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“A fome não é um problema técnico, mas puramente político”, critica Bela Gil
O mundo possui 7,5 bilhões de pessoas, mas toda a comida produzida seria suficiente para alimentar pelo menos nove bilhões de habitantes. Então, por que um terço do planeta passa fome? Foi este questionamento que conduziu praticamente toda a palestra da apresentadora e chef de cozinha natural Bela Gil no seminário FRU.TO, realizado no último final de semana em São Paulo.
O evento organizado pelo premiado chef Alex Atala, do restaurante D.O.M., teve como objetivo discutir o futuro da alimentação para a população mundial.

Bela Gil, que trabalha pela democratização do acesso à alimentação saudável, afirma que o mundo já produz comida mais do que o suficiente para toda a população do planeta. “Nós somos 7,5 bilhões de pessoas, mas produzimos comida para alimentar nove bilhões. Há um excedente de comida, mas ela não chega à mesa de todo mundo por causa de um problema de produção e distribuição, que são totalmente falhos”, diz.
Além de falhas na produção e na distribuição, Bela Gil afirma que há uma grande concentração de poder em poucas empresas no mundo, fazendo com que elas possam controlar tudo o que as pessoas consomem. Para a apresentadora, se estes poucos negócios realmente quisessem colocar comida na mesa de todos os brasileiros, ninguém passaria fome: “A fome não é um problema técnico, e sim um problema puramente político”.
Acesso à comida
Uma das bandeiras levantadas por ela é o acesso à alimentação saudável, principalmente do que é produzido perto de onde é consumido. Segundo Bela Gil, há um paradoxo na produção alimentar brasileira: a agricultura familiar é responsável por 70% do que chega às nossas mesas, mas em apenas 30% dos campos cultiváveis do país. “Enquanto isso, os outros 70% de terras são usados pelas grandes empresas alimentícias, que respondem por apenas 30% do consumo”, afirma a chef ao discutir as políticas públicas de alimentação.

Tanto ela como a empreendedora social curitibana Gabrielle Emily Mahamud acreditam que a conscientização sobre o futuro da alimentação deve começar cedo, e que o governo precisa fomentar isso. “Educação alimentar nas escolas e empresas, ações que incentivem e ensinem as pessoas a comer e cozinhar melhor em supermercados, medidas governamentais para limitar o açúcar e gordura, fomentar a conexão produtor e consumidor, entre outras, são medidas para a união da iniciativa pública e privada com o objetivo de mudar o panorama e criar uma cultura forte e sustentável sobre alimentação saudável”, explica a ativista.
Essa conscientização, segundo Bela Gil, só acontecerá quando o governo incentivar os programas de alimentação saudável e de acesso à cultura alimentar, não apenas para consumir, mas para entender a relação do homem com a comida: “Quando a gente pensa na comida só pelo prazer do paladar, é uma forma um pouco egoísta, afinal, é por causa dela que muita gente passa fome”. Ela diz que a alimentação é uma ferramenta de transformação política, econômica, social, nutricional e, acima de tudo, cultural, com a possibilidade de as pessoas poderem escolher o que consomem.
Bela Gil diz que “meu objetivo é fazer com que todos, um dia, possam ter a possibilidade de escolher o que comer”.