Eventos Bom Gourmet
Para exportar sua gastronomia, Brasil deve se inspirar na Itália, Japão e Peru
Josimar Melo traçou a via contrária para sua palestra no Mesa Tendências, ciclo de apresentações realizado no Semana Mesa SP, em São Paulo. Enquanto todas as falas foram sobre incorporar ingredientes e técnicas ao fazer gastronômico, o jornalista e crítico gastronômico fez uma apresentação na tarde desta sexta (27) sobre como o Brasil pode ser incorporado por outras culturas. “Sempre que comi algo brasileiro fora do Brasil precisei de colo. O resultado é exotismo ou feijoada com gosto de lata, dendê rançoso em moqueca”, disse.
Como exemplo de gastronomia “bem exportada”, o crítico apresentou os cases de ceviche (Peru), sushi (Japão) e pizza (Itália), com a ressalva de que muitas vezes esses pratos que dependem de poucos ingredientes são “corrompidos” pelo brasileiro e banalizados. “Sushi em churrascaria não valoriza nem o churrasco brasileiro, nem o prato japonês“, provocou.

Ele apresentou duas estratégias para que a gastronomia brasileira se torne mais presente lá fora. Uma delas é a exportação e promoção de ingredientes e não de pratos. “Deve ser algo simbólico e fácil de reproduzir. Farinhas de mandioca, tucupi, cachaça, polpa de frutas, chocolate e queijos são produtos que podem ser usados lá fora para remeter à nossa cozinha”, exemplificou. “Mas antes de o poder público abrir espaço no exterior, precisamos regulamentar esses produtos no Brasil. Enquanto não circular tucupi fora do Pará e queijos de leite cru por todo o Brasil, como vamos querer exportar nossa gastronomia?”, questionou.
A segunda proposição de Josimar é de consumidores e chefs fazerem sua parte pressionando e cobrando que se olhe para a gastronomia, como chefs e fornecedores do Peru fizeram no passado. E que os profissionais com projeção internacional “puxem junto” todos os outros e “deixem a vaidade de lado”, a exemplo do chef espanhol Ferran Adrià, que nos anos 1990 levava a tiracolo o já decano Juan Mari Arzak e chefs até então iniciantes para todos os eventos de gastronomia internacional.
“Ele fazia comitivas de 15 chefs de toda a Espanha viajarem com ele. Hoje 10% dos turistas que a Espanha recebe viajam com o objetivo de provar a gastronomia espanhola. Isso é mais que o total de turistas que o Brasil recebe”, comparou.
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