22.
Para os carnívoros há o sanduíche Dazumbanho, cubos de fraldinha grelhados com alho desidratado, pimenta-do-reino, queijos prato e provolone e barbecue caseiro, R$ 27. Há molhos adicionais interessantes para pedir, geleia de butiá ou limão galego e melado, R$ 3. Sem contar que a água, que vem numa moringa de barro, é cortesia.
Serviço
Rua Tiradentes, 223 – (48) 3050-6195
Vodu
Inaugurado há dois meses, o Vodu bar é a casa da cervejaria homônima, originária de Florianópolis. O carro-chefe é a American IPA, com aroma floral e pouco frutado, lembrando maracujá e frutas tropicais. Uma cerveja versátil, que combina com diferentes épocas do ano e tem uma pegada de IPAs clássicas americanas. É acobreada e bastante amarga, contando com 58 IBU e 6% de ABV.
Para quem curte cervejas artesanais é bem importante conhecer esses medidores. O IBU (International Bitternerss Units) é uma escala que mede a intensidade de amargor das cervejas. Sintetizando, quanto mais lúpulo na receita, maior a sensação de amargor percebida. Já o ABV (Alcohol by volume) mede a gradação alcóolica.
A origem da Vodu começou há nove anos pelo arquiteto e cervejeiro Rômulo Ceretta, mas foi somente de três anos para cá é que a empresa saiu do papel para os bares. Atualmente, mantém parceria fixa com dez deles, espalhados pelo centro de Floripa, no bairro continental Coqueiros e em São José. No bar da Vodu há espaço para três cervejarias locais parceiras através da alternância de estilos no taproom de seis torneiras.
O Vodu bar foi constituído em sociedade com Radji Schucmann, sócio também do PicnicFood. O ambiente é simples, tem um quê mais masculino, com um balcão de 12 metros, e um mix de elementos como metal, cimento e madeira. A comida é responsabilidade do chef Guilherme Schwinn. Para fugir das frituras tradicionais de boteco e da onda das hamburguerias, a aposta é no sanduíche de bao, paõzinho chinês cozido no vapor, que conheceu há dois anos, em uma viagem a trabalho para Macau. Para matar a fome, a unidade custa R$12,00 ou o par por R$ 20,00.
Serviço
Rua Victor Meirelles, 154 – (48) 98829-3225
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