Experiência
Museu do Chocolate da Lindt desperta para os cinco sentidos
Começo o texto pedindo licença ao leitor para usar um tom pessoal. É que, na primeira pessoa, talvez seja mais fácil apresentar o que é viver a experiência de visitar o museu da Lindt, batizado oficialmente de The House of Chocolate. No contexto ora apresentado, a palavra experiência atinge o grau máximo, abarcando os cinco sentidos: olfato, paladar, visão, audição e tato.
Mas, antes de começar, é importante saber como eu fui parar na “fantástica fábrica de chocolate” versão suíça. Não, diferente do filme de Willy Wonka, não precisei achar bilhetes premiados em barras de chocolate para visitar o local. De férias, em viagem para Zurich, fiz o que sempre faço ao ir a qualquer outra cidade, estado ou país: pesquisar as opções ligadas à gastronomia.
E, verdade seja dita, quando a gente fala em Suíça, é inevitável pensar em dois produtos que deram fama internacional ao país: os queijos e o chocolate. Aliás, na visita ao museu, uma enorme sala interativa conta, em detalhes, como surgiu essa relação estreita entre os suíços e o chocolate, originário da América Latina.
Em Zurich, a maior cidade da Suíça, há uma profusão de opções de chocolates artesanais, cuja produção é possível testemunhar das vitrines das lojas. É o caso de marcas como a Teuscher e a Läderach.
Na Banhof Strasse, uma das ruas mais badaladas por lá, dei de cara com a vitrine da Läderach e a produção, in loco, das barras de chocolate fresco vendidas aos pedaços, por peso. No local, também são vendidos bombons a granel e barras já embaladas.
Uma experiência sensorial
Mas, aqui entre nós, jornalista gastronômico que se preze, mesmo nas horas de descanso, não resiste a ir mais a fundo na origem dos produtos e sucumbi à tentação de ir até à Casa do Chocolate da Lindt, que fica anexa à fábrica da marca num vilarejo próximo.
De início, confesso, achei o projeto com uma cara de “caça-turistas” e me deixei levar. Afinal, naquele momento, me encontrava exatamente nesse papel. Ao fim, me surpreendi com um trabalho que vai muito, mas muito além de provar e vender chocolates.
Com um trabalho de pesquisa primoroso, o delicioso passeio mexe profundamente com os cinco sentidos e, de quebra, se consolida como uma aula sobre a origem e tradição do chocolate, com informações que poderiam preencher com folga uma enciclopédia sobre o ingrediente.
A atração, vale lembrar, já é considerada uma das mais populares da Suíça e já recebeu mais de 250 mil visitantes em pouco mais de um ano desde a inauguração, em setembro de 2020, apesar da pandemia.
Aí, fui saber depois, com o diretor-administrativo Kai Spehr, que o projeto, instalado em um espaço de 1.500 m², é um dos braços da Lindt Chocolate Competence Foundation, fundada em 2013. Segundo o gerente, a fundação tem como objetivo salvaguardar a posição de liderança da Suíça como um país produtor de chocolate a longo prazo e reforçar e expandir a experiência em chocolate suíço.
“A Fundação dedica-se à educação continuada e à formação avançada de especialistas setoriais e à promoção de jovens talentos. Como projeto central, é fornecido ao público em geral uma plataforma de informações interativas sobre todos os assuntos relacionados ao chocolate - a Lindt Home of Chocolate”, explica o diretor.
E a gente foi lá aprender! Para chegar ao local, é possível pegar um barco que chega a Kilchberg pelo Lago de Zurich, que custa o preço da passagem convencional de trem, mais uma taxa de extensão. Sim, a fábrica fica em um vilarejo próximo, como uma região metropolitana. O passeio de barco, em si, já faz parte de experiência.
Olfato
O primeiro sentido que é despertado de cara, ao descer na cidadezinha, é o olfato. Ao respirar, as narinas se enchem de aroma de chocolate que é quase entorpecente. A fábrica fica bem perto do ancoradouro e se o faro humano fosse um pouco mais apurado, nem precisaria seguir as placas, tão grande a potência do cheiro.
Visão
Quando a gente chega à Casa do Chocolate, é a visão que dá o ar da graça. Somos recebidos, de cara, pela imensa fonte de chocolate de nove metros, que já virou símbolo da fábrica. A instalação fica no setor das bilheterias e ver aquele montão de chocolate – são 1.500 litros – escorrendo é, com o perdão da frase feita, de encher os olhos.
