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Manuseio e transporte são as principais causas para desperdício de alimentos
Falta de conhecimento no manejo, mal acondicionamento no transporte e estoque, embalagem mal pensada e controle de qualidade “muito rígido” foram algumas das causas apontadas para o desperdício de alimentos no Brasil. O painel “O impacto do desperdício na cadeia alimentícia” reuniu nove especialistas na Expo Trade, em Pinhais, na manhã desta terça (10) para a abertura da 37ª Merco Super – Feira e Convenção Paranaense de Supermercados.
“Em média, um terço da produção de frutas e hortaliças vai para o lixo. Esse dado da FAO [Organização da Onu pela Alimentação e Agricultura] tem cerca de dez anos e vemos que os hábitos mudaram desde então. Já não se fazem mais aquelas pirâmides de frutas e verduras na seção de hortifrúti”, exemplificou Elisangeles Souza, representante técnica da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), uma das palestrantes.
Em média, o Paraná produz 231 milhões de toneladas de frutas e hortaliças anualmente. “Se formos aplicar a média do desperdício, significaria 69,5 milhões de alimentos indo para o lixo todo ano no estado”, calculou Elisangeles.
Ela apontou que o maior desperdício se dá no manuseio e transporte das frutas, legumes e verduras: 50%. As duas pontas da cadeia — produção agrícola e supermercados/consumidores — são responsáveis por 10% cada, enquanto os 30% restantes são desperdiçados em distribuição e comercialização.
“Quem trabalha no controle de qualidade precisa saber que se as condições climáticas foram desfavoráveis, pode ser que a uva Itália venha amarelada e não tão verde. Nem sempre o padrão de aparência se mantém, mas outras qualidades, sim”, afirmou Elisangeles.
Outro problema apontado foi a embalagem de transporte, mal pensada para o mercado interno, segundo Tarcísio Menezes, professor e empresário da área de logística. “O carregamento de manga que sai de Petrolina para a Europa chega intacto, sem danificar as frutas. Muitas vezes a embalagem representa um custo maior no valor que o produto em si”, exemplificou Menezes.
Segundo o palestrante, a média é que 40% dos produtos (alimentícios ou não) são danificados por causa da embalagem, especialmente frutas e verduras, que são mais delicadas. “Outra questão é a demora para levar o produto do centro de distribuição para a loja: até descarregar, dar entrada no estoque, organizar e levar para a loja, tem empresa que leva quase quatro dias”, criticou.
Quem abriu o painel foi Carlos Eduardo dos Santos, da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (ABRAPPE), entidade recém-criada para atuar dentro de estabelecimentos de varejo e detectar problemas em logística, armazenagem e gestão. Ele traduziu o desperdício em números: segundo uma pesquisa aplicada em supermercados associados da APRAS em 2016, as avarias causadas no dia a dia com transporte e acondicionamento incorreto dos produtos (sejam eles alimentícios ou não) representam 44% do total. “Isso foi mais de R$ 3 bilhões em um ano”, frisou Santos.
Soluções contra o desperdício
Os especialistas concordaram que as soluções estão na maior integração das etapas da cadeia produtiva, como a capacitação do produtor agrícola para melhorar o manejo e colheita, mais agilidade no transporte do centro de distribuição para a loja, revisão dos processos internos para encontrar gargalos, capacitação dos funcionários, entre outros.
Porém ainda há questões pendentes que poderiam diminuir ainda mais o desperdício. “Precisamos ampliar o debate entre as partes da cadeia produtiva e reguladores do mercado para questões como a data de validade, que é uma indicação do melhor período para consumir o produto. Não é uma sentença de que ele estragará no dia imediatamente posterior à data que está no rótulo”, defendeu Alexandre Momesso, da Sanity Consultoria & Treinamento. Segundo Santos, da ABRAPPE, os produtos fora da validade (alimentícios ou não) representaram a perda de R$ 1,3 bilhão em vendas nos supermercados do Paraná em 2016.
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