Audição
Bilhetes na mão, a gente escolhe um audioguia em um dos seis idiomas disponíveis: inglês, espanhol italiano, francês, alemão ou chinês. Sim, a má notícia é que ainda não há opção em português. É nessa etapa que a audição pede passagem, porque é por meio dela que as informações visuais de cada uma das salas se tornam completas. Dá para apenas ler e ver as instalações? Dá. É a mesma coisa? Não, não é. O volume de informações que ouvimos é tão grande que, confesso, saí mentalmente atordoada.
A visita começa em uma sala que trata da origem do cacau, com direito a árvores que nos transportam para os países onde a matéria-prima do chocolate são produzidos. A Bahia, aliás, está no meio dos produtores.
De lá, a parada é no espaço que fala do percurso do chocolate da cultura maia e asteca à Europa, onde chegou por meio dos espanhóis, ainda à época das grandes navegações.
Aqui, vale uma curiosidade: segundo informações do museu, o produto demorou um pouco a cair no gosto da elite europeia, mas quando isso aconteceu, não teve mais volta: o chocolate virou uma paixão, o que impeliu pesquisadores a investirem em novas consistências e processos de fabricação do produto.
E isso, na Casa do Chocolate, nos leva à sala dos suíços que ajudaram a criar a fama do chocolate do país, reconhecido por sua consistência cremosa e leve. Nomes como François-Louis Cailler, Philippe Suchar e Teodor Tobler, Daniel Peter e Henri Nestlé e, é claro, Rudolf Sprüglei e Rodolphe Lindt, precursores da Lindt.
Foi Lindt que inventou o método de fazer conchas de chocolate que revolucionou a textura e o sabor das barras de chocolate. Como não poderia deixar de ser, a Lindt tem mais uma sala dedicada à evolução da marca e das embalagens dos produtos até os dias de hoje.
Tato e paladar
Por fim, chega o momento que todos os chocólatras esperam: a sensação tátil da textura do chocolate ao tocar a língua e estimular todas as papilas gustativas. Depois de mergulhar na informação, é a hora de imergir na sala de provas.
Na primeira etapa, os visitantes podem se servir à vontade em torneiras de chocolate e provar, na forma pastosa, quatro tipos do produto. Aqui vale um parêntese: o cuidado com a higiene é grande, com limpeza constante e autorização para abaixar a máscara só no exato momento de levar a colher descartável à boca.
Na segunda parte das degustações – mais divertida, na minha opinião – a gente move manivelas para derrubar quadradinho de chocolate e é convidado a adivinhar quais as nuances de sabor daquele pedacinho. Spoiler: tem um de laranja que é bem fácil de identificar, mas paro por aqui para não acabar com a graça.
O percurso termina em uma sala onde estão disponíveis amostras de todos os bombons da linha Lindor, com sabores como coco, caramelo salgado, limão e os mais tradicionais, com aquela casquinha crocante e o recheio bem cremoso.
E você pensa que depois da visita, em si, acabou? Nada disso. Já do lado de fora, quem tem o ticket pode receber uma barrinha de chocolate surpresa em uma instalação que passa a impressão que o chocolatier está preparando a sua porção especialmente para você.
Tudo graças a painéis de led e da mais alta tecnologia de comunicação audiovisual. Aliás, o aspecto tecnológico e interativo de toda a Casa do Chocolate é parte fundamental para atiçar os cinco sentidos.
Na saída, ainda dá para passar na maior loja de produtos da Lindt do mundo, com 500 m², que, além dos produtos bem conhecidos aqui no Brasil, tem outros como pó para fazer mousse, mistura para chocolate quente e linha de chocolates veganos. A volta para o centro de Zurich, é claro, foi com alguns produtinhos na sacola e muitas lembranças de uma experiência, de fato, inesquecível.
Serviço:
Visita ao museu do chocolate - House of Chocolate Lindt.
Schokoladenplatz, 1 – 8802, Kilchberg, Suíça. De segunda a domingo.
Ingressos a CHF 15 para adultos (R$ 93, em média), CHF 10 para crianças de 8 a 15 anos (R$ 63, em média) e grátis para menores de 7 anos. Mais informações no site do museu.
Visita ao museu do chocolate - House of Chocolate Lindt.
Schokoladenplatz, 1 – 8802, Kilchberg, Suíça. De segunda a domingo.
Ingressos a CHF 15 para adultos (R$ 93, em média), CHF 10 para crianças de 8 a 15 anos (R$ 63, em média) e grátis para menores de 7 anos. Mais informações no site do museu.
*Além da visita ao museu, a Lindt também oferece experiências mais completas, como cursos de produção de chocolate onde é possível preparar a própria versão do chocolate.